25/02/09

IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR - II 12 Fev 2009 - FRENTE OESTE






INÍCIO DA REVOLUÇÃO FRANCESA

A tomada da Bastilha a 14 de Julho de 1789, hoje solenizada no feriado nacional dos Franceses, tornou-se o símbolo maior da Revolução. O povo de Paris, amotinado, assaltou lojas de armas e atacou e tomou a principal prisão do Estado onde supunha encontrar mais armamento. Pelas funções que desempenhava, a Bastilha constituía a imagem da repressão e injustiça do poder absoluto, pelo que a sua queda se revestiu de um enorme simbolismo para os revolucionários.
Mas após esse momento de vitória, os parisienses, revoltados e armados, continuaram o processo insurreccional. Apoderaram-se das instituições administrativas e organizaram uma milícia própria e patriótica – a Guarda Nacional – que passou a envergar uma farda tricolor: vermelho e azul do brasão armorial da cidade, e branco dos Bourbons, a dinastia reinante. Seria esta a força militar em que se apoiariam os interesses revolucionários enquanto na cidade ganhava forma a Comuna de Paris e em outras cidades, por toda a França, os acontecimentos se precipitavam. A Revolução estava em marcha.
Enquanto o ambiente revolucionário ia crescendo não era unânime o sentir social – para uns, o clima era de entusiasmo, para outros, reinava o medo e a instabilidade. Foi durante esse período conturbado que a Assembleia Nacional Constituinte, desenvolvendo uma intensa actividade legislativa, pôs cobro à ordem político-social vigente – a do Antigo Regime – e fundou um novo quadro politico-institucional e uma nova ordem social, a do Liberalismo.
Da Assembleia Constituinte procederá o documento que mais repercussão irá ter na História humana: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada a 26 de Agosto de 1789. Destinada a servir de preâmbulo à futura Constituição francesa, os seus princípios fundamentais não se dirigiam unicamente aos franceses, podendo ser aplicados a qualquer regime político. Documento que define um novo conceito de Homem e de Cidadão, nele se consubstancia o primado dos direitos individuais e da Liberdade.
Estas mudanças revolucionárias fizeram estremecer toda a Europa e a Guerra Peninsular foi uma das suas consequências.


Manuela Catarino

24/02/09

Texto nº 26 ( Jornal "BADALADAS", 13 / 02 / 2009)




REVOLTAS POPULARES NO ALGARVE CONTRA OS FRANCESES DE JUNOT

Henrique Vieira*

Junot ocupou Portugal a partir de finais de Novembro de 1807. Os actos que se seguiram foram os do ocupante que procura neutralizar qualquer possibilidade de revolta: desarmamento geral, imposição da lei marcial com julgamentos sumários que espalham terror, lançamento de pesados impostos. Junot fixou o quartel-general em Lisboa mas as tropas francesas e espanholas espalharam-se pelos principais pontos do país. O Algarve foi inicialmente ocupado pelo general espanhol Campigny mas, depois de um desentendimento com os franceses, são estes que vêm a fixar-se em Faro, sob o comando do general Maurin.
Nos primeiros dias de Março de 1808, este general lança um tributo mensal de 1.200$000 reis, a ser pago pelas comarcas de Faro, Tavira e Lagos, para o chamado prato do governador (para o sustento da sua casa e estado), para além de outros impostos diversos. Tudo o que era ouro e prata das igrejas passou para as mãos dos franceses, sob o pretexto que eram mais úteis no fabrico de moedas de ouro e prata do que no sítio onde estavam. Destes actos ainda hoje os mais antigos utilizam as expressões “Roubar à grande e à francesa” e “Tens mais artes que os Bonapartes”.

