22/06/09

FRENTE OESTE - Texto 21 - 25 JUNHO 2009






UM TÚMULO NO MEIO DA PAISAGEM
J. Moedas Duarte (texto e fotos)

Quem visitar os campos da Roliça – concelho de Óbidos – onde, em 17 de Agosto de 1808, se deu a batalha entre os aliados anglo-lusos e os franceses, encontrará um monumento tumular no meio dos pomares de macieiras, tão característicos da região. Impressionante monumento! Não pela grandeza ou adornos funerários, que não tem, mas pela localização solitária e o poder evocativo da sua simplicidade. Ali repousam os restos mortais do coronel Lake, comandante do 29º regimento inglês.
Recordemos: naquele 17 de Agosto o general francês Delaborde - que esperava reforços do general Loison - dispusera as suas tropas nos campos da Roliça, para fazer frente ao exército inglês de Sir Arthur Wellesley, no qual se haviam integrado algumas forças portuguesas. Loison tardava e as tropas aliadas, aproveitando a superioridade numérica, desencadearam o ataque. Delaborde faz uma retirada estratégica para os altos da Columbeira, uma formidável fortaleza natural formada pelos afloramentos rochosos que dominam o Vale do Roto, ainda hoje um lugar de paisagem magnífica. Os ingleses têm agora de desalojar daqueles picos (Alto do Picoto…) o entrincheirado inimigo, mas o êxito só é possível com uma manobra de envolvimento, “em tenaz”. Aos flanqueadores pede-se rapidez na manobra, enquanto os do centro progridem lentamente pelas ravinas acima.
É aqui que o impaciente coronel Lake, no centro do dispositivo inglês, decide um rápido ataque frontal à cumeada onde os franceses dispõem de uma invejável posição defensiva. Mais do que valentia, é temeridade que ele demonstra. Rodeados de inimigos, os homens do 29º defendem-se como leões mas são obrigados a recuar. No terreno jazem 50 mortos, entre os quais o seu comandante Lake, que ali serão inumados após a batalha.
Noventa anos depois destes acontecimentos, o 29º regimento pára em Portugal, na viagem de regresso a Inglaterra depois da Guerra dos Bóeres na África do Sul. Fiel à tradição, o regimento visita a Roliça para homenagear os seus antepassados mortos. Fazem-se escavações. Pelos despojos encontrados, são reconhecidos os restos mortais do lendário coronel Lake que emocionadamente depositam no singelo túmulo que ali constroem.
No silêncio da paisagem este monumento, mais do que lembrar um nome, perpetua a memória de tantos soldados desconhecidos que aqui se bateram na Guerra Peninsular.


15/06/09

FRENTE OESTE - Texto 20 - 18 JUNHO 2009





[ Batalha do Vimeiro. Água-forte de Domingo Escoppetta, Biblioteca Nacional Digital de Portugal]





BATALHA DO VIMEIRO


Pedro Fiéis



Após a vitória na Roliça, em 17 DE Agosto de 1808, Sir Arthur Wellesley espera reforços vindos de Inglaterra e procura local apropriado para o seu desembarque. Opta por Porto Novo, na foz do Alcabrichel e prepara um dispositivo militar de protecção.
Junot, aquartelado em Torres Vedras, ao tomar conhecimento do desembarque, decide em conselho de guerra lançar as suas forças disponíveis – cerca de 14 000 homens – num ataque de surpresa. A estrada escolhida, por Vale de Canas e Vila Facaia, está em péssimas condições, dificultando a marcha. A ponte de madeira em Paio Correia mais a dificulta e as patrulhas inglesas logo se dão conta desta imensa movimentação. Avisado, o general Wellesley modifica o seu dispositivo, reforçando a colina do Vimeiro e deslocando forças para o Alto da Ventosa.
As tropas de Junot estavam bastante cansadas e desgastadas por combates recentes, como o da Roliça, dias antes. Mesmo assim, ele manda avançar os generais Travot, Charlot e Tomières que encabeçam o ataque de três colunas em direcção à colina do Vimeiro. Solignac avançaria por Toledo em direcção à Ventosa, numa tentativa de contornar o dispositivo inglês e Brennier iria mais ainda pela ala direita seguindo pela estrada da Lourinhã até virar para Pregança.
Á sua frente, dispersa no terreno, estava a infantaria ligeira inglesa com seus atiradores, que os franceses não conseguiram expulsar das suas posições. Só com a chegada das colunas é que retiraram. De súbito, no topo da colina surgiram as linhas inglesas que a uma distância de 20 passos dispararam um fogo mortal, coadjuvado pela chuva de balas proporcionada pelas granadas Shrapnel, acabando com este ataque em pouco mais de meia hora.
Desorganizadas, as colunas francesas dispersam-se em fuga. Junot ordena, então, o avanço de metade da reserva de granadeiros, as suas melhores unidades. Estes sobem a encosta, mas são recebidos por um fogo mortal dos ingleses, formados em linha. Com perdas enormes, os franceses retiram.
A outra metade da reserva de granadeiros franceses ainda organiza um contra-ataque, chegando ao largo da igreja matriz do Vimeiro. Mas aí são surpreendidos pelas tropas de reserva inglesas e trava-se intenso combate, com a derrota francesa.
Mais longe, na Ventosa, o general francês Solignac é também derrotado, ele próprio saindo ferido da refrega.
Todas as forças francesas participantes na Batalha do Vimeiro, derrotadas, estavam agora em fuga desorganizada de volta a Torres Vedras. Isto aconteceu em 21 de Agosto de 1808.


