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04/06/09

FRENTE OESTE - Texto16 - 21 MAIO 2009





O GENERAL JUNOT



J. Moedas Duarte



Este foi o homem de Napoleão que mais contacto teve com Portugal durante a guerra peninsular: embaixador de França no nosso país em 1805, comandante da 1ª Invasão Francesa em 1807 e comandante do 8º Corpo do Exército de Portugal na 3ª Invasão, sob o Comandante-em-chefe Massena.
Filho de um lavrador da Borgonha, Andoche Junot era estudante de Direito quando se alistou como soldado granadeiro num batalhão de voluntários da Côte d’Or , em 1791. Tinha 20 anos. Fogoso e temerário, - os colegas alcunharam-no de “Junot la Tampête” ( A tempestade) – em 1792 já era Sargento. Participou no cerco de Toulon e de tal modo que Napoleão reparou nele e fê-lo seu secretário e, pouco depois, seu ajudante-de-campo com o posto de Capitão. Ao lado de Napoleão, fez toda a campanha da Itália, onde foi gravemente ferido. Em 1798 foi promovido a General de Brigada durante a expedição ao Egipto. Governador de Paris em 1800, é nomeado General de Divisão em 1804 e Coronel-General dos Hussardos, uma das maiores dignidades do exército napoleónico.
A sua nomeação para Embaixador de França em Portugal, em 1805, parece ter sido uma compensação por não chegar a Marechal, posto supremo da carreira militar. Pouco tempo aqui ficou pois ainda neste ano acompanha o Imperador na campanha da Alemanha, onde participou na batalha de Austerlitz. Em 1806 passa alguns meses como Governador-Geral de Parma e é, de novo, nomeado Governador Militar de Paris.
Quando Napoleão decide invadir Portugal em consequência do Bloqueio Continental, é a Junot que confia o comando do Corpo de Observação da Gironda, um exército de cerca de 26 000 homens que atravessa a Espanha e entra no nosso território em 19 de Novembro de 1807. Em 30 de Novembro chega a Lisboa à frente de um pequeno destacamento pois o grosso do seu exército ficara para trás, atolado por tempestades diluvianas em caminhos intransitáveis. Não consegue aprisionar a família real portuguesa, que se escapara um dia antes para o Brasil, mas ocupa como vencedor um país decapitado das suas chefias naturais. Em 1808 é feito Duque de Abrantes. As revoltas populares a partir de Maio de 1808 prenunciam as derrotas militares na Roliça e no Vimeiro, em Agosto desse ano. Pela Convenção de Sintra abandona Portugal. Em 1809 é comandante do Exército de Reserva da Alemanha. Em 1810 entra de novo em Portugal durante a 3ª Invasão, à frente do 8 º Corpo do exército comandado por Massena. Em 1812 participa na invasão da Rússia como Comandante do 2º Corpo do Grande Exército francês. Começa aqui a sua decadência. Ainda é nomeado Governador de Veneza mas notam-se já os sinais de loucura que acabarão por levá-lo ao suicídio, em 1813. Tinha 42 anos.

21/04/09

IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR - TEXTO 12 - 23 ABRIL 2009 - FRENTE OESTE




Monumento em memória de Jacinto Correia,
frente ao topo sul do Convento de Mafra

JACINTO CORREIA,
UM HERÓI POPULAR DE MAFRA


Tenente-coronel Abílio Pires Lousada



Fronteira de Segura - Beira Baixa, 20 de Novembro de 1807. À frente de um exército de 26500 homens, o general francês Andoche Junot invadiu Portugal para conquistar Portugal.

Lisboa, 30 de Novembro de 1807. Junot entra, com o seu exército, em Lisboa.

Lugar de Atouguia, Gorcinhos – Mafra, finais de Janeiro de 1808. Ao final da manhã, o jornaleiro Jacinto Correia, habitante da área, de 46 anos, casado e com filhos, dirige-se, como habitualmente, para casa com o produto do seu trabalho. No caminho, é abordado bruscamente por dois soldados franceses que o pretendem roubar. Jacinto Correia não teme e não cede, segue-se uma violenta luta entre os três homens. O jornaleiro saloio, homem de rija têmpera e habituado ao trabalho duro do campo, habilmente e com raiva, brande a foice roçadora e golpeia mortalmente os dois soldados que o atacaram.
Em pouco tempo, uma força militar francesa detém Jacinto Correia, que é presente a tribunal e julgado num Conselho de Guerra.
Apesar de algumas autoridades locais tentarem o perdão do jornaleiro, o Tribunal empurrou o processo para uma incriminação do réu, que impunha punir exemplarmente.
Em determinada altura do julgamento, porque o jornaleiro apresentava uma atitude de serenidade e desafio, foi-lhe perguntado por Loison, comandante militar francês da região, “se o arrependimento já tinha exercido algum efeito no seu espírito”. A resposta, tão convicta como desconcertante, “se todos os Portugueses fossem como eu, não ficaria um francês vivo”, enraiveceu Loison.
Jacinto Correia foi condenado à morte e fuzilado no campo da Alameda, no topo sul do Convento de Mafra, a 25 de Janeiro de 1808.
Tratou-se de um acto heróico, que correu célere de boca em boca. Junot, temendo que a atitude patriótica do «mafrense» estimulasse ânimos e ódios para provocações futuras, publicou uma semana depois a notícia da execução de Jacinto Correia:

