26/07/10

FORTES DO ALQUEIDÃO E DA CARVALHA

Um dia destes demos uma volta por aí. A ideia era visitar dois fortes das Linhas de Torres Vedras.
O primeiro onde parámos é o do Alqueidão, no Sobral de Monte Agraço. Ver dados AQUI e AQUI, que nos dispensam de mais escritas. Deixamos apenas algumas imagens:



Troço de estrada militar de aceso ao Forte do Alqueidão


Aspecto da praça de armas (interior) do Forte do Alqueidão




Aspecto de um dos paióis escavados no chão, recentemente postos a descoberto.
A parte de cima seria coberta de traves de madeira, base de uma cobertura que teria terra por cima.



Outro aspecto de um paiol subterrâneo


  Fosso exterior do Forte de Alqueidão




Posto de apoio aos visitantes do Forte do Alqueidão


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Depois parámos no Forte da Carvalha, arredores de Arruda dos Vinhos

Forte da Carvalha, Arruda dos Vinhos


Fosso exterior

Paiol



Outro aspecto do paiol



Canhoneira



Fosso exterior do Forte da Carvalha

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Esta visita confirmou o que já sabíamos: os concelhos de Sobral de Monte Agraço e Arruda estão na vanguarda da recuperação dos Fortes das Linhas de Torres Vedras, tendo feito estudos arqueológicos a partir de 2008 e apresentando aquelas estruturas militares prontas para serem visitadas no ano do Bicentenário.
Ao contrário do concelho de Torres Vedras, que dá nome às Linhas mas que, inexplicavelmente, pouco tem feito pela sua preservação, estando muito atrasada em relação às obras previstas.

22/07/10

CAMINHADA PELOS FORTES DAS LINHAS DE TORRES VEDRAS







O início da actividade,
no novo Parque da Ponte do Rol.





Foi no passado dia 18 de Julho, por iniciativa da Associação de Marchas e Passeios do Concelho de Torres Vedras. Com cerca de dez quilómetros, este percurso inicia-se na aldeia de Ponte de Rol, concelho de Torres Vedras e passa pelos montes onde podem ver-se vestígios de três Fortes: Grilo, Alquiteira e Bonabal. O primeiro ainda é visitável, os dois seguintes estão cobertos de mato e canaviais.
É preciso ter em conta que 200 anos passaram sobre estas construções que, muitas vezes, não tinham qualquer anteparo de pedra e estavam situadas em terrenos particulares. A chuva, o vento e a utilização agrícola ou pecuária provocaram erosões irreversíveis. Não seria viável manter em bom estado 152 fortes, tantos são os que fazem parte das Linhas de Torres Vedras. Por isso mesmo, os seis concelhos que constituiram a Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres Vedras escolheram os mais significativos para serem intervencionados neste Bicentenário.
Por exemplo, para Torres Vedras está prevista a recuperação de seis obras militares: o reduto de Olheiros e os fortes do Grilo, do Passo, São Vicente, Forca e Feiteira.

Os lugares estão lá, as cartas militares referenciam-nos e é possível identificá-los pelo perfil dos terrenos: vestígios de muros de terra, de fossos, de zonas escarpadas artificialmente, abertura das canhoneiras...

Aqui ficam algumas fotos que documentam o interesse por estes passeios pedestres, em que normalmente participam cinco ou seis dezenas de pessoas. As paisagens são convidativas, há caminhos de terra batida e descobrem-se recantos magníficos que estão vedados a quem só passeia de automóvel.

Todos estes passeios irão culminar na inauguração da Grande Rota das Linhas de Torres Vedras, em 13 e 14 de Novembro.



Lá em cima, na linha do horizonte, é bem visível o perfil do Forte do Grilo, à esquerda das torres/antenas



Um troço de estrada militar


«Paralelamente à edificação das obras defensivas, foram construídos vários quilómetros de estrada, tanto na retaguarda das Linhas como na ligação entre essas estradas e as obras militares.
Durante o ano de 1811, as estradas militares foram aperfeiçoadas, para que houvesse comunicação sobre toda a extensão da primeira e segunda linha, desde o Atlântico até ao Tejo.
Entre a primeira e a segunda linha foram reaproveitadas estradas rurais já existentes que foram alargadas e adaptadas paro o transporte militar.» (Do folheto distribuído aos participantes neste passeio)



Caminhando...


Junto do Forte de Alquiteira, situado atrás do grupo. Impossível o acesso ao espaço do Forte devido ao mato, canas e ervas.


Concorrentes inesperados à partilha do mesmo caminho...
Mais adiante, na aldeia da Bordinheira, esperava-nos um abastecimento: líquidos, maçãs, biscoitos...
Foram cerca de três horas de caminho, com paragens, pequenas explicações dadas pela Guia, o abastecimento...
O nosso agradecimento à Associação de Marchas e Passeios!

