30/08/09


30 de Agosto a 4 de Setembro de 2009
Porto
Congresso Internacional da História Militar
Edifício da Alfândega
Integrado no plano das comemorações das invasões francesas da Área Metropolitana do Porto

BADALADAS - TEXTO 36 - 28 AGO 2009





Um outro lado das invasões francesas nas Memórias do marechal Soult

Manuela Catarino


As preocupações de um homem da guerra não se fixam apenas na quantidade de efectivos militares de que dispõe, nem no poder fogo das máquinas bélicas, nem tampouco na estratégia militar a desenvolver. Outros aspectos têm de ser devidamente acautelados, quer no cumprimento das leis a que expressamente deve obedecer, quer nos diferentes componentes da estrutura que chefia.
Esta reflexão surge-nos a propósito de um relato feito na primeira pessoa por uma das figuras da segunda invasão francesa – o marechal Soult – ao lermos o texto recentemente publicado por Livros Horizonte, com introdução e notas de António Ventura, traduzido em português sob o título Memórias do Marechal Soult: Sobre a Guerra em Espanha e Portugal.
Em Fevereiro de 1809 a propósito da sua entrada em Portugal, procurando uma passagem para Chaves, relata ele de forma sucinta: O exército ia-se arriscar por caminhos muito maus onde a artilharia não podia passar. Resignei-me a não levar comigo mais do que uma vintena de peças ligeiras e a deixar o resto, bem como os parques, o hospital e tudo o mais que não podia seguir o exército, num grande depósito que instalei em Tui, sob as ordens do general Lamartinière. Estava decidido a mandá-lo buscar assim que chegasse ao Porto” (Ibidem p.43).
A 12 de Março de 1809, depois da capitulação da cidade flaviense, Soult manda instalar aí um depósito de doentes, sob a protecção de uma pequena guarnição enquanto prossegue a marcha para Braga em situação de combate permanente.
Mais tarde, já depois da ocupação do Porto pelas forças francesas, o próprio marechal justifica a escolha que fizera: Quando este depósito foi criado, para tratar e proteger dos habitantes os nossos primeiros feridos e doentes não transportáveis, a minha única finalidade era conseguir-lhes uma boa capitulação que lhes permitisse juntarem-se-me algures, depois da paz assinada em Lisboa” ( Ib. p.57).
O evoluir dos conflitos, contudo, irá contrariar as suas previsões. Ainda, de acordo com o seu testemunho, virá a saber que esse depósito de doentes, bem como a guarnição de cem homens que asseguravam a sua guarda tinham sido obrigados, após oito dias de bloqueio, a capitular. Muitos desses infelizes tinham sido massacrados no trajecto de Chaves para Lisboa (Ib. p.57)
A atitude dos habitantes de Tui merece-lhe reparo, quando, nas suas palavras, recusaram os bens mais necessários aos doentes (Ib.p56). Aliás é exactamente a vivência dos franceses, aí cercados pelas milícias portuguesas e espanholas, que merecem para Soult, uma descrição mais exacerbada: A situação do depósito era crítica na altura em que o bloqueio foi levantado. Dos 3400 homens que compunham a guarnição apenas sobravam 1500 em estado de prestar serviço. Os hospitais tinham falta de medicamentos, a febre reinava e levava todos os dias vários soldados. Já não havia vinho, dois terços dos cavalos do parque tinham sido comidos. (Ib. pp.55-56).
Melhor destino tiveram os franceses que integravam a retirada das forças em Baltar, quando Soult, tendo no seu encalço os exércitos português em Amarante, e inglês no Porto, se dirige para Montalegre. As ordens do marechal são explícitas: De alvorada, a artilharia estava destruída, todas as bagagens queimadas, as munições de infantaria e os feridos em cima dos cavalos de artilharia […] O ponto mais importante estava alcançado. O corpo de exército todo reunido não deixando nenhum homem para trás. (Ib. p.70)
Parece-nos importante realçar esta última frase do marechal no sentido em que sabemos que durante as campanhas militares a assistência médica imediata nos campos de batalha não é a primeira das preocupações dos estrategos. Moribundos e cadáveres vão juncando os cenários de guerra, abandonados à sua sorte, enquanto que feridos ou doentes, apoiados nos seus camaradas de armas, se arrastam até aos hospitais de campanha. Estes, posicionados em local mais resguardado, nem sempre asseguram as melhores condições médicas e de higiene, e a maior ou menor experiência dos cirurgiões procura milagres para não aumentar a contabilidade das baixas…
Na Península os exércitos napoleónicos contaram, no entanto, com a abnegação e a prática médica pioneira de um homem que passará a ser conhecido como “ Providência do soldado”- o cirurgião Dominique Jean Larrey. Mas, infelizmente para os soldados de Soult, ele não acompanhou a deslocação do 2º corpo da Grande Armée. Dele falaremos no próximo artigo.