«Um dos vossos compatriotas, Jacinto Correia, convencido de um grande crime, foi condenado á morte; Esta severidade das leis assegura a tranquilidade pública de que dependem as vossas vidas e propriedades» (Gazeta de Lisboa, 1 de Fevereiro de 1808)

14/04/09

IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR - TEXTO 11 - 16 ABRIL 2009 FrenteOeste






Aguarela grisaille, Luís António Xavier: «La Veritable entrée des protecteurs en Lisbonne le 30 Novembre de 1807». Lisboa, MC. PIN. 284


A PRIMEIRA INVASÃO FRANCESA


Joaquim Moedas Duarte

Estava-se em 1807. Napoleão varria a Europa central com a política do ferro e do fogo. Nada parecia resistir. Mas faltava-lhe aniquilar a Inglaterra. Esta, acantonada na ilha e dominadora dos mares, não se dobrava e tinha em Portugal um ancoradouro fiel.
Dominada a Espanha, o reduto português parecia alvo fácil. Escrevinha-se em Fontainebleau o tratado que retalha Portugal: uma parte para a Espanha, a outra para a França. Em Novembro deste ano, um exército de 25 000 homens põe-se em marcha, atravessa a Espanha e irrompe pela Beira, sob o comando de Andoche Junot, general de Napoleão, que havia estado em Portugal, três anos antes, como embaixador. Tem como objectivos a chegada em triunfo a Lisboa e a prisão da família real portuguesa. Mas uma barreira formidável se lhe opõe: não de exércitos mas de tempestades torrenciais que inundam os poucos caminhos que por aqui havia e transformam a marcha do seu exército numa espantosa calamidade humana. Soldados – homens! – arrastam-se, devoram o que encontram, matam, saqueiam, sobrevivem na lama, no frio, no dilúvio. Raul Brandão, no livro El-Rei Junot, descreve com pinceladas impressionantes este drama que envolve invasores e invadidos.
Que fazem os chefes portugueses? Organizam a defesa? Uma testemunha da época diz que teriam bastado mil espingardas para deter Junot. Mas nem uma se lhe opôs. Ouro e pedras preciosas foram enviados em desespero para comprar a benevolência de Napoleão. De nada serviram. Diplomatas atormentados fingiam aos franceses que estavam contra os ingleses, imploravam aos ingleses que os defendessem dos franceses. Uma decisão é tomada, a conselho da Inglaterra: transferir a família real para o Brasil, então colónia portuguesa, garantindo a continuidade da soberania. Com o Regente D. João (futuro rei D. João VI), sua mãe D. Maria I e seus filhos, fogem cerca de 15 000 pessoas, a elite do país: nobres, clérigos, juízes, militares, comerciantes, políticos, e mais as respectivas mulheres, e os servos, os criados, as bagagens. Indiferentes ao desespero do povo, safavam a pele. Tudo o que navegava foi tomado de assalto por esta horda amedrontada que uma aberta de temporal amainado permitiu sair do Tejo, direcção do Brasil. Junot e os 1 500 homens que sobraram da marcha forçada falharam a captura real por uma tira de horas. Foi nos dias finais de Novembro de 1807.

24/02/09

Texto nº 26 ( Jornal "BADALADAS", 13 / 02 / 2009)




REVOLTAS POPULARES NO ALGARVE CONTRA OS FRANCESES DE JUNOT

Henrique Vieira*

Junot ocupou Portugal a partir de finais de Novembro de 1807. Os actos que se seguiram foram os do ocupante que procura neutralizar qualquer possibilidade de revolta: desarmamento geral, imposição da lei marcial com julgamentos sumários que espalham terror, lançamento de pesados impostos. Junot fixou o quartel-general em Lisboa mas as tropas francesas e espanholas espalharam-se pelos principais pontos do país. O Algarve foi inicialmente ocupado pelo general espanhol Campigny mas, depois de um desentendimento com os franceses, são estes que vêm a fixar-se em Faro, sob o comando do general Maurin.
Nos primeiros dias de Março de 1808, este general lança um tributo mensal de 1.200$000 reis, a ser pago pelas comarcas de Faro, Tavira e Lagos, para o chamado prato do governador (para o sustento da sua casa e estado), para além de outros impostos diversos. Tudo o que era ouro e prata das igrejas passou para as mãos dos franceses, sob o pretexto que eram mais úteis no fabrico de moedas de ouro e prata do que no sítio onde estavam. Destes actos ainda hoje os mais antigos utilizam as expressões “Roubar à grande e à francesa” e “Tens mais artes que os Bonapartes”.

