NAPOLEÃO
José Travanca Rodrigues
Quando começa o novo século, todas as ambições lhe são possíveis. Tem, ao virar dessa página do tempo, 31 anos. Nascera em 1769, na Córsega, meio italiano, meio francês. Carreira militar meteórica – general em 1793 – participou activamente nas vicissitudes da grande revolução iniciada na França em 1789. A carreira de Napoleão acompanhou os espasmos políticos que dilaceraram a França nesses anos. Sagaz e maleável, sabendo colher as oportunidades, passou praticamente incólume a tempestade da Convenção (chegou a ser preso por amigo dos jacobinos, em 1794), soube adaptar-se em crescendo aos novos tempos, muito próprios afinal aos seus projectos. Dois anos bastaram para chegar à fama europeia: em 1796, consumadas as suas primeiras vitórias militares em terras italianas, proclamava: “Povos da Itália! O exército francês vem quebrar as vossas grilhetas. O povo francês é o amigo de todos os povos. Para nunca mais os tiranos que vos têm subjugado!”
São estas as tintas políticas de que se cobre o manto “libertador” de Napoleão, génio da guerra. Doravante, ele torna-se o pesadelo das velhas monarquias europeias. Naqueles reinos ainda absolutistas, socialmente de matriz feudal, Napoleão passa a ser visto como o portador temido da “desordem”, do “caos”, da “impiedade”, enfim. Personificação do Anti-Cristo.
Internamente, a carreira de Napoleão foi fulgurante. Em 1802, torna-se cônsul vitalício. Em 1804 é coroado imperador dos franceses, com a caução do Papa Pio VII. Depois das turbulências do processo revolucionário, a figura de Napoleão emergia como a de um tipo novo de líder político. Incorporando certos conceitos e ideias liberais, atraía largas franjas da burguesia e boa parte da aristocracia se lhe rendia. Muitas desconfianças se desvaneciam para quem via no imperador o instrumento da normalização e da afirmação da França no quadro europeu.
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