27/04/08

Texto 7 (Jornal "BADALADAS", 25 / 04 / 2008 )


A 2ª Invasão Francesa

Maria Guilhermina Pacheco*


Napoleão Bonaparte, enquanto, prosseguia com a guerra em Portugal, forçou em Espanha, a abdicação do rei Carlos IV e do seu herdeiro D Fernando, em 1808, em Baionne, e colocou no trono espanhol o seu irmão José Bonaparte.
Perante isto, iniciou-se um movimento de revolta contra os franceses, que foi apoiado pelas tropas britânicas acantonadas no norte de Portugal. Sob o comando de John Moore, os ingleses passam a fronteira no início de 1809, tendo sofrido uma derrota na Corunha, pelos franceses comandados pelo marechal Soult. Tiveram que se retirar, deixando o caminho aberto a Soult, que invade Portugal pela fronteira do Minho, em Março de 1809, avançando até à cidade do Porto, que foi ocupada a 24 desse mês, tendo fixado a fronteira no Douro. É desta altura que se dá o trágico episódio de 29 de Março, no rio Douro, com a fuga de pessoas pela ponte das Barcas, que não aguentou com o peso, tendo morrido à volta de 4.000. Em Maio, do mesmo ano, tropas Luso-Britânicas comandadas pelo General Arthur Wellesley e pelo Comandante-em-Chefe. Marechal William Carr Beresford, vencem a chamada batalha do Douro, reconquistam a cidade e a 29 de Maio expulsam os franceses, que se retiram para a Galiza.
Entretanto as tropas de Wellesley continuam para sul, e travam a batalha de Talavera, em Julho, já em território espanhol, tendo vencido, regressando depois a Portugal.
Esta Batalha indica o final desta segunda invasão, tendo sido concedido ao general Wellesley o título de Lorde Wellington.
Pode-se destacar pela sua importância estratégica a chamada escaramuça de Serém, concelho de Vouga, uma região de difícil acesso do rio Vouga e do rio Marnel, em que o capitão-mor do Vouga, José Pereira Simões, travou o avanço do marechal Soult , para sul, e, esperou pela chegada de tropas do Batalhão Académico, a que mais tarde se juntaram reforços , comandados por Wellesley. Em consequência, o exército de Soult não conseguiu atravessar o Vouga e, tiveram que se retirar para Norte.


Professora *





O DESASTRE DA PONTE DAS BARCAS


O Porto destaca-se como um centro importante de actividades económicas, desde os princípios da nacionalidade, articulado com o rio Douro, que o protegia, como linha defensiva e, mais tarde, como meio de circulação de pessoas e mercadorias. A travessia do rio, ao longo do tempo, foi sendo feita com a ajuda de barcos, jangadas e barcaças. Há várias referências a pontes construídas utilizando barcas.
A primeira ponte, com projecto de Carlos Amarante, construída para perdurar, foi inaugurada a 15 de Agosto de 1806.Era constituída por 20 barcas ligadas por cabos de aço, podendo abrir em 2 partes para a passagem do tráfego fluvial. Foi nela que se deu o trágico acidente de 29 de Março de 1809.em que milhares de pessoas morreram afogadas. Fugindo às tropas francesas, precipitaram-se para a ponte, que não aguentou com o peso e cedeu. Quem vinha atrás, não se apercebendo do abismo, empurrou para a morte os que estavam mais adiante.
A Ponte das Barcas foi reconstruída, acabando por ser substituída pela Ponte Pênsil em 1843.
Actualmente, continua a reverenciar-se a memória destas vítimas da segunda invasão francesa com a colocação de flores e velas junto da lápide às “Alminhas da Ponte”, erigida no local do desastre.

12/04/08

Texto 6 ( Jornal "BADALADAS", 11/04/2008 )