BICENTENÁRIO DAS INVASÕES FRANCESAS

SUPLEMENTO DO JORNAL BADALADAS, 14 AGOSTO 2009



(Combate de Grijó - 11 de Maio de 1809 - Biblioteca Nacional de Portugal)

A SEGUNDA INVASÃO FRANCESA

José NR Ermitão


CONQUISTA DE CHAVES

No dia 8 de Fevereiro de 1809, Soult e o seu exército marcham de Santiago de Compostela para a fronteira portuguesa, com o objectivo de atravessar o rio Minho e descer em direcção ao Porto. Frente ao rio, Soult sofre as primeiras contrariedades: o grande caudal que, devido à chuva, o transforma em barreira difícil de transpor e o dispositivo de defesa organizado pelo general Bernardim Freire na margem portuguesa.
Os franceses fazem três tentativas para atravessar o rio, a 13 e 16 de Fevereiro, próximo de Valença, Caminha e Cerveira, tentativas que são rechaçadas pelas forças mi-litares portuguesas. Assim, Soult vê-se forçado a um novo percurso: subir até à cidade de Orense, descer pela linha do Tâmega e entrar em Portugal pela fronteira de Chaves – um caminho péssimo e cheio de riscos, que cansava as tropas e as expunha aos ataques da guerrilha espanhola.
Realizado o percurso alternativo à custa de perdas várias, os franceses aproximam-se da fronteira, atravessam-na a 10 de Março e dirigem-se para Chaves. O brigadeiro Francisco da Silveira, responsável militar da região de Trás-os-Montes, percebe a impossibilidade de defender a cidade frente ao exército de Soult e ordena a retirada.
Populares desesperados pelo medo dos franceses, diversos elementos do exército, milícias e ordenanças, não acatam a ordem de retirada e tentam resistir, mas são derrotados pelos franceses, que tomam a cidade no dia 11 de Março. Soult faz de Chaves o ponto de ligação com a Espanha.


CONQUISTA DE BRAGA

A 14, o exército francês inicia a marcha em direcção a Braga. Neste percurso os invasores começam a sentir as garras da resistência popular. As palavras são de Soult: “A nossa marcha de Chaves para Braga foi um combate contínuo. Tinha de me haver com toda a nação: todos os habitantes, homens, mulheres, crianças, velhos e padres, estavam em armas; as aldeias estavam abandonadas, mas os desfiladeiros bem defendidos”.
A resistência também é de natureza militar: o brigadeiro Silveira ataca a retaguarda e os flancos dos franceses na área de Venda Nova e Cabeceiras de Basto; e no caminho para Braga os franceses tiveram de travar combates em Ruivães, Salamonde, e sobretudo nos arredores de Braga, durante três dias (7, 18 e 19 de Março), antes de tomarem a cidade. O exército português, na incapacidade de ofensivas frontais, opta pela defensiva onde e quando possível, por ataques rápidos e mortíferos contra a retaguarda e flancos dos franceses e pela reocupação dos espaços por eles menos guarnecidos. População e militares empenham-se ainda na imobilização dos transportes e na captura dos correios franceses de modo a isolarem totalmente o exército invasor – o que conseguem.
Um ponto importante a referir: no dia 15 de Março, o general inglês Beresford assume o comando do exército português e inicia a sua reorganização.
As notícias da progressão dos franceses criam na cidade um grave ambiente de exaltação. O general Bernardim Freire, comandante militar da região do Porto e Minho, ao receber ordens dos Governadores do reino para dar prioridade à defesa do Porto e ao verificar a insuficiência das defesas de Braga em Carvalho d’Este e noutros pontos, decide-se pela retirada. População, numerosos militares, milícias e ordenanças, amotinam-se, acusam o general de traidor e assassinam-no barbaramente.
O barão de Eben encarrega-se da defesa da cidade e resiste durante três dias em Carvalho d’Este (17, 18 e 19 de Março), combate onde morrem mais de 2000 portugueses e dezenas de franceses. Só no dia 20 os franceses tomam a cidade, entretanto abandonada pela população. Comenta Le Noble: “... Braga apresentava-se à nossa imaginação provida de tudo quanto um exército necessitava. Mas qual o nosso doloroso espanto quando, ao entrar nela, a encontrámos deserta! Em três dias, vinte mil pessoas abandonaram a cidade... Que ódio contra o domínio estrangeiro! Que péssimo presságio para a condução da nossa expedição”.
Depois de cinco dias de paragem, Soult parte em direcção ao Porto em 25 de Março. Nesse mesmo dia Francisco da Silveira, depois de uns dias de combate renhido, reconquista a cidade de Chaves, cortando assim as ligações dos franceses com a Espanha, o que vai criar uma situação de total isolamento a Soult
Silveira, em seguida, movimenta as tropas para retomar Braga; só não o faz porque, tendo notícias de que o Porto foi tomado, decide posicionar-se na região de Vila Real. Mas Braga será retomada mais tarde, no dia 5 de Abril, pelo general Botelho.