Entretanto em Espanha, a 2 de Maio, inicia-se a sublevação contra a ocupação napoleónica e a 26 processa-se a Revolta da Andaluzia estabelecendo-se, em Sevilha, uma Suprema Junta de Governo que, a 6 de Junho, declara guerra à França, em nome de Fernando VII, Rei de Espanha. Em Julho os franceses, até aí invencíveis, sofrem uma grande derrota em Bailén, Espanha. As notícias destes acontecimentos chegam rapidamente ao Algarve. Junot ordena a Maurin que concentre os seus homens nas fortalezas do Guadiana, pelo que passam a ser pequenos os contingentes franceses que ficam nas cidades e fortalezas de defesa da costa. Por esta altura a armada inglesa mantém uma vigilância permanente nas costas algarvias e nas da Andaluzia, dificultando ao máximo o abastecimento dos franceses. O povo, insofrido com a ocupação, esperava apenas um rastilho para incendiar a revolta. Ele surge quando, em 12 de Junho se iniciam os preparativos para a festa de Santo António, em Olhão. João da Rosa, ao armar o andor para colocar o Santo, “olhando para as armas reais que estão na dita capela e se achavam tapadas e pregadas com um painel da Senhora da Conceição, pô-las a público, sem olhar a mais nada e somente confiado em Deus”. No dia 13 quando os marítimos se dirigiam para a festa e vendo tal acto, foram para a praia e embandeiraram todas as embarcações com a bandeira portuguesa e lançaram vivas ao Príncipe Regente e à Liberdade.
Quatro dias depois o tenente – coronel José Lopes de Sousa, governador da praça de Vila Real de Santo António, que estava em Olhão há dois meses, ao dirigir-se com a sua família para a missa do Corpo de Deus, reparou que alguns marítimos tentavam ler um edital que estava fixado à porta da igreja, no qual Junot incentivava os portugueses a aliarem-se aos franceses contra os espanhóis revoltosos. Lopes de Sousa rasga o cartaz e diz: -”Já não merecemos o nome de portugueses e já não há homens do mar como os antigos!” ao que respondem os presentes que “eram homens como os seus antecessores, fiéis e leais a Sua Majestade, por quem estavam prontos a derramar a última pinga de sangue (…). Logo, sem mais demora, correu cada um quanto mais podia a rasgar os editais; subindo à torre puseram-se a tocar a rebate e todos a uma voz puseram-se a clamar: Viva Sua Majestade e o Príncipe Regente, Nosso Senhor, Dom João de Portugal; Viva toda a Família Real; Vivam todos os nossos governos portugueses que foram fiéis ao nosso amado Príncipe; morra toda a nação francesa”.

A partir daqui desenrolam-se múltiplos confrontos. Os franceses estão agora perante uma população exaltada e disposta a tudo para recuperar a liberdade. Olhão, mas também Faro, Tavira e Vila Real de Santo António, entre outras localidades, sem qualquer apoio militar, desgastam a tropa francesa com acções constantes de guerrilha, infligindo baixas entre os soldados inimigos. Um barco de Olhão, com 17 tripulantes, mete-se ao mar e leva ao Príncipe Regente no Brasil, novas do Algarve em armas. Acto heróico que ainda hoje se evoca no nome de Vila de Olhão da Restauração concedido pelo Príncipe.
Por todo o lado os franceses não mais terão descanso até serem obrigados a abandonarem o país, após a Convenção de Sintra, em finais de Agosto de 1808.

