08/08/09

BADALADAS - TEXTO 35 - 7 AGO 2009

A 2ª INVASÃO FRANCESA (3)

ÀS ARMAS, PORTUGUESES, ÀS ARMAS!


JOSÉ NR ERMITÃO


No artigo anterior referi que os Governadores do Reino, perante a possibilidade de uma nova invasão, emitem nos dias 9 e 11 de Dezembro de 1808 duas proclamações declarando o levantamento em armas de toda a nação contra os franceses. Porque terá sido a única vez na nossa história que proclamações destas foram feitas – a nação estava em perigo! – Transcrevo-as parcialmente (grafia actualizada).

Proclamação de 9/12/1808:

“ (...) portugueses, não basta ter uma vez vencido; é necessário para conservar a Liberdade opor uma barreira irresistível aos novos esforços do insaciável Napoleão... (...)
Às armas, portugueses, às armas! A necessidade exige que a massa da nação em-punhe as armas; e todas as armas na mão robusta de um defensor da Pátria são instrumentos decisivos da vitória. O governo vigia sobre a subsistência dos exércitos; e onde não chegam os recursos ordinários das rendas públicas suprem os donativos dos vassalos... (...) A Inglaterra, a generosa Inglaterra... nos vem dar o exemplo que devemos imitar. (...) E nós, mais do que ela interessados na defesa da nossa independência, ficaremos agora numa mole e insensível apatia? (...)
Portugueses, contra um inimigo poderoso e vigilante não deve haver descuido. Se não quereis ser vis escravos, se não quereis ver ultrajada a santa religião, vilipendiada a vossa honra, insultadas as vossas mulheres, trespassados das baionetas os vossos inocentes filhos e aniquilada para sempre a glória de Portugal, corramos todos a afrontar-nos com o inimigo comum, unamos as nossas armas às dos honrados espanhóis e às dos intrépidos ingleses... A Nação que quer ser livre nenhuma força a pode tornar escrava. Uma Nação levantada em massa tem uma força irresistível. (...).”

Proclamação de 11/12/1808
“ (...) que toda a Nação Portuguesa se arme pelo modo que a cada um for possível: que todos os homens, sem excepção de pessoa ou classe, tenham uma espingarda ou pique com ponta de ferro... e (se arme) de todas as demais armas que as suas possibilidades permitirem. Que todas as cidades, vilas e povoações consideráveis se fortifiquem tapando as entradas e ruas principais com dois, três ou mais traveses para que, reunindo-se aos seus habitantes todos os moradores dos lugares, aldeias e casais vizinhos, se defendam ali vigorosamente quando o inimigo se apresente; (...)
Que todas as Câmaras... remetam no espaço de oito dias... (ao) Governador de Armas da respectiva província, uma relação das pessoas que... forem mais capazes para as comandar... que todos os Generais encarregados dos Governos das Armas (regiões militares)... examinem o estado das Companhias, nomeiem para oficiais delas... (quem) julgarem mais dignas e capazes..; (...)
Que todas as Companhias se reúnam nas suas povoações todos os domingos e dias santos para se exercitaram no exercício das armas que tiverem e nas evoluções militares, compreendendo todos os homens de quinze até sessenta anos. (...)”

E termina ordenando a pena de morte a quem se recusar à defesa do país ou auxilie o inimigo, e o arrasamento das povoações que não se defendam ou colaborem com o inimigo.
Como também foi referido no anterior artigo, a situação do exército era péssima. E a correspondência do general Bernardim Freire, tanto revela essa situação como a vontade popular em resistir e em se defender: “De toda a parte se queixam de falta de munições e de meios de defesa... (...) entretanto o que dá muitas esperanças é o muito que os povos parecem animados a defender a nossa causa”; “a cada passo me lastimo do estado em que se acha a nossa tropa, armada... com chuços e espingardas sem baionetas...sem oficiais capazes de as comandar”. Mas “anima muito observar a boa vontade que o povo em geral mostra em se defender e que resiste a todas as privações...”.
Faltam armas, munições e organização, haverá mesmo momentos de anarquia que inutilizam o valor da intervenção popular – mas é com um exército onde o elemento popular (milícias e ordenanças), militarmente enquadrado, supera a tropa regular que se vai organizar a tenaz e vitoriosa resistência contra os invasores.


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