CONQUISTA DO PORTO

No caminho para o Porto os franceses vêem aumentadas as dificuldades devido à guerrilha e à acção defensiva junto das pontes que tinham de atravessar. De salientar a fortíssima resistência da população e de alguns militares à passagem dos franceses nas pontes em Trofa e Santo Tirso – passagem conseguida à custa de combates violentos e de muitos mortos para ambos os lados.
No dia 27 de Março, Soult chega junto das defesas da cidade do Porto, a 28 cerca-a completamente, ordena o seu ataque, e no dia seguinte conquista-a. Esta rapidez na tomada da cidade tem causas civis e militares. Civil – o estado de anarquia da população, que mais se empenhava em assassinar supostos afrancesados traidores e que não aceitava qualquer disciplina; militares – inexistência de oficiais competentes (o próprio bispo se arvorou em general), obras de engenharia defensiva mal executadas, tropas regulares insuficientes e mal comandadas, milícias e ordenanças desenquadradas e quase sem armamento e artilharia disfuncional...
O que se seguiu é conhecido – a fuga em massa dos portuenses pela ponte das barcas em direcção a Gaia, com o afogamento de milhares de pessoas. Menos conhecida é a resistência no interior da cidade: milícias, ordenanças, populares e eclesiásticos cortam as ruas e disparam das janelas das casas e até do Paço do Bispo, causando aos invasores numerosas baixas. Esta resistência enfurece os franceses que, como escreve Beauchamps, “... chacinaram indistintamente os habitantes e praticaram todo o tipo de pilhagens e de crimes” durante o saque nos três dias seguintes.
O primeiro objectivo de Soult, a tomada do Porto, estava conseguido; mas a sua situação era a de completo isolamento em relação aos exércitos franceses em Espanha. Pior, estava cercado por uma activa resistência popular e militar que, sobretudo a leste, lhe haverá de cercear a liberdade de movimentos.
Soult vai tentar quebrar a situação de isolamento militar em que se encontrava desenvolvendo três frentes de progressão militar.
A primeira, para ocupar o Minho (de 5 a 13 de Abril) e estabelecer ligações com o exército francês na Galiza. Os franceses ocupam os centros urbanos mas não os campos: neles se movimentam guerrilhas que, por exemplo, capturam todos os correios franceses. E no Baixo Minho actua o general Botelho, que retoma Braga a 5 de Abril, donde é forçado a sair a 10 pelos franceses, mas que em seguida retoma Guimarães...
A segunda, em direcção ao sul, pretendia atingir Coimbra: os franceses ocupam Vila da Feira (a 17 de Abril) e Albergaria, e atingem o rio Vouga. O coronel Trant, nomeado por Beresford para o governo civil e militar de Coimbra, organiza a defesa da cidade e barra a progressão francesa no Vouga.
A terceira, em direcção a leste, com o objectivo de dominar Trás-os-Montes e a Beira Alta, aniquilar o exército de Francisco da Silveira e conseguir uma via de comunicação com os exércitos franceses em Espanha. Tentativa fracassada pela impressionante resistência portuguesa em Amarante e áreas circundantes, chefiada por Silveira, e que constituiu o toque de finados da 2ª invasão.
Politicamente, Soult ensaia uma política de apaziguamento de que resultou um grupo de bracarenses e outros nortenhos, suplicarem a Napoleão “se dignasse nomear um príncipe... para ocupar” o trono português. Episódio com mão óbvia de Soult e sem mais consequências...


RESISTÊNCIA EM AMARANTE

Com o objectivo de abrir caminho para leste, os franceses ocupam Penafiel e dirigem-se para a ponte de Canavezes a 31 de Março. Penafiel fora abandonada pelos habitantes mas Canavezes e sua ponte estão bem defendidas, e tanto que os franceses retrocedem para Penafiel. A 7 de Abril, Soult envia reforços e nomeia para chefiar as operações o terrível general Loison.
A 9 de Abril, Silveira desloca-se de Vila Real para Amarante, onde se reúnem as tropas, milícias, ordenanças e voluntários das regiões próximas. Com um exército díspar de 6000 homens, sem quadros nem armamento suficientes, ataca Penafiel no dia 13, donde expulsa Loison. Perante o facto, Soult envia novos reforços – os franceses nesta área de acção passam a 9000, mais de 40% do total dos invasores.
Conseguem assim retomar Penafiel a 15 de Abril e dar combate ao exército de Sil-veira que, perante a superioridade francesa, retira para Amarante, onde os franceses en-tram no dia 18, após horas de combate e muita destruição. Os franceses ocupam a vila, na margem direita do rio Tâmega; os portugueses ocupam a margem esquerda do rio e impedem a tomada da ponte.
E durante duas semanas, de 18 de Abril a 2 de Maio, numa eficaz acção defensiva, em contínuos duelos de artilharia e de fogo de atiradores, os portugueses frustram todas as tentativas francesas para a tomada da ponte. Só a 2 de Maio, devido a nevoeiro e a deficiências da vigilância portuguesa, Loison consegue tomar a ponte e passar o rio. Silveira, vendo-se derrotado, desloca o exército para leste e margem sul do Douro.
Embora na posse deste ponto estratégico, Loison só irá progredir até Vila Real (3 de Maio), Mesão Frio e próximo da Régua, encontrando sempre a resistência de destacamentos do exército de Silveira. Em Vila Real (retomada por Silveira a 8 de Maio) os franceses tomam conhecimento “das grandes mobilizações que tinham sido feitas em Portugal, além do movimento do Exército Luso-Britânico em direcção ao Norte” (De Nayles). A 11 de Maio, Loison inicia o movimento de retirada, sempre acossado pelas tropas de Silveira, que o combate em Moure, a 12, levando-o a abandonar Amarante e continuando a persegui-lo.
Por onde passa, Loison deixa um rasto de destruição e morte. Mas é o princípio do fim da 2ª invasão: a resistência popular e o exército do general Silveira, sem auxílio exterior, combatem, esgotam e desmoralizam irreversivelmente os franceses.