FRENTE OESTE - Texto 19 - 4 JUNHO 2009



FIGURAS HISTÓRICAS


D. CARLOTA JOAQUINA

Maria Guilhermina Pacheco



Carlota Joaquina de Bourbon e Bragança nasceu no Palácio de Aranjuez em Madrid, a 25 de Abril de 1775. Era filha do futuro rei Carlos IV de Espanha e de Maria Luísa Teresa de Parma.
Aos 10 anos de idade casou por procuração com o Infante português D. João, filho segundo da rainha D. Maria I, tendo vindo viver para a Corte Portuguesa.
Teve que se submeter aos chamados “ exames públicos”, e durante três dias, perante a família real e uma parte da Corte, respondeu a perguntas sobre religião, história, geografia, latim, gramática e línguas - Portuguesa, Espanhola e Francesa - tendo ficado registado na Gazeta de Lisboa (4-10-1785), que ”Sereníssima Senhora” tudo satisfez, e salienta ser difícil de “expressar a admiração que deve causar uma instrução tão vasta em uma idade tão tenra.”
O casamento só se veio a concretizar alguns anos depois, mas o relacionamento do casal não foi bem sucedido, nem a nível pessoal nem político, no entanto, a princesa seria mãe de nove filhos, como era hábito dizer na altura.
Entretanto, Carlota Joaquina adquire a Quinta do Ramalhão, à entrada de Sintra, onde viverá, separada do marido.
Entre os anos de 1805 e 1806, a relação esfriou mais, tendo para isso contribuído a chamada “Conspiração de Mafra”, cuja autoria é atribuída à princesa. A causa relaciona-se com a atribuição do título de regente a D. João, devido à doença de D. Maria, não tendo convidado Carlota para integrar o Conselho de Regência – esta não gostou.
A necessidade de viajar para o Brasil, devido à invasão das tropas francesas, no final de Novembro de 1807, veio agudizar as relações do casal.
No Brasil, a sua estadia, como toda a sua vida, apresenta versões diferentes, mas há uma característica comum, a sua tendência para a conspiração. Aqui, será para se tornar regente nas colónias espanholas, na América.
No entanto, não se concretizou, e Espanha veio a perder neste período a maior parte das suas colónias. Também se assumiu como pretendente ao trono de Espanha, por direito, era a primogénita, mas o seu pai abdicara a favor de seu irmão Fernando, que sobe ao trono como Fernando VII.
A vida do casal real, no Brasil desenvolve-se em espaços diferentes, Carlota habitará na Chácara de Botafogo e João em São Cristóvão.
Chegada a Lisboa, novamente a sua faceta politica e conspiratória continua, tornando-se uma das grandes impulsionadoras da contra-revolução, recusando-se a jurar a Constituição de 1822, tendo sofrido por isso uma condenação, ficando, no entanto, autorizada a viver no Ramalhão. Continua a conspirar contra o marido e os liberais, participando na “Vila-francada” e na “Abrilada”, golpes fracassados, mas que abriram o caminho para o torno ao seu filho D. Miguel.
Carlota Joaquina morreu no dia 7 de Janeiro de 1830.

