05/07/09

BADALADAS - TEXTO 33 - 26 JUN 2009






A 2ª INVASÃO FRANCESA (1)

AS INSTRUÇÕES E A REALIDADE


JOSÉ NR ERMITÃO


No dia 28 de Janeiro de 1809, alguns dias após a ocupação da cidade da Coru-nha, na Galiza, o general Soult recebe instruções escritas de Napoleão para invadir Portugal pelo norte do país, tomar a cidade do Porto e marchar sobre Lisboa. Neste movimento de conquista, seria apoiado pelo general Lapisse, estacio¬nado em Salamanca, e pelo general Victor, posicionado em Mérida.
Lapisse deveria dirigir-se para Abrantes, depois do Porto ter sido tomado, e Victor deveria atravessar o Alentejo “em apoio do vosso movimento... (para Lisboa) caso en-contreis grandes obstáculos para a sua conquista, possibilidade pouco presumível”. As instruções referem datas – “Sendo hoje 21 de Janeiro, não podereis atingir o Porto antes de 5 de Fevereiro, ou Lis¬boa antes de 16” – e terminam com uma frase plena de optimismo: “O Imperador tem uma confiança ilimitada na vossa competência para a bela expedição de que vos encar¬rega”.
Soult dispunha de 24 000 homens, Lapisse de 8 000, e Victor de 22 000 – num total de 54 000 homens, distribuídos por infantaria (maioritária), cavalaria, artilharia e logística. Por ausência de comunicação e por dificuldades militares ocorridas em Espanha, os generais Lapisse e Victor nunca chegarão a invadir o país. E Soult, que tomou o Porto, encontrou dificuldades de tal modo insuperáveis que permaneceu em Portugal unicamente durante dois meses e uma semana: cruzou a fronteira a 10 de Março e, derrotado e em fuga apressada, abandonou o país no dia 17 de Maio de 1809.


MUDANÇAS EM ESPANHA


Ao insistir de novo na conquista de Portugal, Napoleão ou ignorava as mudanças ocorridas no país ou nada aprendeu com o fracasso da 1ª invasão, nem com o que se estava a passar em Espanha. A 1ª invasão ocorreu num quadro de amizade entre Napoleão e a Coroa espanhola, que colaborou com Junot na ocupação militar do país; no pe-ríodo da 2ª invasão toda a Espanha estava em estado de revolta contra os franceses.
De finais de 1807 a Fevereiro de 1808, Napoleão, embora continuando a protestar amizade com a Espanha, foi invadindo-a lentamente com 100 000 homens e ordenou a conquista das cidades de Pamplona e Barcelona. Quando a Corte espanhola percebeu os objectivos dos franceses era já demasiado tarde; uma facção aristocrática patriótica revoltou-se, obrigou o rei Carlos IV a abdicar e o seu filho, Fernando VII, tomou o poder. Madrid foi entretanto ocupada pelo general francês Murat e Napoleão, que não reconheceu Fernando VII como rei, chamou Carlos IV e o filho a Baiona, em França, e de forma sinuosa acabou por fazê-los abdicar a ambos em si próprio (30 de Abril de 1808). Para rei de Espanha, Napoleão resolveu nomear o seu irmão José.
Perante a ocupação francesa, toda a Espanha se revoltou a partir de Maio e Junho de 1808, formaram-se juntas governativas provinciais, ergueram-se exércitos patrióticos que enfrentaram os exércitos franceses e um deles, na batalha de Bailen (19-21 de Ju-lho), infligiu uma derrota devastadora ao exército francês.
Perante esta derrota impensável, os franceses abandonam em parte a Espanha; mas Napoleão resolve dirigir pessoalmente a campanha militar espanhola: entra em Es-panha a 3 de Novembro de 1808 com 200 000 soldados experientes e declara os seus objectivos: “Estou aqui com os soldados que venceram em Austerlitz, em Jena, em Eylau. Quem lhes vai resistir? Certamente que não vão ser as maltrapilhas tropas espanholas que nem combater sabem. Conquistarei a Espanha em dois meses e adquirirei sobre ela direitos como conquistador.” Derrota de facto os exércitos espanhóis, entra em Madrid a 4 de Dezembro, reafirma José como rei de Espanha e ameaça com repressão violenta quem se opuser os seu domínio.
Mas os espanhóis são resistentes pertinazes, são auxiliados pela Inglaterra, reerguem novos exércitos e aplicam um novo e eficaz modo de combate: a guerrilha. As maltrapilhas tropas espanholas enfrentam os exércitos franceses, derrotam-nos, desgastam-nos, desmoralizam-nos – e tanto que Napoleão reconhecerá anos mais tarde que “essa maldita guerra de Espanha... perdeu-me”. De facto, foi na Península Ibérica que se iniciou o seu fim.

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