FIM DA SEGUNDA INVASÃO

Em meados de Março de 1809, Beresford assume o comando do exército português e inicia o processo da sua reorganização. A 22 de Abril, acompanhado de 20000 homens, o general Wellington desembarca em Lisboa e toma o comando do exército britânico no país. Os dois chefes militares articulam-se e organizam o exército luso-britânico, que vai avançar para Norte, iniciando uma fortíssima pressão militar sobre os franceses.
Soult verifica a impossibilidade de resistir e decide a retirada, o que em muito facilita a Wellington a tomada do Porto. Em fuga, os franceses fazem explodir tudo o que lhes impede a rapidez de andamento (artilharia, carros de transporte e até o produto dos saques), desfazem-se da própria caixa militar e optam por um caminho difícil mas inesperado para os seus perseguidores.
Perseguido pelas tropas anglo-lusas, o exército francês tem ainda de enfrentar a resistência desesperada das milícias e dos populares, que fazem guerrilha por todo o lado, matando centenas de soldados invasores. Devido ao caminho imprevisto que escolheu e às horas de avanço que tem, Soult consegue escapar, evitando uma derrota fatal. Mas tem de enfrentar as dificuldades do caminho, um tempo invernoso, a fome, doença e exaustão dos soldados, as pontes de Saltadouro e de Misarela, cujas trágicas passagens tiveram de ser conquistadas violentamente.
Soult, à frente de um exército em estado moral e material calamitoso, atravessa enfim a fronteira da Galiza de 17 para 18 de Maio. Dos cerca de 23000 homens com que entrou no país conseguiu salvar pouco mais de 15000 – um bem trágico final para a “bela expedição” de que o imperador o encarregara.




(Desenho a lápis do capitão Manuel Isidro da Paz - Arq. Nac. Torre Tombo)
PELA INTERNET

Manuela Catarino

Muito longe estariam os marechais de Napoleão, em 1809, quando procuravam cumprir as ordens recebidas, de que os seus planos de batalha, as suas memórias, os pormenores dos estandartes das suas companhias, ou, simplesmente as imprescindíveis ordens do dia, tudo sempre tão ciosamente guardado, estivesse hoje, para nós, à simples distância de um click…
A acessibilidade, que a rede nos permite, a Bibliotecas, Fundos Documentais, Museus, ou a espaços pessoais (os famosos “blogs”) onde se disponibiliza e partilha todo o tipo de informação, facilita a obtenção de dados que, de outra forma, seria impensável visualizar com a rapidez e fiabilidade que todos conhecemos. A propósito do tema “Invasões Francesas”, em particular a chamada 2ª Invasão, aqui deixamos nota de alguns “links” para uma pesquisa mais personalizada de quem se interessa por estas temáticas.

O município de Amarante, por ocasião das Comemorações da 2ª Invasão Francesa em Amarante, apresenta um interessante espaço com Galeria e Vídeo, excertos da Recriação Histórica, bem com alguma Bibliografia específica, entre outros aspectos.
Basta um click em http://amarantesegundainvasao.blogspot.com

Também a região de Albergaria-a-velha, outro dos cenários da 2ª Invasão, mereceu destaque, a partir de Março de 2009, nas postagens feitas e cruzadas com referências à História Local. Para saber mais: http://blogdealbergaria.blogspot.com

Outra forma de olhar sobre os espaços percorridos pelas tropas francesas é-nos apresentado pelo Grupo Portuense de Montanhismo. Recordando o percurso efectuado pelo II Corpo do exército francês, no mês de Maio de 1809, apresentam-se fotos e iconografia específica. Olhemos, pois, http://gpmcaminhadas.blogspot.com

Uma rápida e ilustrada pesquisa sobre Invasões Francesas poderá ser sempre feita n’O Portal da História. Neste mesmo espaço, o seu autor, Manuel do Amaral, apresenta um trabalho de investigação sobre as transformações verificadas no Exército Português entre 1793 e 1823, com particular incidência na iconografia do período das Invasões Francesas. Consulte-se : http://www.arqnet.pt

Figura incontornável neste tema é a do próprio Napoleão Bonaparte. De entre muitos e variados espaços que, na net, a ele se dedicam, merece atenção um blog que apresenta um conjunto assinalável de informação sobre a figura de Napoleão e o contexto em que viveu. Curioso o projecto que nele se apresenta – a juventude de Napoleão em Banda Desenhada. Texto em francês.
A visitar: http://napoleonbonaparte.wordpress.com
Os apaixonados pelas miniaturas poderão encontrar um vasto manancial de informação e expressivas fotografias num espaço peculiar. Ainda que escrito em francês, o seu autor surpreende quem o visite. Destacamos, neste caso, a área sobre La campagne d’Espagne, que inclui miniaturas e maquetas de várias situações ocorridas na campanha peninsular das forças napoleónicas. A não deixar de descobrir em : http://el-frances.over-blog.com