“Em uma retrospectiva de sua vida, Carlota Joaquina poderia chegar à conclusão de que seu temperamento independente, sua personalidade autoritária, sua negação à submissão foram seus maiores obstáculos para vencer no mundo dos homens.”(AZEVEDO, Francisca L. Nogueira de, Carlota Joaquina na Corte do Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.)

BADALADAS TEXTO 32 - 12 JUNHO 2009

1809: SEGUNDA INVASÃO FRANCESA

Cronologia dos principais acontecimentos

Janeiro, 28 – O marechal francês Soult, na cidade galega da Corunha, recebe instruções escritas de Napoleão para que marche pelo Porto sobre Lisboa, ao longo da faixa costeira.

Fevereiro, 13 – O exército de Soult tenta atravessar o rio Minho em Vila Nova de Cerveira.

Fevereiro, 16 - O exército francês tenta nova travessia do Minho em Caminha, na foz do rio.

Março, 7 - O general Wellesley, futuro duque de Wellington, aconselha o governo britânico a defender Portugal, demonstrando a maneira de o realizar.

Março, 8 - O general britânico Beresford é nomeado comandante em chefe do Exército português com o posto de Marechal do Exército.

Março, 10 - O corpo de exército de Soult, tendo subido o rio Minho desde a foz até Orense e dirigindo-se depois para a fronteira portuguesa, entra em Portugal pela veiga de Chaves. Começa assim a 2.ª Invasão Francesa.

Março, 12 - Soult conquista Chaves, dirigindo-se para o Porto, por Braga.

Março, 15 - O marechal Beresford assume o comando do exército português.

Março, 16 - A guarda avançada do corpo de exército de Soult, comandada pelo general Franceschi, derrota as forças portuguesas em Salamonde.

Março, 17 - O general Bernardim Freire de Andrade é massacrado perto de Braga, por populares que o acusavam de traição.

Março, 18 a 20 - Soult vence as forças portuguesas que defendiam Braga em Carvalho d'Este.

Março, 21 - O brigadeiro Silveira, comandante da divisão que defendia Trás-os-Montes, reocupa Chaves.

Março, 25 - O brigadeiro Silveira conquista o forte de S. Francisco, de Chaves, aprisionando a guarnição francesa.

Março, 27 a 29 - O Porto é atacado, conquistado e saqueado, pelo exército francês de Soult. Desastre da Ponte das Barcas, no dia 29.

Março, 31 - Uma brigada de cavalaria do exército de Soult, comandada pelo general Caulaincourt, ocupa Penafiel, dirigindo-se para a ponte de Canaveses que tenta atravessar, sendo rechaçado por forças militares portuguesas.

Abril, 2 - Wellesley é nomeado comandante-em-chefe do exército britânico na Península.

Abril, 5 - O general José António Botelho de Sousa, comandante das forças portuguesas no Minho, reocupa Braga.

Abril, 9 - O general Silveira instala as suas forças nas proximidades de Amarante.
- O marechal Beresford chega a Tomar, onde toma o comando das forças operacionais portuguesas concentradas nesta cidade.

Abril, 13 - Silveira ataca e obriga a retirar a divisão Loison, reocupando a cidade de Penafiel. Retirar-se-á por sua vez no dia 15.

Abril, 18 / Maio 2 - As forças portuguesas do general Silveira defendem a ponte de Amarante do ataque de uma força francesa comandada pelo general Loison.

Abril, 21 - Assinatura da Convenção entre Portugal e a Grã-Bretanha, sobre um empréstimo de 6.000.000 libras esterlinas.

Abril, 27 - Wellesley toma o comando do exército britânico em Portugal, substituindo sir John Craddock.

Maio, 2 - O exército britânico, comandado pelo general Wellesley, incorporando algumas unidades portuguesas, chega a Coimbra.
- Forças do exército francês comandadas pelo general Delaborde atacam a Ponte de Amarante e obrigam as forças do brigadeiro Silveira a retirar. A defesa da Ponte de Amarante durou de 18 de Abril a 2 de Maio.

Maio, 4 - O general Wellington é nomeado marechal general do exército português, por Carta Régia.

Maio, 8 - O exército português comandado por Beresford chega a Lamego, vindo de Tomar por Coimbra e Viseu.
- As forças comandadas pelo general Silveira ocupam Vila Real, obrigando a cavalaria francesa de Caulaincourt a retirar.