A 1ª Invasão Francesa

Graça Andrade Mira *

A 17 de Outubro de 1807 (dez dias antes da assinatura do Tratado de Fontainebleau), Napoleão ordenou ao general Andoche Junot que entrasse em Espanha com 25 000 homens, onde se lhe reuniriam as tropas espanholas para proceder à invasão de Portugal. A 19 de Novembro Junot cruza a fronteira, chegando a Castelo Branco em lastimáveis condições de abastecimento, pelo que saqueia a cidade e toda a Beira Baixa.
A notícia da presença dos franceses em Abrantes fez apressar o embarque da família real, com destino ao Brasil. Antes porém, D. João nomeou um Conselho de Regência composto por nove personalidades representativas da nobreza, clero e magistratura e mandou afixar editais nos quais aconselhava o povo a receber os franceses como amigos, para evitar represálias.
A 29 de Novembro, Junot é saudado em Sacavém por uma delegação (constituída por personalidades ligadas à Regência, à Academia das Ciências e à Maçonaria Portuguesa) que lhe pede protecção. No dia seguinte, Junot entra em Lisboa acompanhado por uma escolta militar da Guarda Real da Polícia.
É pois, sob o lema da “protecção” que as tropas napoleónicas e espanholas invadem Portugal, ultrajado pela “maligna influência inglesa”, no dizer de Junot e em pouco tempo, todo o país se encontrava ocupado por cerca de 50 000 soldados que se espalharam por toda a nação, confiscando, pilhando, roubando, matando e prendendo a seu bel-prazer.
Torres Vedras sofreu desde logo os incómodos do alojamento e de quase todo o peso das requisições para a subsistência das tropas estacionadas não só na então Vila (cerca de 3 mil homens), como em Mafra e Peniche. O trato moderado e parcimonioso do Brigadeiro Charlot (comandante das tropas francesas) contribuiu para que Torres Vedras pudesse ter negado qualquer obséquio público ao intruso governo francês e mantivesse os cultos religiosos, inclusive o Natal.
Durante a primeira invasão, as estruturas administrativas judiciais e fiscais do Estado absoluto não sofreram qualquer alteração. Este modelo de funcionamento colaboracionista generalizou-se a quase todas as instituições, de que não foi excepção a Igreja, a qual teve uma função primordial na criação de um clima popular mais ordeiro. O púlpito foi usado para serenar o povo.
Foi nesse estado geral de “afrancesamento das instituições” que o País viveu entre 30 de Novembro de 1807 e 1 de Fevereiro de 1808, data em que Junot extingue o Conselho de Regência e proclama oficialmente a destituição da Casa Real de Bragança, numa clara violação do Tratado de Fontainebleau.
A partir de então todos os decretos, cartas e alvarás passam a ser assinados em nome de «S. M. o Imperador dos Franceses, Rei de Itália e Protector da Confederação do Reno».
O exército português foi parcialmente dissolvido e transformado numa “Legião Lusitana”, que seguiu para Espanha e depois para França e outras partes da Europa a lutar por Napoleão.
Como consequência do imposto extraordinário de 100 milhões de francos, ordenado por Napoleão, Junot lança sobre o reino uma contribuição de 40 milhões de cruzados. À Junta do Comércio são cobrados 6 milhões. O ouro e a prata das igrejas começam a ser recolhidos. Da Comarca de Torres Vedras, “a dita prata e ouro, reduzida a dinheiro somava a enorme quantia de 35 000$600 rs”. Na chamada contribuição de guerra exigida à classe comercial, “coube a este Concelho a quantia de três contos de reis e à Comarca oito contos”.
As insurreições sucedem-se de Norte a Sul do país e a pedido da Junta do Porto, o general Artur Wellesley acorre em auxílio dos portugueses, vindo a travar a 17 de Agosto, com Delaborde, o combate da Roliça-Columbeira do qual saiu vencedor e no dia 21 a batalha do Vimeiro, perdida pelo próprio Junot.
Iniciaram-se então as negociações para a rendição dos Franceses e a sua saída de Portugal, cujos termos se fixaram na chamada Convenção de Sintra.
A este propósito refira-se que, faz parte do espólio do Museu Municipal Leonel Trindade o “Bufete da Maceira”, em que foi negociado o armistício que pôs fim à 1ª Invasão Francesa.
O local, ou locais de assinatura deste documento têm levantado alguma controvérsia, surgindo inclusive questões relativamente à sua denominação. No entanto, se pretendermos denominá-la pelos locais onde foi assinada, a exemplo de outros tratados similares, a denominação mais indicada seria a de Convenção de Torres Vedras/Lisboa, uma vez que, este documento foi o tema de uma reunião do Estado Maior inglês, em Torres Vedras, no dia 28 de Agosto de 1808, onde foi validado, saindo daqui o documento que foi assinado por Junot no dia 30 de Agosto, em Lisboa.
Em Setembro, os Franceses embarcavam com destino a França, levando consigo a maior parte da pilhagem que ainda hoje se pode encontrar em museus e bibliotecas francesas.

* Professora


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