Tesouro inestimável que deixamos à consideração de quem quiser dispor de uma visita ao Arquivo da Torre do Tombo. Um documento iconográfico produzido pelo capitão Manuel Isidro da Paz, entre Fevereiro e Julho de 1812. Um álbum de desenhos a lápis retratando pormenores da vida militar, paisagens rurais, interiores, vida quotidiana, retratos, esboços, uniformes…
Para um primeiro relance : http://antt.dgarq.gov.pt consultando o link especifico – As Invasões Francesas – Eventos em Documentos



SUGESTÕES DE LEITURA


MEMÓRIAS DO MARECHAL SOULT sobre a guerra em Espanha e Portugal
Introdução e notas de António Ventura, Livros Horizonte, Lisboa, 2009.
Soult, um dos mais destacados chefes militares de Napoleão, que depois da queda deste, em 1815, ainda desempenhou elevados cargos politicos em França - embaixador, ministro e Presidente do Conselho de Ministros - quis testemunhar o seu tempo através da escrita das suas memórias. Não chegou a vê-las publicadas, o que seria feito por seu filho em 1854, três anos depois da sua morte.
Este livro contém a parte relativa à Guerra Peninsular. Revela um homem extremamente lúcido e crítico em relação a muitas opções estratégicas de Napoleão. Longe de ser uma descrição enfadonha de movimentações militares, é um testemunho vivo de uma época, bem escrito e servido por uma boa tradução.


O PORTO E AS INVASÕES FRANCESAS -1809/2009. 4 vols, coordenação de Valente de Oliveira, edição conjunta do jornal PÚBLICO e da Câmara Municipal do Porto, 2009.
Trata-se de uma obra monumental - mais de mil páginas nos quatro volumes - que reune trinta e sete comunicações, relacionadas com a segunda invasão francesa e escritas por especialistas, professores universitários de todas as universidades portuguesas onde se ensinam e investigam temas de História e também de algumas iniversidades do Reino Unido, França e Espanha.

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TORRES VEDRAS E A SEGUNDA INVASÃO

Tudo se passou bem longe de Torres Vedras, ao contrário do que sucedera um anos antes, na primeira invasão. Mas sabia-se que a missão de Soult era chegar a Lisboa, vindo do Porto, pelo litoral. Se acaso não tivesse sido detido, Torres Vedras voltaria a sofrer a guerra do invasor. Havia, pois, que tomar providências. É o que vemos nestes dois excertos do Livro de Acordãos da Câmara Municipal de Torres Vedras, compilados por Venerando de Matos.

Torres Vedras fortifica-se

“Illustrissimos senhores vereadores:
“Tendo sido mandado por Sua Alteza Real para fortificar provizoriamente esta villa,” (Torres Vedras) “precizo par por em pratica o q se tem projectado que Vossas Senhorias me fornessão na manhã de segunda feira dez do corrente (...) na meia laranja da Ponte de Mentira o seguinte: trinta trabalhadores, dez enxadas, dez cêstos, quatro picaretas, duas paviolas e dois (...?) - Torres Vedras oito de Abril de 1809”
“Tenente Coronel de Enginharia; Cypriano José da Silva, encarregado pella Regencia em nome de Sua Alteza Real para a Fortificação d’esta villa”
(in Livro nº24 dos Acordão da Câmara Municipal de Torres Vedras (1802-1812), sessão de 8 de Abril de 1809, ff. 193v-194, AMTV) .

Torres Vedras melhora o sistema de comunicações

“Tendo-se estabelecido signaes em cazo de rebate para avizar os Povos pertencentes a esta capitania mór, se determinou por ser o metodo mais facil o uzarem de foguetes para o que se fazem precizos quatro duzias de foguetes de quatro respostas cada hum. Rogo portanto a Vossa Senhoria queira mandallos apromptar com toda a brevidade como tambem seis covados de sarafina ou outra qualquer fazenda encarnada que devem servir para signaes de Faxos”
(oficio do Governo Militar, datado de 6 de Abril de 1809, enviado à Câmara de T.Vedras, in Livro nº24 dos Acordão da Câmara Municipal de Torres Vedras (1802-1812), sessão de 8 de Abril de 1809, f.196, AMTV) .




(Ex-voto da Irmandade das Almas, pormenor, Igreja de S. João das Taipas, Porto)


A TRAGÉDIA DA PONTE DAS BARCAS

José NR Ermitão

Na memória colectiva nacional a tomada do Porto pelos franceses durante a 2ª invasão estará sempre relacionada com o desastre da Ponte das Barcas.
Aterrorizados com a chegada dos franceses, uma multidão de portuenses tentou passar para Gaia utilizando a ponte de madeira assente sobre barcaças que então ligava as duas margens. A tragédia subsequente é arrepiante e conhecida. Apresentamo-la descrita por Arnaldo Gama (1828-1869) na obra O Sargento-Mor de Vilar, Episódios da invasão dos franceses em 1809.
Do romance citado, diz o próprio autor que «Não fiz mais do que ir às partes oficiais, aos escritos e manuscritos de alguns contemporâneos, copiá-los e dialogá-los. Um historiador pode escrever a história da 2ª invasão pelos feitos do meu Sargento-Mor de Vilar». De facto, a sua leitura oferece um vivo panorama da invasão desde o seu início até à tomada do Porto, da província do Minho no princípio do século XIX (seu estado social, movimentos populares, mentalidades), do estado do exército, da acção de alguns militares e outros importantes aspectos.