Maio, 12 - As forças de Silveira ataca a divisão Loison na serra do Marão, obrigando-a a retirar para Amarante.
- Wellington bate Soult no Porto, obrigando-o a retirar para Espanha por Trás-os-Montes.

Maio, 13 -- Loison retira de Amarante, impossibilitando que o exército francês de Soult pudesse vir a retirar de Portugal pela Beira.
- O marechal Beresford chega a Amarante. O exército português de operações é reorganizado em 3 brigadas de Infantaria de Linha, 1 de Milícias e 1 de Caçadores. A brigada de Silveira ocupa Penafiel.

Maio, 18 - O exército francês de Soult abandona Portugal por Montalegre. A 2.ª Invasão Francesa termina.

06/06/09

A GUERRA PENINSULAR


Trata-se das Actas do Congresso TURRES VETERAS XI, realizado em Torres Vedras em 2008 e publicadas em 2009. Comunicações: (clicar para aumentar )

















04/06/09

BADALADAS - Texto 31 - 29 MAIO 2009

A “PROTECÇÃO BRITÂNICA”


DUAS CARTAS DE LORD WELLINGTON


José NR Ermitão


As grandes potências não têm amizades, têm interesses; e quando invocam amizades ou alianças, fazem-no sempre em seu favor e pagando-se bem. Foi o que aconteceu entre a Grã-Bretanha e Portugal no século XIX. A Inglaterra protegeu-nos, é um facto, da ameaça napoleónica – protecção reconhecida “pela confiança que o príncipe regente tem posto... (na) cooperação do governo do reino e do povo daquele país”, segundo o discurso da Coroa ao Parlamento inglês em Janeiro de 1810.
Mas esta protecção teve custos elevadíssimos: a abertura do comércio brasileiro à Inglaterra e a subsequente ruína do comércio português, a utilização do país como testa de ponte pelos britânicos na luta contra Napoleão, a participação do representante inglês na regência do país, a submissão desta e do governo do Rio aos ditames ingleses e o comportamento violento dos militares britânicos.
Escreveu Napier que “Este reino foi por então reduzido à condição de estado feudatário (dependente)”. E acrescentava Luz Soriano que Portugal “sofria por então todos os males inerentes a uma semelhante situação, porque depois de roubado e devastado pelos franceses, igualmente o estava sendo pelos ingleses”.
Em artigo anterior já se referiu que os ingleses se comportavam no nosso país co-mo se tratasse de terra conquistada: eram constantes as queixas sobre os seus roubos. Mas as violências também eram cometidas por oficiais: é conhecido o caso de um coronel, em Monforte, que mantinha um cárcere privado e que, à revelia da justiça portuguesa, mandou chicotear publicamente dois paisanos, amarrados a quatro estacas...

Preocupado com o comportamento violento dos militares ingleses, escreveu Wellington em 17/6/1809 a Lord Castlereagh, membro do governo inglês:
«É impossível pintar-vos os excessos e violências das tropas (britânicas). (...) jamais elas têm estado fora da vigilância dos comandantes dos seus regimentos... a fim de impedir as violências cometidas. Pois apesar das precauções por mim tomadas... não chega postilhão nem correio, nem mesmo um só oficial vindo da retaguarda do exército, que não traga queixas contra as violências cometidas pelos soldados... (...) a nenhum destacamento permito que marche sem ser comandado por um oficial, e todavia não há violências, seja de que espécie for, que não tenha experimentado este povo, que nos recebeu como amigos, da parte dos nossos soldados, apesar destes não terem sofrido em qualquer momento a mais ligeira precisão ou privação.»
Já antes, a 31 de Maio de 1809, numa carta ao representante do seu país em Lisboa, reconhecia que os militares ingleses “roubavam terrivelmente o país que tinham vindo socorrer”, roubando não para sobreviver mas para fazer dinheiro; e pedia que os governadores do reino emitissem uma ordem proibindo o povo de comprar o quer que fosse aos militares ingleses porque certamente se tratava de produtos roubados.

