A 2ª INVASÃO FRANCESA (2)
TUDO VAI SER DIFERENTE
JOSÉ NR ERMITÃO
Depois da derrota de Junot, da saída dos franceses de Portugal e da restauração da Regência portuguesa (18 de Setembro de 1808), o governo britânico deliberou apoiar abertamente a revolta espanhola. Assim, em meados de Outubro, a maior parte do exército britânico desembarcado em Portugal foi deslocado para Espanha, sob o comando do general Moore, movendo-se em direcção a Salamanca. Ao mesmo tempo, em finais do mesmo mês, tropas inglesas desembarcam na Corunha para reforçar aquele exército.
Em Salamanca, Moore toma conhecimento de que Napoleão conquistou Madrid, constata sérias dificuldades de entendimento com os exércitos espanhóis e decide retroceder para a Galiza. Em fins de Dezembro, Napoleão inicia a perseguição a Moore, perseguição que abandona a 1 de Janeiro de 1809 (para retornar a França) entregando o co-mando da expedição ao general Soult. Este prossegue no encalço dos ingleses que, apesar de esgotados, enfrentam os franceses próximo da cidade Corunha numa batalha que possibilita que o grosso do exército inglês embarque e se ponha a salvo.
Este movimento permite aos franceses a conquista parcial da Galiza; e é depois de instalado na cidade da Corunha que Soult recebe, a 28 de Janeiro de 1809, as instruções para invadir Portugal.
AS MUDANÇAS EM PORTUGAL
Exceptuando o mau tempo e os maus caminhos, a 1ª invasão francesa constituiu um passeio militar: o país estava política e moralmente desarmado devido à desorientação da Coroa e não ofereceu resistência militar aos invasores; pelo contrário, D. João or-denou que fossem recebidos e tratados como amigos. Só a partir de Junho de 1808 é que os portugueses se revoltaram e iniciaram acções de combate contra os franceses.
Na 2ª invasão tudo vai ser diferente: do primeiro ao último dia os invasores en-frentam uma feroz resistência que os desgasta, os desmoraliza e os derrota mesmo an-tes do auxílio britânico.
Os Governadores do Reino, depois de saberem da presença de Napoleão em Ma-drid e da retirada de Moore, tomam consciência de que Portugal seria a próxima presa do imperador francês e deliberam a reorganização militar do país. A 9 e 11 de Dezembro emitem duas proclamações declarando o levantamento em armas de toda a nação contra os franceses e tomam um conjunto de medidas para a reorganização do exército.
O estado do exército era lamentável: Junot tinha-o desorganizado e desarmado e os melhores quadros estavam ausentes do país. Assim, o governo apela a que os oficiais e soldados dos regimentos dissolvidos pelos franceses se reúnam de novo em locais determinados; criam-se unidades de infantaria e cavalaria; criam-se corpos de voluntários em Lisboa, Porto e Coimbra; definem-se cinco regiões militares e nomeiam-se generais ou brigadeiros para o seu comando – pelo seu papel na resistência contra o exército francês de Soult são de referir a região militar do Porto e Minho, sob o comando do general Bernardim Freire, e a região militar de Trás-os-Montes, comandada pelo brigadeiro Francisco da Silveira; e são restabelecidos os regimentos de milícias e de ordenanças, tropas de segunda e terceira linhas, de âmbito regional e local, mas de importância absoluta na ausência de um exército regular devidamente disciplinado, armado e treinado.
Por último, consciente das insuficiências do exército e da necessidade de as ultrapassar, o governo solicita à Inglaterra o envio de um general competente para comandar o exército português; Londres envia o tenente-coronel William Beresford, que é nomeado comandante do exército em meados de Março, quando a 2ª invasão está no início. Sem perdas de tempo, este irá reorganizar o exército português transformando-o numa má-quina bélica cuja eficácia será plenamente demonstrada contra Massena na 3ª invasão.
Por isso, quando Napoleão, nas instruções a Junot, considera que é “pouco presumível” que ele encontre “grandes obstáculos” na “bela expedição” de que o encarrega – a encarniçada resistência nacional vai demonstrar-lhe quanto estava errado: haverá mesmo grandes obstáculos e tantos que se traduzirão em mais uma derrota do seu im-perial exército.
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