O MARECHAL MASSENA
Maria Guilhermina Pacheco
“Guindam-se aos mais altos cargos homens como Massena, contrabandista e estalajadeiro...” Raul Brandão, El-rei Junot
Realmente, poder-se-á perguntar quem foi André Massena, que em 1810 comandou a terceira invasão francesa a Portugal.
Nasceu em Nice, em 1758, o pai era taberneiro. Começou por ser grumete, na marinha mercante, depois alistou-se no exército, mas como era de origem burguesa, não podia atingir o cargo de alferes, demitiu-se, era sargento-ajudante, estava-se em 1789.
Com a revolução, vai aderir à Guarda Nacional e, regressa à vida militar, em 1792, já detém o cargo de chefe de batalhão e, em 1793, era general de divisão.
Conhecido como bom estratega, Napoleão, elogiava-o, dizendo que tinha “...des talents militaires devant lesquels il faut se prosterner...”. (talentos militares, diante dos quais temos de nos inclinar…)
A sua carreira militar não se caracteriza, no entanto, por uma ascensão contínua, terá campanhas vitoriosas, seguidas de períodos de abrandamento ou mesmo paragem.
Entre 1795 e 1799, Massena, combate os piemonteses, os austríacos, tendo alcançado vitórias em Loano (1795) e na campanha da Itália (1797), mas vai ser em Zurique (1799) que consegue uma das suas mais importantes vitórias militares. Como resultado, ganha o cognome de Filho Querido da Vitória e o título de marechal.
Entretanto, em França a cena política sofre mudanças, Massena é republicano, mas não aprovou o golpe de 18 de Brumário, vai apoiar o Império, e passa a fazer parte da lista dos marechais do exército francês, tendo recebido a condecoração da Grã-cruz da Legião de Honra.
Novamente em campanha, trava batalhas na Itália e na Polónia, tendo tido êxito em Essling e Wagram (1809). Teve um acidente, impossibilitando-o de combater, e será durante a sua recuperação que Napoleão o vai enviar como comandante do exército que invadirá Portugal pela terceira vez.
Este exército estava dividido em três corpos, comandados respectivamente por Reynier, Ney e Junot, tinha também, uma divisão de cavalaria comandada por Kellerman, no total eram 65 000 homens, tinha ainda 65 oficiais e 16 ajudantes-de-campo sob as suas ordens.
Em Julho de 1810, o exército francês está perto da fronteira portuguesa. Depois de ocupar Astorga e Cidade Rodrigo, prepara-se para tomar a praça de Almeida, o que consegue devido a uma explosão no paiol, tendo o seu responsável, Costa e Almeida, capitulado.
A 15 de Setembro, Massena inicia a invasão, dirige-se para Celorico da Beira, seguidamente Fornos de Algodres em direcção ao Mondego. Entretanto as populações com medo e recebendo ordens de Wellington, abandonam as suas casas, contribuindo para dificultar o abastecimento ao exército inimigo. Massena vai seguindo para o interior do país as tropas de Wellington, não se apercebendo da estratégia. Encontram-se os dois exércitos em Buçaco, tendo as tropas portuguesas e inglesas lutado tão vigorosamente que os franceses tiveram que retirar, perdendo 4 498 homens.
Massena, no entanto, ansiava chegar a Lisboa, e continuou o seu caminho, indo em direcção a Coimbra que tomou e pilhou, e continuou desconhecendo a existência de fortes defesas: Linhas de Torres Vedras. Aí não teve capacidade para atacar, ficando à espera de reforços, enquanto os seus soldados saqueavam as populações das aldeias mais perto, havendo também grupos de desertores que se organizavam em quadrilhas de ladrões, devastando tudo à sua roda.
Em meados de Novembro, Massena, dá inicio à retirada, tendo seguido na direcção de Santarém, quando a ajuda que esperava chegou, era insuficiente, pelo que o comandante francês resolveu retirar-se para Espanha. O seu caminho de regresso não foi fácil, vários foram os encontros entre os dois exércitos, a retirada tinha-se iniciado a 4 de Março de 1811, e atravessa a fronteira a 8 de Abril, continuando a ser perseguido quer pelos aliados quer por grupos de guerrilhas e de milícias.
O próprio exército francês sofre problemas fracturantes como é o caso da insubordinação de Ney, que não concorda com a estratégia do marechal, tendo sido destituído do seu comando.
Em Espanha travou vários combates, destacando-se o de Fuentes de Oñoro a 2 de Maio, tendo sido posteriormente destituído do seu cargo por Napoleão e substituído por Marmont, duque de Ragusa.
Com as mudanças políticas em França, aceita a Restauração e Luís XVIII, mantém-no como comandante da 8ª divisão militar em Marselha. Morre em Paris em 1817.
Massena distinguiu-se como militar pela coragem, dotes estratégicos e mesmo bravura, mas como pessoa, actuou de uma forma ambiciosa e sem escrúpulos, esquecendo-se muitas vezes da posição que detinha, aproximando-se das atitudes dos seus subordinados. Assim, em 10 anos aumentou sua fortuna pessoal em 40 milhões de francos.
“Em Portugal, deixou um rasto de ruínas e de morte, que ficarão pelos tempos fora, a macular a sua memória e a empanar o lustre que alcançou nos campos de batalha.” (António Álvaro Dória)
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15/03/10
20/05/09
BADALADAS - Texto 30 - 15 MAIO 2009


