05/07/09

FRENTE OESTE - TEXTO 22 - 2 JUL 2009










A Associação de Defesa do Património na comemoração dos 200 anos
da Guerra Peninsular

Foi criada, nos finais do ano passado, uma Comissão Municipal para a Comemoração dos Duzentos Anos das Linhas de Torres Vedras – CM200, na qual se incluem diversas entidades representativas da vida cultural torriense, entre elas a Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras (ADDPCTV). Ao mesmo tempo foi pedida a participação de todas as Associações, Escolas, etc, na elaboração de um Programa Municipal das Comemorações. Fizeram-se várias reuniões para ouvir toda a gente interessada no assunto e aguarda-se, para breve, a divulgação do Programa cujas actividades terão início em Outubro deste ano.

Para esse Programa a ADDPCTV propôs-se disponibilizar um SERVIÇO DE DIVULGAÇÂO HISTÓRICA SOBRE A GUERRA PENINSULAR, cuja concretização tem duas fases complementares. A primeira consiste na publicação de textos de divulgação histórica nos dois semanários torrienses, escritos por pessoas ligadas à História ou interessadas pela História. Esta fase iniciou-se em Janeiro de 2008, no semanário “Badaladas”, com a série “Bicentenário das Invasões Francesas”, onde já foram publicados 33 textos, numa cadência quinzenal, e um Suplemento de 4 páginas. Em Janeiro de 2009 iniciou-se, no semanário “Frente Oeste”, a publicação da série “Imagens da Guerra Peninsular”, em cadência semanal, tendo já sido publicados 22 textos. A divulgação destes textos irá prosseguir até finais de 2010, estando prevista a edição de um livro com uma selecção do que foi publicado. Simultaneamente foi criado um Blogue ( http://linhasdetorres.blogspot.com/ ) onde estão a ser reunidos aqueles textos, bem como outros dados de interesse para o conhecimento da época histórica das invasões francesas.
A segunda fase do Serviço acima referido consiste na realização, entre Outubro de 2009 e Outubro de 2010, de palestras sobre a Guerra Peninsular, nos locais que as solicitem: Juntas de Freguesia, Associações Recreativas, Culturais e Desportivas, Lares, Centros de Dia, Escolas…
A ADDPCTV está a realizar contactos com estas entidades, no sentido de as sensibilizar para estas realizações, esperando contribuir, assim, para o aprofundamento da memória colectiva, base necessária da nossa identidade cultural.

Contactos da ADDPCTV: addpctvedras@gmail.com

Apartado 50, 2564-909 TORRES VEDRAS

Av. Tenente Valadim, 17, 2º 2560-275 TORRES VEDRAS

BADALADAS - TEXTO 34 - 10 JUL 2009




A 2ª INVASÃO FRANCESA (2)

TUDO VAI SER DIFERENTE



JOSÉ NR ERMITÃO

Depois da derrota de Junot, da saída dos franceses de Portugal e da restauração da Regência portuguesa (18 de Setembro de 1808), o governo britânico deliberou apoiar abertamente a revolta espanhola. Assim, em meados de Outubro, a maior parte do exército britânico desembarcado em Portugal foi deslocado para Espanha, sob o comando do general Moore, movendo-se em direcção a Salamanca. Ao mesmo tempo, em finais do mesmo mês, tropas inglesas desembarcam na Corunha para reforçar aquele exército.
Em Salamanca, Moore toma conhecimento de que Napoleão conquistou Madrid, constata sérias dificuldades de entendimento com os exércitos espanhóis e decide retroceder para a Galiza. Em fins de Dezembro, Napoleão inicia a perseguição a Moore, perseguição que abandona a 1 de Janeiro de 1809 (para retornar a França) entregando o co-mando da expedição ao general Soult. Este prossegue no encalço dos ingleses que, apesar de esgotados, enfrentam os franceses próximo da cidade Corunha numa batalha que possibilita que o grosso do exército inglês embarque e se ponha a salvo.
Este movimento permite aos franceses a conquista parcial da Galiza; e é depois de instalado na cidade da Corunha que Soult recebe, a 28 de Janeiro de 1809, as instruções para invadir Portugal.