Seguiu-se depois aquela medonha quarta-feira de cinza, 29 de março de 1809, memorável nos anais do Porto pelas desgraças e atrocidades que nela tiveram lugar. (...)
Luís Vasques e o sargento (de Vilar) dirigiram-se à pressa para o lado da ponte. Precedera-os porém compacta e monstruosa massa de povo, que se lançava, correndo, para ela... mas apenas (os dois amigos) tinham dados uns passos para a frente, quando pararam assombrados por um grito pavoroso, medonho e terrível de agonia dilacerante... Era horrendo o espectáculo diante de que se achavam.
A meio da ponte, aquela massa compacta de fugitivos estava como que estacada diante de um abismo, pelo qual se sumiam, uns após outros, homens, velhos, crianças e mulheres; e mais atrás desse medonho sorvedouro, os parapeitos de madeira arrebentados vomitavam pelas aberturas milhares de pessoas sobre o rio.(...)
Depois que o bispo e o general Parreiras passaram para... (Gaia)... os que estavam de guarda à ponte fizeram levantar um dos enormes alçapões que ela tinha a meio, sem se lembrarem que era naturalmente por ela que a cidade se havia de esvaziar logo que os franceses se assenhoreassem das linhas.
Assim aconteceu. Os habitantes, dementados pelo pavor, correram à ponte, como estrada de salvação... Ao chegar junto dela, aquilo era uma massa compacta e apertadíssima onde mal se podia respirar – e aquela massa compacta lançou-se por ela... cada vez mais comprimida e cada vez mais alucinada... impelida pelo terror.
Ao chegar a meio da ponte estacou um momento... É que diante daquela massa compacta... estava um abismo, estava aquele terrível boqueirão, que a estupidez humana deixara após si ao fugir. As primeiras dezenas de pessoas sumiram-se de repente na voragem, sem terem tempo sequer para fazer um esforço para estacar, sem terem tempo para mais que para soltar aquele brado pavoroso de medonha agonia, aquele grito de alarme contra a morte, que de súbito e à traição se lhe abria debaixo dos pés... Todos pretenderam estacar, firmar-se, não ir mais avante; mas a força da impulsão, que lhes comunicavam os que vinham de trás, era mais forte do que a da repulsão da agonia dos que viam aos pés o abismo; e centenas e centenas de pessoas continuaram a sumir-se por aquele medonho boqueirão. Era um só brado de desespero o alarido... por fim as forças dos que resistiam puderam quase equilibrar-se com as dos que empurravam para a frente. O número dos que se sumiam pelo boqueirão abaixo começou a... (diminuir); mas a imensa (massa de gente)... comprimida nas extremidades, começou a alargar ao centro... sobre as guardas da ponte... (que) não puderam dilatar-se mais; estoiraram, e por aqueles dois enormes rombos lufaram imediatamente... centenares e centenares de pessoas.
(...) No rio, junto da ponte, viam-se milhares de desgraçados, aferrados uns aos outros... ora aparecendo, ora desaparecendo, e depois... deslizando em fieira, a debater-se sempre, pela corrente do rio abaixo. Mais além já eram cadáveres... que boiavam à tona da água; e só longe... é que aquela medonha pavezada se ia desfazendo pouco a pouco, pedaço a pedaço, até que de todo mergulhava e sumia.
O alarido dos que... se achavam subitamente em frente da morte e o dos que de terra presenciavam esta imensa desgraça, com a morte também a poucos passos... – porque os franceses desciam pela rua... abaixo, lançando um chuveiro de balas – era medonho, tremendol... Naquela meia dúzia de palmos de terra, naquela estreita ponte de madeira que se estendia sobre o Douro, representou-se naquele dia uma cena que compendiou em breve resumo tudo quanto a agonia e o pavor têm de mais...horroroso.(…)

A soldadesca corria desenfreada pelas ruas, arrombando casas, entrando nas já arrombadas, roubando tudo o que achavam em dinheiro e atirando os trastes (/móveis) e roupas para o meio da rua. Espancavam toda a gente, e cometiam toda a ordem de desacatos, sem respeitarem velhos, mulheres ou crianças... nem escaparam os conventos das freiras... Os excomungados não queriam senão botas e camisas; e de dinheiro só o metal... Aqui e ali via-se gente morta... fuzilavam por dá cá aquela palha qualquer homem... (...)
Aqueles três dias de saque foram três dias de inferno. Hoje o Soult saiu com uma proclamação, em que dizia que o Porto devia ser queimado por ter resistido, mas que ele lhe perdoava.