E a propósito de facto de o governo britânico estar a apresentar aos espanhóis as mesmas exigências comerciais feitas antes ao governo português, Wellington, em carta a seu irmão, datada de 10/08/1810, analisava a ruinosa situação a que o seu país tinha conduzido Portugal e interrogava-se sobre a justiça do facto:
“Espero que a regência (espanhola) tenha a firmeza de resistir à (nossa) exigência de comércio livre com as suas colónias... Nós não temos... direito... da nossa parte em exigir isso. A Grã-Bretanha arruinou Portugal com o seu comércio livre com o Brasil: não só Portugal perdeu rendimentos alfandegários, como a fortuna de numerosas pessoas que viviam desse comércio ficou arruinada... Portugal estaria hoje numa situação muito diferente como aliado se o nosso comércio com o Brasil fosse feito como antes, através de Lisboa; e eu pergunto se é justo destruir o poder e rendimentos, em suma, arruinar o nosso aliado, só para pôr nos bolsos dos nossos comerciantes o dinheiro que antes ia para o seu tesouro e que, agora, seria empregado na manutenção da campanha militar contra o nosso comum inimigo”.
Não é preciso acrescentar nem mais uma palavra ao que Wellington escreveu...



FRENTE OESTE - Texto 18 - 4 JUNHO 2009

Foi nestes campos da Roliça, no concelho de Óbidos, que se desencadearam as operações militares entre o exército francês e as forças anglo-lusas.








A BATALHA DA ROLIÇA

Pedro Fiéis

Junot está em Lisboa quando recebe a notícia do desembarque dos ingleses em Lavos (Figueira da Foz) entre 1 e 8 de Agosto de 1808, os quais marchavam já rapidamente em direcção a Lisboa, sob o comando do General Wellesley. Junot decide fazer avançar a sua melhor divisão militar, sob o comando do Gen. Delaborde, com a missão de observar os movimentos do inimigo e se possível de contê-lo. Delaborde avança até Alcobaça onde lhe mostram o campo de batalha de Aljubarrota, julgado por ele como ineficaz para a guerra do século XIX, por isso retrocede para uma zona que já observara e que os mapas recolhidos pelo coronel Vincent lhe diziam ser perfeita para o que tinha em mente: os campos da Roliça, perto de Óbidos. Neste meio-termo as nuvens de pó levantadas pelos seus homens eram claramente visíveis para os ingleses, que apenas algumas horas depois entraram em Alcobaça. A presença francesa só confirmava os relatos que o general Wellesley já havia recebido e por isso resolve tomar precauções, enviando à frente do seu exército os regimentos de infantaria ligeira, em missão de observação.
No dia 15 de Agosto de 1808, estes homens encontram pela primeira vez os franceses em Brilos, mas só dois dias depois, na madrugada do dia 17, é que do alto do Moinho do Facho, em Óbidos, Wellesley observa uma linha francesa disposta numa colina. Rapidamente organiza um plano de batalha que consistia numa manobra em tenaz: pela direita avançaria o coronel Trant com cerca de 2.000 soldados portugueses, entre infantaria e cavalaria; pela direita os generais Ferguson e Bowes com duas brigadas e um reforço de artilharia; os restantes homens (3 brigadas) seguiam ao centro sob o comando do próprio Wellesley.
Não era aqui que Delaborde queria resistir, pois estava em inferioridade numérica e esperava reforços do General Loison. Por isso recua até aos Altos da Columbeira, uma verdadeira fortaleza natural. Wellesley tem de reorganizar o ataque inglês, adaptando-o ao terreno. O coronel George Lake, homem desejoso de notoriedade, apesar das determinações do comando, colocou todos os seus homens em linha e avançou por uma das ravinas acima. Ainda chegaram bem perto do topo, só um rápido contra ataque francês, comandado pelo general Brennier, pôs cobro a este avanço, do qual resultaram cerca de 50 mortos entre os quais se encontrava o próprio Lake. .
Perante isto, Wellesley ordenou um avanço geral. Delaborde, sem o esperado reforço de Loison, e perante a iminência de ser cercado, ordena a retirada. Depois de algumas escaramuças, é a debandada geral. Wellesley, prudente como sempre, prefere reorganizar as suas forças e só alguns dias depois voltará a defrontar os franceses, no Vimeiro.