Entretanto em Espanha, a 2 de Maio, inicia-se a sublevação contra a ocupação napoleónica e a 26 processa-se a Revolta da Andaluzia estabelecendo-se, em Sevilha, uma Suprema Junta de Governo que, a 6 de Junho, declara guerra à França, em nome de Fernando VII, Rei de Espanha. Em Julho os franceses, até aí invencíveis, sofrem uma grande derrota em Bailén, Espanha. As notícias destes acontecimentos chegam rapidamente ao Algarve. Junot ordena a Maurin que concentre os seus homens nas fortalezas do Guadiana, pelo que passam a ser pequenos os contingentes franceses que ficam nas cidades e fortalezas de defesa da costa. Por esta altura a armada inglesa mantém uma vigilância permanente nas costas algarvias e nas da Andaluzia, dificultando ao máximo o abastecimento dos franceses. O povo, insofrido com a ocupação, esperava apenas um rastilho para incendiar a revolta. Ele surge quando, em 12 de Junho se iniciam os preparativos para a festa de Santo António, em Olhão. João da Rosa, ao armar o andor para colocar o Santo, “olhando para as armas reais que estão na dita capela e se achavam tapadas e pregadas com um painel da Senhora da Conceição, pô-las a público, sem olhar a mais nada e somente confiado em Deus”. No dia 13 quando os marítimos se dirigiam para a festa e vendo tal acto, foram para a praia e embandeiraram todas as embarcações com a bandeira portuguesa e lançaram vivas ao Príncipe Regente e à Liberdade.
Quatro dias depois o tenente – coronel José Lopes de Sousa, governador da praça de Vila Real de Santo António, que estava em Olhão há dois meses, ao dirigir-se com a sua família para a missa do Corpo de Deus, reparou que alguns marítimos tentavam ler um edital que estava fixado à porta da igreja, no qual Junot incentivava os portugueses a aliarem-se aos franceses contra os espanhóis revoltosos. Lopes de Sousa rasga o cartaz e diz: -”Já não merecemos o nome de portugueses e já não há homens do mar como os antigos!” ao que respondem os presentes que “eram homens como os seus antecessores, fiéis e leais a Sua Majestade, por quem estavam prontos a derramar a última pinga de sangue (…). Logo, sem mais demora, correu cada um quanto mais podia a rasgar os editais; subindo à torre puseram-se a tocar a rebate e todos a uma voz puseram-se a clamar: Viva Sua Majestade e o Príncipe Regente, Nosso Senhor, Dom João de Portugal; Viva toda a Família Real; Vivam todos os nossos governos portugueses que foram fiéis ao nosso amado Príncipe; morra toda a nação francesa”.

A partir daqui desenrolam-se múltiplos confrontos. Os franceses estão agora perante uma população exaltada e disposta a tudo para recuperar a liberdade. Olhão, mas também Faro, Tavira e Vila Real de Santo António, entre outras localidades, sem qualquer apoio militar, desgastam a tropa francesa com acções constantes de guerrilha, infligindo baixas entre os soldados inimigos. Um barco de Olhão, com 17 tripulantes, mete-se ao mar e leva ao Príncipe Regente no Brasil, novas do Algarve em armas. Acto heróico que ainda hoje se evoca no nome de Vila de Olhão da Restauração concedido pelo Príncipe.
Por todo o lado os franceses não mais terão descanso até serem obrigados a abandonarem o país, após a Convenção de Sintra, em finais de Agosto de 1808.

* Professor

06/02/09

Texto nº 25 ( Jornal "BADALADAS", 30 / 01 / 2009)



CONTINUAR A MANTER VIVA A MEMÓRIA


J. Moedas Duarte


Faz agora um ano que se iniciou esta rubrica dedicada ao Bicentenário das Invasões Francesas. Foi referido na altura que não se trata de um revolver inútil no passado mas sim de manter viva a memória de um conjunto de acontecimentos ocorridos entre 1807 e 1810, na perspectiva de que o conhecimento da História é um factor necessário para o entendimento do presente. “Uma sociedade sem memória é um ser errático e vazio” – escrevia-se no primeiro texto desta rubrica.
Sabemos que esta iniciativa da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, em colaboração com o jornal Badaladas, tem tido bom acolhimento. Até já recebemos várias sugestões para que estes textos venham a ser compilados numa futura publicação, hipótese a ponderar oportunamente. É nossa intenção continuar a publicar estes artigos duas vezes por mês, até ao final do próximo ano, cobrindo assim todo o período das comemorações.
Para os leitores que estão a coleccionar estes textos de divulgação e respondendo a uma sugestão que nos foi apresentada, publicamos hoje a sua lista completa.


1
25-01-08
Manter viva a memória
J. Moedas Duarte

2
15-02-08
Guerra Peninsular
Carlos Guardado
3
29-02-08
Napoleão
J. Travanca Rodrigues
4
14-03-08
França e Inglaterra em confronto
J. Travanca Rodrigues
5
28-03-08
Guerra Peninsular: Porque é que Portugal se viu envolvido
J. Moedas Duarte
6
11-04-08
A 1ª Invasão Francesa
Graça Mira
7
25-04-08
A 2ª Invasão Francesa
Mª Guilhermina Pacheco
8
09-05-08
A 3ª Invasão Francesa
Manuela Catarino
9
23-05-08
Jacinto Correia, um herói popular
Major Abílio Lousada
10
13-06-08
“Brilos”: um enigma histórico
Pedro Fiéis
11
27-06-08
A batalha de Dois Portos
Venerando A de Matos

11-07-08
Programa da Visita Guiada à Roliça e Vimeiro

12
18-07-08
A batalha da Roliça
Pedro Fiéis
13
25-07-08
O príncipe Regente D. João comunica a passagem da família real para o Brasil
José Ermitão
14
01-08-08
Doutrinas militares em confronto na Guerra Peninsular: os Franceses
Pedro Fiéis
15
15-08-08
Doutrinas militares em confronto na Guerra Peninsular: os Ingleses
Pedro Fiéis
16
22-08-08
A batalha do Vimeiro
Pedro Fiéis
17
12-09-08
As denúncias contra os partidários dos franceses
José Ermitão
18
26-09-08
As aguadeiras do exército francês
Pedro Fiéis
19
10-10-08
A conspiração do Porto [1]
João Flores Cunha
20
24-10-08
A conspiração do Porto [2]
João Flores Cunha
21
14-11-08
Manifesto de declaração de guerra à França
José Ermitão

