14/04/09

IMAGENS DA GUERRA PENINSULAR - TEXTO 11 - 16 ABRIL 2009 FrenteOeste






Aguarela grisaille, Luís António Xavier: «La Veritable entrée des protecteurs en Lisbonne le 30 Novembre de 1807». Lisboa, MC. PIN. 284


A PRIMEIRA INVASÃO FRANCESA


Joaquim Moedas Duarte

Estava-se em 1807. Napoleão varria a Europa central com a política do ferro e do fogo. Nada parecia resistir. Mas faltava-lhe aniquilar a Inglaterra. Esta, acantonada na ilha e dominadora dos mares, não se dobrava e tinha em Portugal um ancoradouro fiel.
Dominada a Espanha, o reduto português parecia alvo fácil. Escrevinha-se em Fontainebleau o tratado que retalha Portugal: uma parte para a Espanha, a outra para a França. Em Novembro deste ano, um exército de 25 000 homens põe-se em marcha, atravessa a Espanha e irrompe pela Beira, sob o comando de Andoche Junot, general de Napoleão, que havia estado em Portugal, três anos antes, como embaixador. Tem como objectivos a chegada em triunfo a Lisboa e a prisão da família real portuguesa. Mas uma barreira formidável se lhe opõe: não de exércitos mas de tempestades torrenciais que inundam os poucos caminhos que por aqui havia e transformam a marcha do seu exército numa espantosa calamidade humana. Soldados – homens! – arrastam-se, devoram o que encontram, matam, saqueiam, sobrevivem na lama, no frio, no dilúvio. Raul Brandão, no livro El-Rei Junot, descreve com pinceladas impressionantes este drama que envolve invasores e invadidos.
Que fazem os chefes portugueses? Organizam a defesa? Uma testemunha da época diz que teriam bastado mil espingardas para deter Junot. Mas nem uma se lhe opôs. Ouro e pedras preciosas foram enviados em desespero para comprar a benevolência de Napoleão. De nada serviram. Diplomatas atormentados fingiam aos franceses que estavam contra os ingleses, imploravam aos ingleses que os defendessem dos franceses. Uma decisão é tomada, a conselho da Inglaterra: transferir a família real para o Brasil, então colónia portuguesa, garantindo a continuidade da soberania. Com o Regente D. João (futuro rei D. João VI), sua mãe D. Maria I e seus filhos, fogem cerca de 15 000 pessoas, a elite do país: nobres, clérigos, juízes, militares, comerciantes, políticos, e mais as respectivas mulheres, e os servos, os criados, as bagagens. Indiferentes ao desespero do povo, safavam a pele. Tudo o que navegava foi tomado de assalto por esta horda amedrontada que uma aberta de temporal amainado permitiu sair do Tejo, direcção do Brasil. Junot e os 1 500 homens que sobraram da marcha forçada falharam a captura real por uma tira de horas. Foi nos dias finais de Novembro de 1807.

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