13/09/09

BADALADAS - TEXTO 37 - 11 SET 2009





A 2ª INVASÃO FRANCESA


DOS ANÓNIMOS AO BRIGADEIRO SILVEIRA

José NR Ermitão


A 2ª invasão teve, em relação às restantes, características distintas: foi de curta duração (dois meses e uma semana); os franceses dominaram uma área exígua (de for-ma firme, o Porto e arredores; de forma incerta, a região entre Douro e Minho); o exército invasor não só foi isolado da retaguarda espanhola (nenhum correio de Soult chegou ao destino) como combatido, desgastado, desmoralizado e algumas vezes vencido por uma feroz resistência de base popular, guerrilheira e militar.
Pela primeira vez, sem ajuda exterior, os portugueses enfrentaram e desgastaram o exército francês invasor – e tão completamente que quando o exército luso-britâ- nico se aproximou, aos franceses nada mais restou senão fugir e rapidamente.



OS ANÓNIMOS


Os populares que, abandonando as povoações, levam consigo os alimentos e as-sim esfomeiam os franceses; os que resistem e morrem na defesa de Braga, na passagem das pontes, no Porto, em Ponte de Lima, em Amarante; os que “a coberto dos ro-chedos e das oliveiras, se infiltravam até... (ao) acampamento (francês) e disparavam sobre as... tendas e... cavalos” (Le Noble); ou o que “cuja coxa lhe foi partida... (e) sem abandonar a arma teve a coragem de, deitado de lado, apontar e matar um graduado... (ou o) ancião de cabelos brancos, entrincheirado atrás de um penedo com uma espingarda... (que feriu) três homens e cinco cavalos... (de Naylies). Os que passam barcos a Wellington para poder entrar no Porto.
Os ordenanças, milícias e soldados que formam o exército português, mal armados, indisciplinados, capazes de disparates mas também de resistir e de derrotar os franceses quando devidamente organizados e comandados. E os que formam as guerrilhas que atacam os correios, os flancos e a retaguarda dos franceses, desesperando-os. Os populares, as “pessoas de bem”, os eclesiásticos e os estudantes de Coimbra...


OS COMANDANTES


Os comandantes militares que enfrentaram e combateram os invasores. O general Bernardim Ribeiro, que impediu Soult de atravessar o rio Minho e que, por considerarar a impossibilidade da defesa de Braga, foi acusado de traidor e brutalmente assassinado pela população e ordenanças desvairados. O general Botelho, que resistiu em Ponte de Lima, tomou Braga e Guimarães aos franceses e, depois, se juntou a Silveira. E outros, até estrangeiros, como o barão de Eben, que conseguiu manter a resistência em Braga durante três dias, e Robert Wilson. Tantos outros...


O BRIGADEIRO SILVEIRA

Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira (1763-1821), a quem o governo nomeou para chefiar a região militar de Trás-os-Montes e cujo exército era uma amálgama de tropa regular, milícias mal armadas, ordenanças desenquadrados e voluntários. Que retira da cidade de Chaves por a considerar indefensável, mas que ataca os franceses em Venda Nova e pouco depois retoma a cidade, impedindo assim as ligações de Soult com a Espanha.
Que, movimentando-se a oeste e a leste do rio Tâmega, enfrenta os franceses, resiste-lhes em Amarante durante duas semanas e, sempre em movimento, reconquista depois Vila Real e combate Loison, perseguindo-o até Guimarães. Que pede socorros a Beresford mas que este não lhe concede. Que combate só com os recursos de que dispõe, às vezes desesperado – “assim um homem só não faz nada”, escreve ele a Beresford – sobretudo depois do que ele sentiu ser uma derrota, a perda de Amarante, mas que foi afinal a sua grande vitória: ter impedido a progressão francesa para leste ao resistir-lhe durante duas semanas.
O primeiro chefe militar português que derrotou exércitos franceses e que, pelas acções posteriores no país (impedindo os franceses de passar o Douro no inverno de 1810/11 e outras) e em Espanha (tomada de Sanábria, batalha de Vitória e batalhas nos Pirinéus), foi reconhecido – pelo nosso governo, pelo espanhol e pelo inglês – como o mais notável general português da Guerra Peninsular. Um tanto esquecido depois: a his-toriografia liberal não lhe perdoará a recusa em aderir à revolução de 1820...
Passados o tempo e os preconceitos é tempo de lhe dar o devido valor.

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