FRENTE OESTE - Texto17 - 28 MAIO 2009





LAURA PERMON, A MULHER DO GENERAL JUNOT

J. Moedas Duarte



No ano 1800 Laura Permon, com dezasseis anos, casou com Andoche Junot. Dele enviuvou em 1813. Sobreviveu 25 anos, vindo a morrer em Paris, muito pobre. Porque é que o seu nome é recordado sempre que se fala na Guerra Peninsular?
Com a ascensão de Napoleão ao título de Imperador de França, a velha nobreza do Antigo Regime afundou-se e surgiu uma casta social formada pelos novos funcionários superiores do Estado e por centenas de oficiais militares do Grande Exército e respectivas famílias. Junot foi um exemplo brilhante deste novo tipo de militar. Laura Permon partilhou a sua ascensão, frequentou os salões do poder, acompanhou o marido em muitas das suas missões e de tudo o que viveu e conheceu deixou testemunho escrito. As suas memórias fazem parte de uma obra extensa – cerca de 50 volumes à data da morte, em 1838 – e são de leitura obrigatória para quem queira conhecer a vida mundana da alta sociedade desta época.
Em Março de 1805 Junot foi colocado em Lisboa como embaixador de França em Portugal e sua mulher acompanhou-o. Desta estada deixou ela pormenorizado testemunho em texto disponível em português numa edição recente (2008) da Biblioteca Nacional, com apresentação e notas de José-Augusto França: “Recordações de uma Estada em Portugal, 1805-1806”, que Laura Permon assinou como “Duquesa de Abrantes”, usando o título nobiliárquico atribuído por Napoleão a seu marido.
Como todas as memórias, o conteúdo deste escrito não tem o rigor e a credibilidade de um ensaio de História e deve ser lido com precaução e reserva, cruzando os dados que nos fornece com outros de proveniência diversa.
Ainda assim, o quadro que traçou sobre o Portugal que ela conheceu revela uma atenta e informada observadora, que em muitos aspectos corrobora as descrições de outros estrangeiros que aqui viveram por esta época. Se não poupa adjectivos elogiosos às belezas naturais e à excelência do clima, aplica registo bem contrário quando fala das pessoas e dos costumes. A Corte portuguesa, com sua pelintrice e fatuidade, sai muito maltratada da pena da Duquesa, que não resiste a compará-la com a alta sociedade europeia que ela já conhecia.

“Viajei muito, percorri o Norte e o Sul da Europa, e jamais uma cidade tão estranha, mas tão notável e também tão bonita como Lisboa, se deparou a meus olhos; jamais um céu tão lindo lançou a sua luz sobre ma cidade rodeada por uma natureza que a cumula de maravilhas; mas também jamais, em parte alguma, vi antas dádivas de Deus desprezadas e sacrificadas.”
(…)
“Estas damas do palácio (…) estavam sempre, tal como as vi, sentadas no chão em volta da Princesa [D. Carlota Joaquina] com a qual conversavam, cantavam, comiam, ou então prestavam mutuamente serviço, matando os pequenos insectos que alimentavam na própria cabeça. Mais uma vez não é um conto, EU VI!”