AS MUDANÇAS EM PORTUGAL


Exceptuando o mau tempo e os maus caminhos, a 1ª invasão francesa constituiu um passeio militar: o país estava política e moralmente desarmado devido à desorientação da Coroa e não ofereceu resistência militar aos invasores; pelo contrário, D. João or-denou que fossem recebidos e tratados como amigos. Só a partir de Junho de 1808 é que os portugueses se revoltaram e iniciaram acções de combate contra os franceses.
Na 2ª invasão tudo vai ser diferente: do primeiro ao último dia os invasores en-frentam uma feroz resistência que os desgasta, os desmoraliza e os derrota mesmo an-tes do auxílio britânico.
Os Governadores do Reino, depois de saberem da presença de Napoleão em Ma-drid e da retirada de Moore, tomam consciência de que Portugal seria a próxima presa do imperador francês e deliberam a reorganização militar do país. A 9 e 11 de Dezembro emitem duas proclamações declarando o levantamento em armas de toda a nação contra os franceses e tomam um conjunto de medidas para a reorganização do exército.
O estado do exército era lamentável: Junot tinha-o desorganizado e desarmado e os melhores quadros estavam ausentes do país. Assim, o governo apela a que os oficiais e soldados dos regimentos dissolvidos pelos franceses se reúnam de novo em locais determinados; criam-se unidades de infantaria e cavalaria; criam-se corpos de voluntários em Lisboa, Porto e Coimbra; definem-se cinco regiões militares e nomeiam-se generais ou brigadeiros para o seu comando – pelo seu papel na resistência contra o exército francês de Soult são de referir a região militar do Porto e Minho, sob o comando do general Bernardim Freire, e a região militar de Trás-os-Montes, comandada pelo brigadeiro Francisco da Silveira; e são restabelecidos os regimentos de milícias e de ordenanças, tropas de segunda e terceira linhas, de âmbito regional e local, mas de importância absoluta na ausência de um exército regular devidamente disciplinado, armado e treinado.
Por último, consciente das insuficiências do exército e da necessidade de as ultrapassar, o governo solicita à Inglaterra o envio de um general competente para comandar o exército português; Londres envia o tenente-coronel William Beresford, que é nomeado comandante do exército em meados de Março, quando a 2ª invasão está no início. Sem perdas de tempo, este irá reorganizar o exército português transformando-o numa má-quina bélica cuja eficácia será plenamente demonstrada contra Massena na 3ª invasão.
Por isso, quando Napoleão, nas instruções a Junot, considera que é “pouco presumível” que ele encontre “grandes obstáculos” na “bela expedição” de que o encarrega – a encarniçada resistência nacional vai demonstrar-lhe quanto estava errado: haverá mesmo grandes obstáculos e tantos que se traduzirão em mais uma derrota do seu im-perial exército.

BADALADAS - TEXTO 33 - 26 JUN 2009






A 2ª INVASÃO FRANCESA (1)