16/07/10

Linhas de Torres Vedras



Julgamos oportuno divulgar este apontamento de vídeo criado pela Câmara Municipal de Torres Vedras.
Vemo-lo com muitas reservas. De facto, fazendo nós parte de grupo das associações que participaram na elaboração do programa comemorativo do bicentenário das Linhas de Torres Vedras, não fomos vistos nem achados para as decisões relativas ao Centro Interpretativo. Tal como as restantes associações.
A decisão foi tomada pelo anterior executivo municipal, sem consensos (toda a oposição votou contra), sem discussão pública, sem debate entre os cidadãos interessados.

Já denunciámos publicamente este projecto nas páginas do jornal BADALADAS. Consideramos que a sua localização é errada e o seu desenho aponta para uma construção dispendiosíssima, de um exibicionismo chocante, completamente contrário ao fim em vista, além de começar por propor um edificío sem que ninguém saiba qual o projecto museológico que lhe está subjacente.

Apontamos para outro tipo de solução, muito mais barata e adequada, perto do Forte de S. Vicente, com leitura visual das Linhas desde o Forte do Alqueidão até perto da costa, num projecto que seja participado pelas populações e que corresponda a um programa museológico previamente delineado.

13/07/10

RECUPERAÇÃO DOS FORTES DAS LINHAS DE TORRES VEDRAS

O concelho de Torres Vedras é o que está mais atrasado no que respeita ao trabalho de recuperação dos Fortes. Para além de um pequeno trabalho de investigação arqueológica junto à casa do guarda no Forte de S. Vicente e da deslocação de uma locatária no Forte da Forca, nada mais foi feito.
No entanto, o Programa das Comemorações 2009/2010 ( publicado em Junho de 2010...) diz, na página 120:

"Para Torres Vedras está prevista a recuperação de seis obras militares: o reduto de Olheiros e os fortes do Grilo, do Paço, São Vicente, Forca e Feiteira."

Segundo informação que recolhemos junto dos serviços da Câmara Municipal, estas obras deverão estar concluídas no primeiro semestre de 2011.

Entretanto no concelho do Sobral de Monte Agraço já foi festejada pelo Presidente da República a recuperação do Forte Grande do Alqueidão e o respectivo complexo dos fortes auxiliares.

Em Mafra já foram feitas obras de recuperação no Forte do Zambujal, Juncal e Circuito da Enxara do Bispo.

No concelho de Arruda dos Vinhos foi inaugurado o Circuito que inclui os Fortes da Carvalha e do Cego.

Ontem visitámos o Forte do Zambujal, situado na freguesia da Carvoeira, concelho de Mafra.
É uma obra militar impressionante, como se poderá ver nas fotos. Pareceu-nos, no entanto, que a limpeza dos terrenos terá sido demasiado radical pois rapou por completo o coberto vegetal. Uma grande chuvada provocará, necessariamente, forte erosão nas estruturas construídas.

Como chegar lá: passada a Ericeira, na direcção de Sintra, a estrada desce para a ponte sobre o Lisandro, depois sobe até à Carvoeira; aí, junto à Igreja, virar à esquerda, direcção da capela de Nª Srª do Ó. Depois da pequena ponte junto da capela, virar à direita e subir para a aldeia do Zambujal. Aí começamos a encontrar placas de sinalização para o Forte.

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Foto 1: aproximação ao Forte do Zambujal, lado oposto ao Vale do Lisandro


Foto 2: fosso exterior


Foto 3: outro aspecto do fosso



Foto 4: aspecto do interior do Forte, com os traveses de protecção




Foto 5: fosso poente, vendo-se ao fundo a abertura do tunel de acesso ao reduto interior.


Foto 6: aspecto exterior do tunel de ligação entre o reduto central e a bateria avançada




Foto 7: perspectiva do tunel a partir do reduto central

Foto 8: panorama para o lado poente, a partir do terreiro da bateria externa. Vê-se o vale do Lisandro e o adro da Senhora do Ó.

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Fotos: Associação de Defesa do Património de Torrres Vedras
Mais pormenores: veja-se o folheto da Câmara Municipal de Mafra, a partir do respectivo site.


NOVA ACTIVIDADE DO PROGRAMA DO BICENTENÁRIO DAS LINHAS


Conan Doyle, o célebre criador de Sherlock Holmes, escreveu um conto em que faz referências à Guerra Peninsular: "As Aventuras do Brigadeiro Gèrard". Motivo suficiente para esta iniciativa da Casa da Cultura da Ponte do Rol, em que o público é convidado a participar no jantar e na resolução de um enigma. Lá estaremos.

10/07/10

XADREZ HUMANO

O Académico de Torres Vedras anunciou e concretizou: uma encenação de Xadrez Humano no recinto do castelo - espectáculo integrado no Programa de Comemoração do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras.

As imagens dão uma ideia muito pequena do que foi esta realização. Cor, movimento, inventiva, abordagem original de um tema já tão repetido. Sobretudo a quantidade de jovens envolvidos, perto de quatro dezenas.
No final ainda houve um porco assado no espeto, às portas da Sede do Académico, no Largo do Grilo.


Rapaziada valente!