FRENTE OESTE - Texto16 - 21 MAIO 2009





O GENERAL JUNOT



J. Moedas Duarte



Este foi o homem de Napoleão que mais contacto teve com Portugal durante a guerra peninsular: embaixador de França no nosso país em 1805, comandante da 1ª Invasão Francesa em 1807 e comandante do 8º Corpo do Exército de Portugal na 3ª Invasão, sob o Comandante-em-chefe Massena.
Filho de um lavrador da Borgonha, Andoche Junot era estudante de Direito quando se alistou como soldado granadeiro num batalhão de voluntários da Côte d’Or , em 1791. Tinha 20 anos. Fogoso e temerário, - os colegas alcunharam-no de “Junot la Tampête” ( A tempestade) – em 1792 já era Sargento. Participou no cerco de Toulon e de tal modo que Napoleão reparou nele e fê-lo seu secretário e, pouco depois, seu ajudante-de-campo com o posto de Capitão. Ao lado de Napoleão, fez toda a campanha da Itália, onde foi gravemente ferido. Em 1798 foi promovido a General de Brigada durante a expedição ao Egipto. Governador de Paris em 1800, é nomeado General de Divisão em 1804 e Coronel-General dos Hussardos, uma das maiores dignidades do exército napoleónico.
A sua nomeação para Embaixador de França em Portugal, em 1805, parece ter sido uma compensação por não chegar a Marechal, posto supremo da carreira militar. Pouco tempo aqui ficou pois ainda neste ano acompanha o Imperador na campanha da Alemanha, onde participou na batalha de Austerlitz. Em 1806 passa alguns meses como Governador-Geral de Parma e é, de novo, nomeado Governador Militar de Paris.
Quando Napoleão decide invadir Portugal em consequência do Bloqueio Continental, é a Junot que confia o comando do Corpo de Observação da Gironda, um exército de cerca de 26 000 homens que atravessa a Espanha e entra no nosso território em 19 de Novembro de 1807. Em 30 de Novembro chega a Lisboa à frente de um pequeno destacamento pois o grosso do seu exército ficara para trás, atolado por tempestades diluvianas em caminhos intransitáveis. Não consegue aprisionar a família real portuguesa, que se escapara um dia antes para o Brasil, mas ocupa como vencedor um país decapitado das suas chefias naturais. Em 1808 é feito Duque de Abrantes. As revoltas populares a partir de Maio de 1808 prenunciam as derrotas militares na Roliça e no Vimeiro, em Agosto desse ano. Pela Convenção de Sintra abandona Portugal. Em 1809 é comandante do Exército de Reserva da Alemanha. Em 1810 entra de novo em Portugal durante a 3ª Invasão, à frente do 8 º Corpo do exército comandado por Massena. Em 1812 participa na invasão da Rússia como Comandante do 2º Corpo do Grande Exército francês. Começa aqui a sua decadência. Ainda é nomeado Governador de Veneza mas notam-se já os sinais de loucura que acabarão por levá-lo ao suicídio, em 1813. Tinha 42 anos.

FRENTE OESTE - Texto 15 - 14 MAIO 2009






MOINHO DE BRILOS: O PRIMEIRO COMBATE


Pedro Fiéis


O primeiro confronto entre ingleses e franceses no que ficou conhecido como Guerra Peninsular, ocorre em território português, mas a sua localização exacta esteve desde sempre envolta em algum mistério, decorrente do nome dado à escaramuça – “Brilos”.
Surgiram em dois séculos de História as mais variadas teorias sobre o local, umas mais fundamentadas do que outras, tendo a maioria apenas um aspecto em comum: a existência de um moinho. Recapitule-se entretanto o desenrolar dos acontecimentos, para uma melhor compreensão do mesmo.
No dia 14 de Agosto de 1808, o exército anglo-português chega a Alcobaça onde pernoita. No dia seguinte, o general Wellesley, sabendo que os franceses se encontravam na zona das Caldas da Rainha, ordenou o avanço de duas companhias do 60º regimento e outras duas do 95º, unidades de atiradores de elite, que deveriam reconhecer o terreno.
Por seu turno o general Delaborde que comandava a primeira divisão do Armée du Portugal, enviada ao seu encontro, havia destacado seis companhias para um moinho numa elevação perto de um curso de água, com o objectivo de vigiar a estrada que ligava Caldas a Óbidos.
Os ingleses surpreendem o inimigo, forçando-o a recuar e iniciam uma perseguição que só termina junto às muralhas de Óbidos, quando outras companhias francesas se juntam à refrega. Há um intenso fogo cruzado, que ali causa 27 mortos e feridos entre os ingleses, incluindo 2 oficiais. Só com a chegada da brigada do general Spencer os franceses abandonam a sua posição, terminando por esse dia os combates.
Para mais detalhes temos que consultar autores como Oman, por exemplo, que nos refere os três factores que devem orientar a busca: - Uma elevação com um moinho; - Uma linha de água, mas excluindo o Rio Real; - A existência de uma estrada real. Os autores portugueses da época seguem todos a descrição dos ingleses, não mudando sequer o nome, daí os mapas não ajudarem muito.
Apesar disso, pode-se excluir desde logo os moinhos mais próximos da vila de Óbidos, nomeadamente o do “Facho”, situado na ponta Sul da vila e o dos “Arrifes”, a Leste, apontado pela tradição popular como o palco dos eventos, mas longe da estrada e de um curso de água.
Uma Carta Topográfica do Reino de 1867 e o Atlas de James Wyld de 1840, são os elementos finais a consultar antes de uma ida ao terreno. No segundo documento, este primeiro confronto é colocado a meio caminho, entre as duas localidades já citadas e no primeiro podemos constatar a existência de uma estrada real que partindo por detrás do actual quartel militar, nas Caldas, segue em linha recta pelo vale e passa pelo Bairro de Nossa Senhora da Luz e pela Ermida de Santo Antão, desembocando junto às muralhas a Norte de Óbidos.
Esta é uma estrada que ainda existe nos nossos dias, seguindo um percurso paralelo à actual nacional e o Bairro é uma localidade muito antiga, na época pouco povoada, mas já contando com uma igreja, defronte da qual existe numa colina e perto de um curso de água, um moinho.
Reside então aqui a chave para a resolução do problema, uma vez que todos os factores já descritos se conjugam e se hoje em dia a vista se encontra um pouco obstruída, os habitantes locais mais idosos ainda se lembram de duas condicionantes muito importantes e que eram ainda uma realidade na primeira metade do século XX.
A primeira eram os pântanos que existiam na zona, ou seja, ninguém se aventurava para muito longe dos caminhos conhecidos e a segunda era a vista nítida para a saída Sul das Caldas da Rainha.
Por tudo isto o Bairro da Senhora da Luz, perto de Óbidos, configura-se como a hipótese mais provável para a localização de “Brilos”, evento de pouco relevo na época, mas de grande importância para quem hoje em dia estuda a época.