AS INSTRUÇÕES E A REALIDADE


JOSÉ NR ERMITÃO


No dia 28 de Janeiro de 1809, alguns dias após a ocupação da cidade da Coru-nha, na Galiza, o general Soult recebe instruções escritas de Napoleão para invadir Portugal pelo norte do país, tomar a cidade do Porto e marchar sobre Lisboa. Neste movimento de conquista, seria apoiado pelo general Lapisse, estacio¬nado em Salamanca, e pelo general Victor, posicionado em Mérida.
Lapisse deveria dirigir-se para Abrantes, depois do Porto ter sido tomado, e Victor deveria atravessar o Alentejo “em apoio do vosso movimento... (para Lisboa) caso en-contreis grandes obstáculos para a sua conquista, possibilidade pouco presumível”. As instruções referem datas – “Sendo hoje 21 de Janeiro, não podereis atingir o Porto antes de 5 de Fevereiro, ou Lis¬boa antes de 16” – e terminam com uma frase plena de optimismo: “O Imperador tem uma confiança ilimitada na vossa competência para a bela expedição de que vos encar¬rega”.
Soult dispunha de 24 000 homens, Lapisse de 8 000, e Victor de 22 000 – num total de 54 000 homens, distribuídos por infantaria (maioritária), cavalaria, artilharia e logística. Por ausência de comunicação e por dificuldades militares ocorridas em Espanha, os generais Lapisse e Victor nunca chegarão a invadir o país. E Soult, que tomou o Porto, encontrou dificuldades de tal modo insuperáveis que permaneceu em Portugal unicamente durante dois meses e uma semana: cruzou a fronteira a 10 de Março e, derrotado e em fuga apressada, abandonou o país no dia 17 de Maio de 1809.


MUDANÇAS EM ESPANHA


Ao insistir de novo na conquista de Portugal, Napoleão ou ignorava as mudanças ocorridas no país ou nada aprendeu com o fracasso da 1ª invasão, nem com o que se estava a passar em Espanha. A 1ª invasão ocorreu num quadro de amizade entre Napoleão e a Coroa espanhola, que colaborou com Junot na ocupação militar do país; no pe-ríodo da 2ª invasão toda a Espanha estava em estado de revolta contra os franceses.
De finais de 1807 a Fevereiro de 1808, Napoleão, embora continuando a protestar amizade com a Espanha, foi invadindo-a lentamente com 100 000 homens e ordenou a conquista das cidades de Pamplona e Barcelona. Quando a Corte espanhola percebeu os objectivos dos franceses era já demasiado tarde; uma facção aristocrática patriótica revoltou-se, obrigou o rei Carlos IV a abdicar e o seu filho, Fernando VII, tomou o poder. Madrid foi entretanto ocupada pelo general francês Murat e Napoleão, que não reconheceu Fernando VII como rei, chamou Carlos IV e o filho a Baiona, em França, e de forma sinuosa acabou por fazê-los abdicar a ambos em si próprio (30 de Abril de 1808). Para rei de Espanha, Napoleão resolveu nomear o seu irmão José.
Perante a ocupação francesa, toda a Espanha se revoltou a partir de Maio e Junho de 1808, formaram-se juntas governativas provinciais, ergueram-se exércitos patrióticos que enfrentaram os exércitos franceses e um deles, na batalha de Bailen (19-21 de Ju-lho), infligiu uma derrota devastadora ao exército francês.
Perante esta derrota impensável, os franceses abandonam em parte a Espanha; mas Napoleão resolve dirigir pessoalmente a campanha militar espanhola: entra em Es-panha a 3 de Novembro de 1808 com 200 000 soldados experientes e declara os seus objectivos: “Estou aqui com os soldados que venceram em Austerlitz, em Jena, em Eylau. Quem lhes vai resistir? Certamente que não vão ser as maltrapilhas tropas espanholas que nem combater sabem. Conquistarei a Espanha em dois meses e adquirirei sobre ela direitos como conquistador.” Derrota de facto os exércitos espanhóis, entra em Madrid a 4 de Dezembro, reafirma José como rei de Espanha e ameaça com repressão violenta quem se opuser os seu domínio.
Mas os espanhóis são resistentes pertinazes, são auxiliados pela Inglaterra, reerguem novos exércitos e aplicam um novo e eficaz modo de combate: a guerrilha. As maltrapilhas tropas espanholas enfrentam os exércitos franceses, derrotam-nos, desgastam-nos, desmoralizam-nos – e tanto que Napoleão reconhecerá anos mais tarde que “essa maldita guerra de Espanha... perdeu-me”. De facto, foi na Península Ibérica que se iniciou o seu fim.