15/03/10

BADALADAS - Texto 46 - 26 FEVEREIRO 2010

O MARECHAL MASSENA

Maria Guilhermina Pacheco


“Guindam-se aos mais altos cargos homens como Massena, contrabandista e estalajadeiro...” Raul Brandão, El-rei Junot


Realmente, poder-se-á perguntar quem foi André Massena, que em 1810 comandou a terceira invasão francesa a Portugal.

Nasceu em Nice, em 1758, o pai era taberneiro. Começou por ser grumete, na marinha mercante, depois alistou-se no exército, mas como era de origem burguesa, não podia atingir o cargo de alferes, demitiu-se, era sargento-ajudante, estava-se em 1789.

Com a revolução, vai aderir à Guarda Nacional e, regressa à vida militar, em 1792, já detém o cargo de chefe de batalhão e, em 1793, era general de divisão.
Conhecido como bom estratega, Napoleão, elogiava-o, dizendo que tinha “...des talents militaires devant lesquels il faut se prosterner...”. (talentos militares, diante dos quais temos de nos inclinar…)
A sua carreira militar não se caracteriza, no entanto, por uma ascensão contínua, terá campanhas vitoriosas, seguidas de períodos de abrandamento ou mesmo paragem.
Entre 1795 e 1799, Massena, combate os piemonteses, os austríacos, tendo alcançado vitórias em Loano (1795) e na campanha da Itália (1797), mas vai ser em Zurique (1799) que consegue uma das suas mais importantes vitórias militares. Como resultado, ganha o cognome de Filho Querido da Vitória e o título de marechal.
Entretanto, em França a cena política sofre mudanças, Massena é republicano, mas não aprovou o golpe de 18 de Brumário, vai apoiar o Império, e passa a fazer parte da lista dos marechais do exército francês, tendo recebido a condecoração da Grã-cruz da Legião de Honra.

Novamente em campanha, trava batalhas na Itália e na Polónia, tendo tido êxito em Essling e Wagram (1809). Teve um acidente, impossibilitando-o de combater, e será durante a sua recuperação que Napoleão o vai enviar como comandante do exército que invadirá Portugal pela terceira vez.
Este exército estava dividido em três corpos, comandados respectivamente por Reynier, Ney e Junot, tinha também, uma divisão de cavalaria comandada por Kellerman, no total eram 65 000 homens, tinha ainda 65 oficiais e 16 ajudantes-de-campo sob as suas ordens.
Em Julho de 1810, o exército francês está perto da fronteira portuguesa. Depois de ocupar Astorga e Cidade Rodrigo, prepara-se para tomar a praça de Almeida, o que consegue devido a uma explosão no paiol, tendo o seu responsável, Costa e Almeida, capitulado.

A 15 de Setembro, Massena inicia a invasão, dirige-se para Celorico da Beira, seguidamente Fornos de Algodres em direcção ao Mondego. Entretanto as populações com medo e recebendo ordens de Wellington, abandonam as suas casas, contribuindo para dificultar o abastecimento ao exército inimigo. Massena vai seguindo para o interior do país as tropas de Wellington, não se apercebendo da estratégia. Encontram-se os dois exércitos em Buçaco, tendo as tropas portuguesas e inglesas lutado tão vigorosamente que os franceses tiveram que retirar, perdendo 4 498 homens.
Massena, no entanto, ansiava chegar a Lisboa, e continuou o seu caminho, indo em direcção a Coimbra que tomou e pilhou, e continuou desconhecendo a existência de fortes defesas: Linhas de Torres Vedras. Aí não teve capacidade para atacar, ficando à espera de reforços, enquanto os seus soldados saqueavam as populações das aldeias mais perto, havendo também grupos de desertores que se organizavam em quadrilhas de ladrões, devastando tudo à sua roda.

Em meados de Novembro, Massena, dá inicio à retirada, tendo seguido na direcção de Santarém, quando a ajuda que esperava chegou, era insuficiente, pelo que o comandante francês resolveu retirar-se para Espanha. O seu caminho de regresso não foi fácil, vários foram os encontros entre os dois exércitos, a retirada tinha-se iniciado a 4 de Março de 1811, e atravessa a fronteira a 8 de Abril, continuando a ser perseguido quer pelos aliados quer por grupos de guerrilhas e de milícias.
O próprio exército francês sofre problemas fracturantes como é o caso da insubordinação de Ney, que não concorda com a estratégia do marechal, tendo sido destituído do seu comando.
Em Espanha travou vários combates, destacando-se o de Fuentes de Oñoro a 2 de Maio, tendo sido posteriormente destituído do seu cargo por Napoleão e substituído por Marmont, duque de Ragusa.

Com as mudanças políticas em França, aceita a Restauração e Luís XVIII, mantém-no como comandante da 8ª divisão militar em Marselha. Morre em Paris em 1817.
Massena distinguiu-se como militar pela coragem, dotes estratégicos e mesmo bravura, mas como pessoa, actuou de uma forma ambiciosa e sem escrúpulos, esquecendo-se muitas vezes da posição que detinha, aproximando-se das atitudes dos seus subordinados. Assim, em 10 anos aumentou sua fortuna pessoal em 40 milhões de francos.
“Em Portugal, deixou um rasto de ruínas e de morte, que ficarão pelos tempos fora, a macular a sua memória e a empanar o lustre que alcançou nos campos de batalha.” (António Álvaro Dória)

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