28-11-08
1º Suplemento “Bicentenário Inv. Francesas”
Vários
22
12-12-08
A Comemoração do 1º centenário da Guerra Peninsular
Célia Reis
23
02-01-09
Marrocos e a 1ª Invasão Francesa
José Ermitão
24
16-01-09
História e Literatura de ficção. As Aventuras de Richard Sharpe, um herói no tempo das guerras napoleónicas
Manuela Catarino


COMISSÃO MUNICIPAL

Entretanto a Câmara Municipal de Torres Vedras deliberou constituir uma Comissão Municipal para a Comemoração do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras ( CM200anos), cuja missão é a de propor e executar um programa comemorativo de âmbito concelhio, a ter lugar entre finais de 2009 e 2010. Esta Comissão tem uma componente executiva, da qual fazem parte quadros humanos do Município e elementos da comunidade local convidados para o efeito; e uma componente consultiva, para a qual estão a ser convidadas as associações culturais, os agrupamentos de escolas e as Juntas de Freguesia.
Por último recordamos que foi criado um blogue na Internet onde são publicados os textos desta rubrica, bem como informações e bibliografia sobre o tema da Guerra Peninsular. Endereço:
http://linhasdetorres.blogspot.com/

NÃO PARAR...

Iniciámos no dia 5 de Fevereiro uma nova rubrica no outro jornal regional de Torres Vedras, o FRENTE OESTE.
Tem o título de IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR.
Pretendemos publicar semanalmente uma imagem da Guerra Peninsular, acompanhada de um texto que a complete ou explique. A intenção, mais uma vez, é DIVULGAR conhecimentos sobre esta época histórica.
Julgamos que será possível, assim, pôr à disposição dos leitores em geral e também dos alunos das nossas escolas, alguns materiais interessantes que lhes possam ser úteis.
Na sua utilização apenas pedimos que identifiquem a origem (http://linhasdetorres.blogspot.com) e, caso venha indicado no texto, o autor.

05/02/09

IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR - I / 5 Fev 2009 - FRENTE OESTE




GUARDAR BEM VIVA A MEMÓRIA


Entre o Campo Grande e o início da Avenida da República, em Lisboa, ergue-se o monumento aos heróis da Guerra Peninsular, inaugurado em 1933. A ideia da sua construção nasceu em 1908, na comemoração do 1º centenário daquela guerra. Os autores, o arquitecto Francisco Ferreira e o escultor José de Oliveira Ferreira, procuraram exprimir, no estilo da época, a gratidão para com o povo e os militares portugueses que enfrentaram os poderosos exércitos napoleónicos.
Comemoramos agora os 200 anos destes acontecimentos. Não se trata de festejar mas sim de evocar, guardar bem viva a memória de um tempo em que Portugal foi invadido três vezes, a Coroa real e as suas elites embarcaram para o Brasil (em fuga ou obedecendo a um desígnio estratégico?) e ao povo foi pedido que sofresse e resistisse. Foi o tempo das Invasões Francesas, também conhecido por Guerra Peninsular, no início do século XIX. Recordemos sucintamente:
Andoche Junot, no Outono de 1807, atravessa a Espanha, entra pela Beira Baixa com um exército de 25000 homens e tenta chegar a Lisboa para aprisionar a família real portuguesa. Quase consegue: dois dias antes o Príncipe Regente D. João, a família e cerca de 15000 pessoas em pânico haviam embarcado para o Brasil. Em 1809 dá-se a segunda invasão, comandada pelo general Soult que entra por Trás-os-Montes com o objectivo de ocupar o Porto e descer depois à conquista de Lisboa. Enfrenta uma resistência desorganizada mas tenaz, e é obrigado a retirar. Um ano depois é Massena que comanda a terceira invasão mas encontra no seu caminho as Linhas de Torres Vedras, uma formidável obra de engenharia militar. Não consegue passar em direcção a Lisboa e retira, perseguido pelas forças luso-britânicas comandadas pelo general inglês Arthur Wellesley, duque de Wellington.
Estes acontecimentos marcaram todo o século XIX português e moldaram a nossa contemporaneidade. E porque é necessário alimentar e manter a nossa memória colectiva, a Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, no âmbito da sua missão e em colaboração com o Frente Oeste, vai publicar semanalmente neste espaço a rubrica IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR, com o objectivo de divulgar alguns conhecimentos sobre esta época tão marcante da nossa História.

J. Moedas Duarte