* Professor

12/04/08

Texto 6 ( Jornal "BADALADAS", 11/04/2008 )

A 1ª Invasão Francesa

Graça Andrade Mira *

A 17 de Outubro de 1807 (dez dias antes da assinatura do Tratado de Fontainebleau), Napoleão ordenou ao general Andoche Junot que entrasse em Espanha com 25 000 homens, onde se lhe reuniriam as tropas espanholas para proceder à invasão de Portugal. A 19 de Novembro Junot cruza a fronteira, chegando a Castelo Branco em lastimáveis condições de abastecimento, pelo que saqueia a cidade e toda a Beira Baixa.
A notícia da presença dos franceses em Abrantes fez apressar o embarque da família real, com destino ao Brasil. Antes porém, D. João nomeou um Conselho de Regência composto por nove personalidades representativas da nobreza, clero e magistratura e mandou afixar editais nos quais aconselhava o povo a receber os franceses como amigos, para evitar represálias.
A 29 de Novembro, Junot é saudado em Sacavém por uma delegação (constituída por personalidades ligadas à Regência, à Academia das Ciências e à Maçonaria Portuguesa) que lhe pede protecção. No dia seguinte, Junot entra em Lisboa acompanhado por uma escolta militar da Guarda Real da Polícia.
É pois, sob o lema da “protecção” que as tropas napoleónicas e espanholas invadem Portugal, ultrajado pela “maligna influência inglesa”, no dizer de Junot e em pouco tempo, todo o país se encontrava ocupado por cerca de 50 000 soldados que se espalharam por toda a nação, confiscando, pilhando, roubando, matando e prendendo a seu bel-prazer.
Torres Vedras sofreu desde logo os incómodos do alojamento e de quase todo o peso das requisições para a subsistência das tropas estacionadas não só na então Vila (cerca de 3 mil homens), como em Mafra e Peniche. O trato moderado e parcimonioso do Brigadeiro Charlot (comandante das tropas francesas) contribuiu para que Torres Vedras pudesse ter negado qualquer obséquio público ao intruso governo francês e mantivesse os cultos religiosos, inclusive o Natal.
Durante a primeira invasão, as estruturas administrativas judiciais e fiscais do Estado absoluto não sofreram qualquer alteração. Este modelo de funcionamento colaboracionista generalizou-se a quase todas as instituições, de que não foi excepção a Igreja, a qual teve uma função primordial na criação de um clima popular mais ordeiro. O púlpito foi usado para serenar o povo.
Foi nesse estado geral de “afrancesamento das instituições” que o País viveu entre 30 de Novembro de 1807 e 1 de Fevereiro de 1808, data em que Junot extingue o Conselho de Regência e proclama oficialmente a destituição da Casa Real de Bragança, numa clara violação do Tratado de Fontainebleau.
A partir de então todos os decretos, cartas e alvarás passam a ser assinados em nome de «S. M. o Imperador dos Franceses, Rei de Itália e Protector da Confederação do Reno».
O exército português foi parcialmente dissolvido e transformado numa “Legião Lusitana”, que seguiu para Espanha e depois para França e outras partes da Europa a lutar por Napoleão.
Como consequência do imposto extraordinário de 100 milhões de francos, ordenado por Napoleão, Junot lança sobre o reino uma contribuição de 40 milhões de cruzados. À Junta do Comércio são cobrados 6 milhões. O ouro e a prata das igrejas começam a ser recolhidos. Da Comarca de Torres Vedras, “a dita prata e ouro, reduzida a dinheiro somava a enorme quantia de 35 000$600 rs”. Na chamada contribuição de guerra exigida à classe comercial, “coube a este Concelho a quantia de três contos de reis e à Comarca oito contos”.
As insurreições sucedem-se de Norte a Sul do país e a pedido da Junta do Porto, o general Artur Wellesley acorre em auxílio dos portugueses, vindo a travar a 17 de Agosto, com Delaborde, o combate da Roliça-Columbeira do qual saiu vencedor e no dia 21 a batalha do Vimeiro, perdida pelo próprio Junot.
Iniciaram-se então as negociações para a rendição dos Franceses e a sua saída de Portugal, cujos termos se fixaram na chamada Convenção de Sintra.
A este propósito refira-se que, faz parte do espólio do Museu Municipal Leonel Trindade o “Bufete da Maceira”, em que foi negociado o armistício que pôs fim à 1ª Invasão Francesa.
O local, ou locais de assinatura deste documento têm levantado alguma controvérsia, surgindo inclusive questões relativamente à sua denominação. No entanto, se pretendermos denominá-la pelos locais onde foi assinada, a exemplo de outros tratados similares, a denominação mais indicada seria a de Convenção de Torres Vedras/Lisboa, uma vez que, este documento foi o tema de uma reunião do Estado Maior inglês, em Torres Vedras, no dia 28 de Agosto de 1808, onde foi validado, saindo daqui o documento que foi assinado por Junot no dia 30 de Agosto, em Lisboa.
Em Setembro, os Franceses embarcavam com destino a França, levando consigo a maior parte da pilhagem que ainda hoje se pode encontrar em museus e bibliotecas francesas.

* Professora


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