FRENTE OESTE - Texto 14 - 7 MAIO 2009



Encontro internacional nos dias 15 e 16 de Maio

HISTÓRIA DAS LINHAS DE TORRES VEDRAS


É o número XII do encontro anual de História Local, TURRES VETERAS, uma organização da Câmara Municipal de Torres Vedras em parceria com o Instituto Alexandre Herculano da Faculdade de Letras de Lisboa e que conta com uma muito significativa lista de participantes, especialistas nesta área de estudos. As inscrições estão abertas no Arquivo Municipal, o que permitirá receber uma pasta de apoio mas as sessões são abertas ao público em geral.
Programa
15 de Maio
10.00 – Cerimónia de inauguração
10.30 – “Enfrentar as Linhas. Testemunhos franceses sobre uma barreira intransponível” António Ventura, Fac. Letras de Lisboa.
11.00 – “(Re)Construções da memória: as Linhas de Torres em narrativas britânicas” Maria Gabriela Gândara Terenas, Univ. Nova de Lisboa.
11.30 – “Writing Portugal: Robert Southey’s Peninsular Imagination, 1808-1814” Diego Saglia, Univ. Parma.
12.00 – Debate 13.00 – Almoço
15.00 – “O exército de Portugal: a presença francesa face às Linhas de Torres Vedras” Ana Cristina Clímaco, Univ. de Paris VII
15.30 – “Identidade das Linhas de Torres Vedras” Francisco de Sousa Lobo, Assoc. dos Amigos dos Castelos.
16.00 – “População e família em Torres Vedras durante a Guerra Peninsular: a freguesia de Santa Maria do Castelo” Venerando Aspra de Matos, Esc. Sec. Henriques Nogueira.
16.30 – Intervalo
17.00 – Debate
17.30 – “A construção das Linhas de Torres Vedras” André V. Melícias, Museu Municipal do Cadaval
18.00 – “Produtos e preços em Torres Vedras durante a Guerra Peninsular” Henrique Vieira, Esc. Sec. Tomás Cabreira.
18.30 – “Chegaram os franceses: a chegada de Junot e o impacto da 1ª Invasão francesa na Beira Baixa” Nuno Pousinho, Agrup. Escolas J.N.C.Sobral
19.00 – “Da foz do Mondego a Torres Vedras, passando por Mesão Frio, Olhão e Évora” Manuel do Amaral, Instit. Superior de Novas Profissões.
19.30 - Debate
16 de Maio
09.00 – Visita: Linhas de Torres Vedras 13.00 – Almoço
15.00 – “Massena’s french army before the Lines of Torres Vedras, 1810-1811” Donald D. Horword, Florida State University.
15.30 – “El Coronel Sir Robert Wilson en Portugal através de su correspondencia(1808-1809”) Alicia Laspra, Univers. de Oviedo
16.00 – Debate 16.30 – Intervalo
17.00 – “O fim do sonho ibérico de Napoleão” António Pedro Vicente, Univ. Nova de Lisboa
17.30 – “La estrategia napoleónica y las ciudades sitiadas” Antonio Moliner Prada, Univ. Autonoma de Barcelona
18.00 – Debate
18.30 – Encerramento. Lançamento das “Actas – Turres Veteras XI: História da Guerra Peninsular”