04/07/10

AS LINHAS DE TORRES VEDRAS E A GUERRA PENINSULAR NA FEIRA DE S. PEDRO














A Associação do Património de Torres Vedras participou na Feira de S. Pedro deste ano com um espaço duplo no pavilhão B.
Com painéis criteriosamente escolhidos e uma maquete do reduto nº 20 do Forte de S. Vicente, o espaço da ADDPCTV (Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras) atraiu muitos visitantes e suscitou muitas conversas interessantes.

BADALADAS - TEXTO 51 - 2 JULHO 2010

Le Moniteur, jornal fundado em Paris em 1789 e que se publicou até 1901. Durante muito tempo foi o órgão oficial do governo francês com o título principal de Gazette Nationale. O sub-título Le Moniteur passou a principal em 1 Janeiro de 1811.


DESINFORMAÇÃO EM TEMPO DE GUERRA




José NR Ermitão

O Le Moniteur foi o jornal oficial do governo francês durante o período revolucionário e napoleónico; transmitia notícias controladas pelo governo, boletins militares, declarações oficiais e textos de propaganda política. Apresentava também artigos culturais e tinha grande divulgação em França e na Europa.

Como a informação do Moniteur era completamente controlada pelo poder napo-leónico, podemo-nos interrogar sobre que notícias teriam os franceses acerca da invasão de Portugal pelo exército comandado por Massena. A resposta é simples: poucas, atrasadas e mentirosas.

Antes da 3ª invasão, o jornal transcreve declarações ameaçadoras de Napoleão indicando claramente os seus intentos. Nelas afirma que “Antes de um ano, os Ingleses, por muitos esforços que façam, serão expulsos da Península, e a águia imperial flutuará sobre as fortalezas de Lisboa...” (27/9/1809); que Wellington, general incompetente, terá o mesmo destino de outros generais ingleses derrotados (9/10/1809); e que “Ape-nas eu transponha os Pirenéus, o leopardo (a Inglaterra) assustado fugirá em direcção ao Oceano para evitar a vergonha, a derrota e a morte” (4/12/1809).

Com a invasão em curso, as primeiras notícias aparecidas no Moniteur, a 29/11/ 1810 (já quinze dias depois dos franceses terem abandonado as Linhas de Torres), são sobre a batalha do Buçaco e comunicam que “o ataque no Buçaco não foi senão um falso ataque... a fim de cobrir o movimento de flanco que tinha sido decidido para tornear as montanhas...” Como é evidente, nada disto é verdadeiro: o ataque francês no Buçaco não foi falso e foi rechaçado pelos luso-ingleses; e o movimento de flanco dos franceses foi posterior à sua derrota. Ou seja, o jornal transforma em manobra de diversão vitoriosa uma derrota que custou aos franceses milhares de mortos e de feridos.

No dia seguinte (30/11) o jornal torna a noticiar sobre a invasão e nos seguintes termos: “Os Ingleses tinham a sua direita em Alhandra, sobre o Tejo, a sua esquerda, perto da embocadura do Lisandro; ocupavam uma posição com dez léguas de extensão sobre uma linha de colinas entrincheiradas; (Massena) fez o que pôde para levar os Ingleses à luta; mas foi-lhe impossível travar uma batalha com um inimigo extremamente prudente e que não queria combater... resguardado... por trás de trincheiras cheias de artilharia e inexpugnáveis.»

Desta vez o jornal foi fiel à verdade, pois refere a inexpugnabilidade das Linhas, a incapacidade de Massena em as tomar e a extrema prudência de Wellington. Mas as mentiras são imediatas quando comunica “Que os regimentos e os soldados franceses recebiam diariamente a sua provisão de pão e biscoito, que se tinham organizado inúmeros armazéns de cereais e que nada havia a temer quanto a subsistências...” – ou seja, exactamente o contrário do que estava a acontecer, com a fome a morder severamente o exército de Massena.

Em 26 de Fevereiro de 1811, uma semana antes da retirada definitiva dos franceses, ainda adiantava o Moniteur que “...o dia em que o exército inglês (derrotado) embarcar, será um dia de festa...” E assim o jornal iludia os franceses falando-lhe em vitórias futuras que, como sabemos, nunca aconteceram.

Mas o cúmulo da mentira aparece no dia seguinte, 27 de Fevereiro, quando comunica “que o marechal... (Massena) tinha julgado conveniente fazer um movimento; que tinha feito chegar a sua direita até ao mar e a sua esquerda até ao Zêzere e que o seu quartel-general estava em Pombal; que os diferentes corpos de tropas a soldo da Inglaterra tinham sido derrotadas; que colunas (francesas) tinham percorrido Portugal por todo o lado e conseguido a submissão... de várias regiões.”

De facto Massena fez um movimento, de recuo; mas nem os ingleses foram derrotados nem os franceses dominaram outras parcelas do território para além das que ocupavam militar e fugazmente, nem nunca o seu quartel-general esteve em Pombal, salvo por momentos e já no movimento de retirada definitiva.

Os franceses não eram informados, mas sim desinformados. Definitivamente, numa guerra, as grandes vítimas são sempre as pessoas e a verdade!



[Publicado no Badaladas em 2 JULHO 2010]