ALMEIDA E BUÇACO: NOTAS DE VIAGEM
Manuela Catarino
Ao despontar da manhã, o céu confirma as previsões meteorológicas e anuncia os primeiros dias radiosos de Maio. Abrem-se sorrisos na perspectiva de um início de viagem agradável, que se vai confirmando com o galgar da distância, estrada fora. Embaladas, pela cadência da condução segura, as pálpebras fecham-se, por momentos, esquecendo a paisagem que corre do outro lado do vidro. Quando se reabrem, na primeira paragem, a perspectiva de um rápido e energético cafezinho permite constatar que não foi um sonho: o sol brilha. Eis a primavera …
De regresso ao alcatrão, que a velocidade engole, vai-se sobrepondo a paisagem em mutação. A caminho de uma Beira interior, de feições bem marcadas pela pedra que se modela ao vento, às chuvas dos dias invernosos, e pela vegetação que vai ganhando coloridos primaveris, os olhos habituam-se a descobrir permanências e mudanças. Não se encontram grandes aglomerados populacionais e, de quando em vez, os pardieiros, ermos, em ruínas, pontuam o espaço outrora habitado. Nos céus, as asas de uma ave de rapina espraiam-se pelo azul sem nuvens. Sobre uma torre, aninham-se cegonhas. Manchas acastanhadas de bovinos jovens preguiçam por entre ervas que guardam os restos da fresca madrugada. Sucedem-se as placas de toponímia, e as peculiaridades de cada paisagem ressaltam no nome escolhido para designar o espaço em que se vive e as
águas que nele serpenteiam.
Sinal do progresso dos tempos, o viaduto transpõe distâncias e quase esconde a velha ponte. Uma paragem. Pelo caminho, ornado de vivos tons florísticos, despontam tufos de rosmaninho. Na ponte sobre o rio Côa, apenas se distinguem os murmúrios da água corrente. Poluída, é certo, mas longe do vermelho intenso que terá conhecido após os primeiros combates que ali ocorreram na terceira invasão francesa. Memória gravada em pedra, ali permanece em nome de sonhos, vidas, feitos militares, medos e perdas, que à escala humana não têm nação nem bandeira.
Recordados os episódios históricos, de novo à estrada, e “com alma até Almeida”!!!!!! A impressão que se tem quando se entra a porta de S. Francisco é esmagadora. A abóbada que se ergue sobre as cabeças dos transeuntes é sólida e transmite confiança, tanta quanto a necessidade de defesa contra os ataques dos invasores que teria de suportar. E, ao entrarmos no perímetro amuralhado e circularmos pelo antigo caminho de Ronda sentimo-nos atraídos pela magnífica paisagem envolvente, sem contudo podermos despegar os olhos daquela imensa conjugação de traveses, parapeitos, baluartes, revelins, trincheiras, guaritas, redutos e mais elementos necessários à arte militar que ainda ali se apresentam. Quase nos esquecemos que foi esta praça-forte a sentinela raiana que enfrentou invasões, exigindo-se-lhe o maior dos sacrifícios: deter por todo o tempo possível os exércitos de Massena, com ordens de entrar em Portugal e dominar Lisboa definitivamente. Só a violenta explosão, que no dia 26 de Agosto de 1810, deixou marcas indeléveis na memória, e nas pedras do castelo velho, acabou por lhe ditar a trágica rendição.
E o cair da tarde prenuncia-se nas sombras que se adensam. Altaneira, a cidade da Guarda, surge ante nossos olhos numa mistura de lenda e modernidade. É a serra que se impõe. Ares frios e secos, bons para um sono reparador.
Manhã soalheira e nós em direcção ao Buçaco. Imaginamos o calvário da marcha de milhares de homens a caminho da batalha. Há 200 anos eles passaram por aqui, por caminhos velhos e pedregosos, ravinas e outeiros, sempre a marchar, à fome e ao frio, sem saberem o seu destino. Mas o nosso autocarro é de turismo cultural, ironia tremenda da História. Queremos evocar, homenagear, reconhecer aqueles heróis. Apenas se fala de generais – Crowfurd, Wellesley, Massena, Ney, Reinier, Junot – mas o sangue que correu em 1810 era de milhares de anónimos, franceses obrigados a atacarem, portugueses e ingleses obrigados a defenderem. Ali está o Moinho de Moura, nas faldas do Buçaco, inscrição atestando ter sido ali o Posto de Comando de Massena.


Mais adiante o Moinho de Sula, posto de comando do inglês Crowfurd, que já se batera, semanas antes, na Ponte do Côa com a sua Divisão Ligeira. E a tradição do moleiro que teimou em subir para desfraldar as velas, pois para ele não havia feriados mesmo que fosse dia de batalha a sério. E chegamos ao Obelisco comemorativo da batalha. Dominando a paisagem, grito de pedra a lembrar aos viajantes o sofrimento inaudito de milhares de homens que ali morreram. O Museu Militar mostra fardas, armas, mapas, gravuras. Porque é preciso manter viva a memória.
Alonga-se a vista na panorâmica soberba da Cruz Alta. Fim, quase, de viagem. Início de uma descida ao coração verde da mata. Veredas, folhas, troncos, cenóbios desabitados. A comunhão com a mãe-natureza. Em nome de todos os deuses. Em memória de todos os homens.
Alonga-se a vista na panorâmica soberba da Cruz Alta. Fim, quase, de viagem. Início de uma descida ao coração verde da mata. Veredas, folhas, troncos, cenóbios desabitados. A comunhão com a mãe-natureza. Em nome de todos os deuses. Em memória de todos os homens.

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Ponte do Côa
09/04/09
VISITA GUIADA AOS LOCAIS DA 3ª INVASÃO FRANCESA
Estão abertas as inscrições para esta VIAGEM / VISITA GUIADA. Parece-nos uma boa sugestão para dois dias de Primavera...
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Terceira Invasão Francesa
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