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29/10/09

BADALADAS - TEXTO 38 - 25 SET 2009

A 2ª INVASÃO FRANCESA

PORMENORES IMPORTANTES


José NE Ermitão

Como foi referido no primeiro artigo sobre a 2ª invasão, as instruções do impera-dor francês indicavam claramente que, depois de Soult ter tomado o Porto, os generais Lapisse, estacio¬nado em Salamanca, e Victor, posicionado em Mérida, deviam também invadir o país; o primeiro marchando para Abrantes e o segundo atravessando o Alentejo para apoio à tomada de Lisboa.
Nenhum deles cumpriu as instruções dadas – e podemos interrogar-nos como te-ria sido a 2ª invasão se elas fossem cumpridas! – por falta de comunicação e articulação entre eles e por dificuldades militares, devidas ao estado de contínua revolta dos espanhóis. Mas não só: Lapisse não entrou no território português devido, sobretudo, à actuação da Leal Legião Lusitana.

A LEAL LEGIÃO LUSITANA (LLL)

Formada em Inglaterra por militares emigrados do país durante a 1ª invasão, ao núcleo inicial juntaram-se outros portugueses, sobretudo do Porto, quando foi transferida para Portugal. No quadro da organização da defesa do país, um batalhão com cerca de 1500 homens foi colocado em Almeida, sob o comando de Robert Wilson, com o objectivo de evitar a progressão francesa por esta via.
Internando-se em Espanha até Salamanca e usando tácticas de guerrilha, a LLL paralisou os movimentos de Lapisse durante três meses, flagelando-o continuamente, e cortou-lhe as comunicações com o general Victor. Lapisse acabou por ter de abandonar as posições sem cumprir o objectivo assinalado por Napoleão. De volta ao país, a LLL foi apoiar o exército luso-britânico no seu movimento contra Soult.

WELLINGTON EM ESPANHA

Expulso Soult, a preocupação de Wellington foi impedir que o general Victor invadisse o país pelo Alentejo. Assim, faz descer o exército para Coimbra (finais de Maio) e concebe um plano de campanha assente em três pontos: derrotar Victor, impedir a sua junção com Soult (já à frente de outro exército francês) e avançar para Madrid. Entrega a defesa de Trás-os-Montes a Francisco da Silveira, envia Beresford para Castelo Rodrigo, para lhe proteger o flanco esquerdo, e dirige-se para Talavera de la Reyna onde se reúne com as tropas espanholas do general La Cuesta (21 de Julho).
O primeiro confronto com Victor dá-se a 22 de Julho, mas um desentendimento com La Cuesta não permite continuá-lo e o general francês aproveita para se retirar. Re-gressa no entanto a 25, reforçado com tropas vindas de Madrid, dando-se o com-bate a 27 e 28. Wellington derrota os franceses, embora a vitória seja um tanto ambígua pois vê-se sem condições para a explorar. Não podendo rumar a Madrid, com problemas de aprovisionamento e de relacionamento com la Cuesta, falhando-lhe Beresford na protecção do flanco esquerdo (Beresford demonstra não ser um general de campanha), não tem outra alternativa senão abandonar a posição e regressar a Portugal, por via de Mérida, Badajoz e Elvas.
Entendida numa perspectiva global, pode dizer-se que a 2ª invasão francesa só fi-ca definitivamente resolvida na batalha de Talavera, em finais de Julho de 1809. O general Victor não invadirá o país.

ENTRETANTO O GOVERNO...

Durante este período os governos do Rio de Janeiro e de Lisboa não estão inactivos. No Brasil, a acção política orienta-se no sentido do alargamento do território, com a conquista da Guiana francesa, do desenvolvimento económico e da criação das adequadas instituições administrativas e jurídicas tendentes a fazer do Brasil e do Rio o centro do império.
Em Lisboa, em Março, os governadores ordenam a perseguição aos suspeitos de «francesismo», especialmente os membros da maçonaria, que são presos e colocados em residência fixa, e decretam penas rigorosas para os portugueses que colaborem com os invasores; ao mesmo tempo apelam à população para que se una e lhes resista. Em Abril, convocam todos os portugueses dos 16 aos 30 anos para voluntariamente se apresentarem no exército.
Neste domínio, o militar, é particularmente relevante a acção do governador Mi-guel Pereira Forjaz, encarregado dos negócios da guerra e estrangeiros, a quem se deve, com Beresford, a responsabilidade pela reorganização do exército português.