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FICHA TÉCNICA:
Coordenação: Joaquim Moedas Duarte
Textos: José Ermitão Manuela Catarino Venerando de Matos
Concepção Gráfica: José Pedro Sobreiro
Execução Gráfica: Carlos António Ferreira



21/08/09

ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS NO FORTE DE ALQUEIDÃO



No Forte de Alqueidão, Sobral de Monte Agraço, está a decorrer uma campanha de escavações para pôr a descoberto o conjunto de estruturas militares que faziam parte daquele complexo. Ver site da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, AQUI

08/08/09

BADALADAS - TEXTO 35 - 7 AGO 2009

A 2ª INVASÃO FRANCESA (3)

ÀS ARMAS, PORTUGUESES, ÀS ARMAS!


JOSÉ NR ERMITÃO


No artigo anterior referi que os Governadores do Reino, perante a possibilidade de uma nova invasão, emitem nos dias 9 e 11 de Dezembro de 1808 duas proclamações declarando o levantamento em armas de toda a nação contra os franceses. Porque terá sido a única vez na nossa história que proclamações destas foram feitas – a nação estava em perigo! – Transcrevo-as parcialmente (grafia actualizada).

Proclamação de 9/12/1808:

“ (...) portugueses, não basta ter uma vez vencido; é necessário para conservar a Liberdade opor uma barreira irresistível aos novos esforços do insaciável Napoleão... (...)
Às armas, portugueses, às armas! A necessidade exige que a massa da nação em-punhe as armas; e todas as armas na mão robusta de um defensor da Pátria são instrumentos decisivos da vitória. O governo vigia sobre a subsistência dos exércitos; e onde não chegam os recursos ordinários das rendas públicas suprem os donativos dos vassalos... (...) A Inglaterra, a generosa Inglaterra... nos vem dar o exemplo que devemos imitar. (...) E nós, mais do que ela interessados na defesa da nossa independência, ficaremos agora numa mole e insensível apatia? (...)
Portugueses, contra um inimigo poderoso e vigilante não deve haver descuido. Se não quereis ser vis escravos, se não quereis ver ultrajada a santa religião, vilipendiada a vossa honra, insultadas as vossas mulheres, trespassados das baionetas os vossos inocentes filhos e aniquilada para sempre a glória de Portugal, corramos todos a afrontar-nos com o inimigo comum, unamos as nossas armas às dos honrados espanhóis e às dos intrépidos ingleses... A Nação que quer ser livre nenhuma força a pode tornar escrava. Uma Nação levantada em massa tem uma força irresistível. (...).”

Proclamação de 11/12/1808
“ (...) que toda a Nação Portuguesa se arme pelo modo que a cada um for possível: que todos os homens, sem excepção de pessoa ou classe, tenham uma espingarda ou pique com ponta de ferro... e (se arme) de todas as demais armas que as suas possibilidades permitirem. Que todas as cidades, vilas e povoações consideráveis se fortifiquem tapando as entradas e ruas principais com dois, três ou mais traveses para que, reunindo-se aos seus habitantes todos os moradores dos lugares, aldeias e casais vizinhos, se defendam ali vigorosamente quando o inimigo se apresente; (...)
Que todas as Câmaras... remetam no espaço de oito dias... (ao) Governador de Armas da respectiva província, uma relação das pessoas que... forem mais capazes para as comandar... que todos os Generais encarregados dos Governos das Armas (regiões militares)... examinem o estado das Companhias, nomeiem para oficiais delas... (quem) julgarem mais dignas e capazes..; (...)
Que todas as Companhias se reúnam nas suas povoações todos os domingos e dias santos para se exercitaram no exercício das armas que tiverem e nas evoluções militares, compreendendo todos os homens de quinze até sessenta anos. (...)”

E termina ordenando a pena de morte a quem se recusar à defesa do país ou auxilie o inimigo, e o arrasamento das povoações que não se defendam ou colaborem com o inimigo.
Como também foi referido no anterior artigo, a situação do exército era péssima. E a correspondência do general Bernardim Freire, tanto revela essa situação como a vontade popular em resistir e em se defender: “De toda a parte se queixam de falta de munições e de meios de defesa... (...) entretanto o que dá muitas esperanças é o muito que os povos parecem animados a defender a nossa causa”; “a cada passo me lastimo do estado em que se acha a nossa tropa, armada... com chuços e espingardas sem baionetas...sem oficiais capazes de as comandar”. Mas “anima muito observar a boa vontade que o povo em geral mostra em se defender e que resiste a todas as privações...”.
Faltam armas, munições e organização, haverá mesmo momentos de anarquia que inutilizam o valor da intervenção popular – mas é com um exército onde o elemento popular (milícias e ordenanças), militarmente enquadrado, supera a tropa regular que se vai organizar a tenaz e vitoriosa resistência contra os invasores.


05/08/09

FRENTE OESTE - TEXTO 24 - 16 JUL 2009




CENA HISTÓRICA COM TOQUE DE AQUILINO

João Flores Cunha

As Guerras Napoleónicas deixaram marcas profundas na sociedade portuguesa. Ao longo do século XIX, e até hoje, elas repercutem-se sem cessar quer na memória popular quer na História e na Literatura. Este fenómeno não é único em Portugal. Não só na Inglaterra e em França, mas também em muitos outros países, há uma imensa biblioteca que se debruça sobre esta época, mostrando expressivamente que ela é a porta da modernidade política, social e cultural europeia.
Registamos hoje um apontamento de um nosso leitor e colaborador, sempre atento e oportuno, que no-lo enviou como exemplo desta realidade.

Aquilino Ribeiro (1885/1963) num dos seus últimos grandes romances, A Casa Grande de Romarigães (1957), uma crónica romanceada através de nove gerações de um morgadio do Alto Minho, dá-nos a conhecer, quer o modo de vida e as relações inter-sociais coevas, quer episódios da nossa história com relevância local. Como não podia deixar de ser, num dos capítulos deste livro são descritos alguns episódios da segunda invasão francesa, dos quais transcrevemos este:
"Soult era, por temperamento ou cálculo, mais moderado que os outros marechais de França que comandaram as tropas de invasão e procurou reprimir as suas feras.
Chegou mesmo, à semelhança das abelhas que batem as asas à porta do apiário, a dar lugar com suas anaçadas atitudes a que um hausto de refrigério aliviasse em seus transes a terra acalcanhada. Dado o seu génio clemente e generoso, o melhor era a gente entregar-lhe corpos e almas. E uma embaixada dos 36 maiores do Distrito, tonsurados e bacharéis, banqueiros e industriais, foi ao Porto dizer-lhe:
- O nosso rei fugiu para o Brasil e é um covarde, um traste, um biltre indignamente ungido de Deus; é provável que nas âmbulas só houvesse azeite rançoso. Ninguém lhe tinha respeito, a mulher fartou-se de lhe sujar as barbas. Arranje-nos outro, Mossiú, que nós aceitamo-lo. Mas arranje-no-lo depressa, que isto de povo sem um reizinho é como cego sem bordão. E aqui para nós: bem empregado pontapé que Mossiú Junot lhe deu na bunda! Agora diga-nos: Quando é que nos arranja um sucessor...?! Nós não podemos passar sem rei, não podemos, venha ele donde vier, de casa ou de fora, feito ao torno ou filho duma saca de maganas. Tome nota, Mossiú...
O duque da Dalmácia viu-lhes os rostos contorcionados pela angústia e o olhar dúbio; ouviu suas palavras pressurosas a jurar pelo pai, pela mãe, por Cristo - e avaliou à justa do que valia aquela delegação de carneiros. Teve dó, teve nojo?! Limitou-se a despedi-los com irónica amenidade e duas palavras de falso agradecimento, em nome do Imperador."


FRENTE OESTE - TEXTO 23 - 9 JUL 2009


DUQUE DE WELLINGTON


Maria Guilhermina Pacheco




Artur Wellesley, nasceu em Dublin a 1 de Maio de 1769, seguiu a carreira militar, tendo frequentado o colégio de Eton, ausentou-se de Inglaterra com a família, recebendo parte da sua formação em França. Em 1786 estava de regresso assentando praça no 75º regimento.
Tem um papel muito activo em combates e acontecimentos, relacionados com a defesa da Grã-Bretanha na política internacional, destacando-se a sua participação na luta contra o bloqueio continental, contabilizando êxitos militares que lhe proporcionarão o desenvolvimento de uma carreira que o celebrará.
Em 1807, seguiu com a expedição que bombardeará Copenhaga, iniciando a reacção Inglesa ao bloqueio, mas será na Península Ibérica que a sua acção contra os franceses vai somar êxitos, ficando ligado à História dos países peninsulares.
Desembarca na Figueira da Foz, em 1808, vencendo as tropas de Junot, em Roliça e Vimeiro, assinando posteriormente a Convenção de Sintra, que pelas facilidades de retirada dadas aos franceses, foi muito contestada, mas Wellesley, sai ilibado, em tribunal militar, desta responsabilidade.
Regressa à Península somando êxitos, em Espanha, a vitória de Talavera (1809) e a de Vitória (1813), em Portugal a do Buçaco (1810), expulsando os franceses com o apoio das linhas defensivas de Torres Vedras.
Mas o auge da sua carreira militar foi conseguido com a derrota imposta às tropas de Napoleão Bonaparte em Waterloo, em 1815, contribuindo para o afastamento definitivo daquele, da cena política europeia.
Ser-lhe-ão atribuídos títulos de Conde de Vimeiro, Marquês de Torres Vedras e Duque de Vitória, o cargo de Marechal e o título de Primeiro Duque de Wellington.
As vitórias militares de Wellington, o “duque de ferro”, nas guerras napoleónicas favoreceram a sua ascensão a altos cargos do governo britânico. Foi nomeado comandante-chefe do exército britânico, 1827, desempenha um papel de destaque no partido conservador, e ocupa o cargo de primeiro-ministro entre 1828-30, ficando o seu governo ligado à publicação da lei de tolerância para com os católicos.
Tanto em vida como depois da sua morte, dedicaram-lhe muitas homenagens e monumentos, servindo de exemplo uma preciosa baixela de prata, desenhada e feita pelos melhores artistas e artífices portugueses, (Domingues Sequeira…) que marca uma época na história da arte portuguesa.
Morreu em 1852 tendo sido sepultado com grande pompa, na Catedral de S. Paulo, em Londres.