13/09/09

BADALADAS - TEXTO 37 - 11 SET 2009





A 2ª INVASÃO FRANCESA


DOS ANÓNIMOS AO BRIGADEIRO SILVEIRA

José NR Ermitão


A 2ª invasão teve, em relação às restantes, características distintas: foi de curta duração (dois meses e uma semana); os franceses dominaram uma área exígua (de for-ma firme, o Porto e arredores; de forma incerta, a região entre Douro e Minho); o exército invasor não só foi isolado da retaguarda espanhola (nenhum correio de Soult chegou ao destino) como combatido, desgastado, desmoralizado e algumas vezes vencido por uma feroz resistência de base popular, guerrilheira e militar.
Pela primeira vez, sem ajuda exterior, os portugueses enfrentaram e desgastaram o exército francês invasor – e tão completamente que quando o exército luso-britâ- nico se aproximou, aos franceses nada mais restou senão fugir e rapidamente.



OS ANÓNIMOS


Os populares que, abandonando as povoações, levam consigo os alimentos e as-sim esfomeiam os franceses; os que resistem e morrem na defesa de Braga, na passagem das pontes, no Porto, em Ponte de Lima, em Amarante; os que “a coberto dos ro-chedos e das oliveiras, se infiltravam até... (ao) acampamento (francês) e disparavam sobre as... tendas e... cavalos” (Le Noble); ou o que “cuja coxa lhe foi partida... (e) sem abandonar a arma teve a coragem de, deitado de lado, apontar e matar um graduado... (ou o) ancião de cabelos brancos, entrincheirado atrás de um penedo com uma espingarda... (que feriu) três homens e cinco cavalos... (de Naylies). Os que passam barcos a Wellington para poder entrar no Porto.
Os ordenanças, milícias e soldados que formam o exército português, mal armados, indisciplinados, capazes de disparates mas também de resistir e de derrotar os franceses quando devidamente organizados e comandados. E os que formam as guerrilhas que atacam os correios, os flancos e a retaguarda dos franceses, desesperando-os. Os populares, as “pessoas de bem”, os eclesiásticos e os estudantes de Coimbra...


OS COMANDANTES


Os comandantes militares que enfrentaram e combateram os invasores. O general Bernardim Ribeiro, que impediu Soult de atravessar o rio Minho e que, por considerarar a impossibilidade da defesa de Braga, foi acusado de traidor e brutalmente assassinado pela população e ordenanças desvairados. O general Botelho, que resistiu em Ponte de Lima, tomou Braga e Guimarães aos franceses e, depois, se juntou a Silveira. E outros, até estrangeiros, como o barão de Eben, que conseguiu manter a resistência em Braga durante três dias, e Robert Wilson. Tantos outros...


O BRIGADEIRO SILVEIRA

Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira (1763-1821), a quem o governo nomeou para chefiar a região militar de Trás-os-Montes e cujo exército era uma amálgama de tropa regular, milícias mal armadas, ordenanças desenquadrados e voluntários. Que retira da cidade de Chaves por a considerar indefensável, mas que ataca os franceses em Venda Nova e pouco depois retoma a cidade, impedindo assim as ligações de Soult com a Espanha.
Que, movimentando-se a oeste e a leste do rio Tâmega, enfrenta os franceses, resiste-lhes em Amarante durante duas semanas e, sempre em movimento, reconquista depois Vila Real e combate Loison, perseguindo-o até Guimarães. Que pede socorros a Beresford mas que este não lhe concede. Que combate só com os recursos de que dispõe, às vezes desesperado – “assim um homem só não faz nada”, escreve ele a Beresford – sobretudo depois do que ele sentiu ser uma derrota, a perda de Amarante, mas que foi afinal a sua grande vitória: ter impedido a progressão francesa para leste ao resistir-lhe durante duas semanas.
O primeiro chefe militar português que derrotou exércitos franceses e que, pelas acções posteriores no país (impedindo os franceses de passar o Douro no inverno de 1810/11 e outras) e em Espanha (tomada de Sanábria, batalha de Vitória e batalhas nos Pirinéus), foi reconhecido – pelo nosso governo, pelo espanhol e pelo inglês – como o mais notável general português da Guerra Peninsular. Um tanto esquecido depois: a his-toriografia liberal não lhe perdoará a recusa em aderir à revolução de 1820...
Passados o tempo e os preconceitos é tempo de lhe dar o devido valor.

18/10/08

Texto 19 ( Jornal "BADALADAS", 10 / 10 / 2008 )



A CONSPIRAÇÃO DO PORTO [ 1 ]

João Flores Cunha



Foram de grande violência os primeiros dias da Primavera de 1809 na cidade do Porto. Enquanto o exército do duque da Dalmácia, marechal Nicolas Soult, se aproximava da cidade, uma turba, incitada pelo sargento-mor Raimundo José Pinheiro, perseguia os suspeitos de afrancesados, a quem, aos gritos de jacobinos e traidores, acusavam de todas as desgraças que aconteciam no Reino, chacinando aqueles que encontravam, como aconteceu ao general Bernardim Freire, ao brigadeiro Luís de Oliveira e ao tenente-coronel João Cunha entre outros.
Na manhã do dia 29 de Março as divisões Merle, Mermet e Delaborde rompiam as defesas, compostas por quarenta e sete bastiões servidos por dois mil homens e duzentas bocas de fogo. A população, buscando refugio na margem sul do Douro, corria em pânico na direcção da ponte das barcas que ligava a Ribeira ao cais de Gaia. A cavalaria portuguesa debandava perseguida pelos dragões franceses, atropelando a mole humana que fugia. A confusão era enorme. A estreita ponte não suportou o peso da multidão. Quatro mil fugitivos encontraram a morte nas águas do Douro.
O marechal Soult, instalado no palácio das Carrancas, preocupava-se em normalizar a vida na cidade e em conquistar a confiança dos seus cidadãos mais importantes entre os quais se encontrava o capitão de ordenanças do partido do Porto João Ferreira Viana, filho de um abastado comerciante, feito prisioneiro aquando da conquista da cidade.
A ambição do duque da Dalmácia levara-o a sonhar que poderia vir a ser rei da Lusitânia Setentrional, uma das três regiões em que Portugal era dividido pelo tratado de Fontainebleau, região que compreendia o Douro, o Minho e Trás-os-Montes. Para isso, era necessário ter os “fazedores de opinião” do seu lado. O seu “marketing” político foi posto a funcionar e, passava pela romagem ao Senhor Jesus de Matosinhos, onde se “ajoelhou, benzeu-se e rezou e ofereceu uma lâmpada de prata e o compromisso de custear o óleo para que se mantivesse sempre acesa e dobrou a côngrua do padre e o ordenado do sacristão”, ao fazer-se vitoriar no teatro de S. João como Sua Majestade rei Nicolau I, à criação dum jornal, “O Diário do Porto”, em cujas páginas se noticiavam todos os seus passos e onde os protegidos lhe iam preparando o caminho.
O seu chefe do estado maior, general Ricard, após a noite do teatro de S. João, enviou uma nota ao governador militar do Porto, general Quesnel na qual se dizia que as populações deveriam prestar homenagem ao vencedor e que as instruções deveriam ser transmitidas aos outros comandantes que se encontravam aquartelados nas diversas cidades do Norte. A primeira deputação a ser recebida no paço das Carrancas, onde estavam presentes todos os generais do exército invasor, foi a de Braga, liderada pelo corregedor António Mesquita e composta por trinta e seis elementos. Seguiram-se as de Barcelos, Viana do Castelo, Ovar, Vila do Conde, Póvoa do Varzim e, por fim, a do Porto, chefiada pelo desembargador Almeida Correia, teve honras de beija-mão: “Cada um dos membros da deputação teve a honra de beijar a mão de S. Ex.ª” – (Diário do Porto, de 29 de Abril de 1809). O teor dos pedidos das deputações era praticamente o mesmo: os Braganças tinham abandonado o país, o trono de Portugal estava vago, era pois forçoso, para interesse do reino que Napoleão indicasse um rei para Portugal e, que melhor rei haveria do que o duque da Dalmácia?
Ora, se a ambição do marechal era chalaceada pela soldadesca em alegre estribilho cantado pelos bivaques - “Oh!Oh!Lá!Lá! Le roi Nicolas!” -, o mesmo não acontecia entre muitos oficiais que viam na atitude do seu comandante um despropósito.
Na casa do pai do capitão de ordenanças do Porto, João Viana, haviam-se aboletado diversos oficiais franceses, entre os quais o coronel Donnadieu do 47º de infantaria. Este oficial, que se atrasara na carreira por haver participado na conjura de Rennes, em 1802, ao lado dos generais Bernadotte e Moreau contra Bonaparte, não via com bons olhos a transformação da República em Império e os títulos de nobreza que os seus antigos camaradas iam adquirindo. Donnadieu reunia um grupo de descontentes e numa dessas reuniões pôs João Viana ao corrente dos seus projectos e convidou-o a ajudá-los, pois necessitavam de alguém de confiança que encetasse conversações com o comando em chefe do exército anglo-luso.
O capitão português, vendo nesta conjura oportunidade para o país mais rapidamente se livrar do jugo do invasor, adere à proposta do coronel Donnadieu.

Veremos no que consistia o plano da sedição e como terminou.