Pedro Fiéis
Talvez sejam tão antigos como a própria guerra, mas é geralmente aceite que na moderna concepção da palavra, o primeiro correspondente de guerra terá sido Henry Crabb Robinson, um inglês que em 1800 tinha viajado para o território da actual Alemanha, onde fez os estudos universitários e onde terá contactado com alguns dos maiores vultos da cultura do seu tempo, casos de Schiller e Goethe, entre outros.
O seu conhecimento do terreno e domínio da língua constituíram então factores cruciais para que o jornal londrino “The Times” o contratasse para escrever crónicas sobre a guerra que Napoleão conduzia e cujos sucessos sobressaltavam os seus ávidos leitores.
Esta primeira experiência não é muito profícua, quer porque os escritos não tinham grande mérito, quer pela sua irregularidade e por se basearem muito no ouvi dizer. As distâncias ainda eram nesta época uma barreira difícil de vencer, pelo que as novas sobre as batalhas chegavam muito depois de as mesmas terem ocorrido e novos acontecimentos as terem tornado redundantes.
De qualquer modo, o progressivamente maior envolvimento britânico na Península em finais de 1808 convence os responsáveis pelo “Times” da necessidade de ter alguém perto do cenário do conflito e com acesso aos meios navais que transportavam a normal correspondência do exército, encurtando deste modo as ditas distâncias.
O escolhido vai ser então Robinson, principalmente pela sua experiência anterior, embarcando para a Coruña onde chega no dia 28 de Julho de 1808, 5 dias depois de ter deixado Inglaterra. Assumindo agora também de forma mais séria o seu papel, mantém uma correspondência regular com o jornal, muito embora o que escrevia ainda se baseasse nos relatos dos soldados feridos que iam chegando.
O facto de não acompanhar de perto as tropas não lhe permitia seguir todos os acontecimentos. Apesar disso, as informações que fazia chegar eram preciosas, por anteriormente se ter de esperar que esses mesmos soldados escrevessem para casa nas raras pausas que eram concedidas, não contando com a demora do correio. Tudo isto muda a partir do dia 11 de Janeiro de 1809 com a chegada das tropas sob comando de sir John Moore, em retirada diante das tropas francesas desde Salamanca.
Como não tinham chegado os navios de transporte, Moore foi forçado a tomar posições defensivas e aguardar a sua chegada. O seu oponente, Soult, chegou pouco depois e no dia 15 lança os primeiros ataques. A este desenrolar dos acontecimentos assistiu este correspondente desde o primeiro momento, e nesse dia, ao regressar ao hotel, encontrou a sala de refeições vazia e nenhum oficial por perto.
Ao sair para a rua foi informado da aproximação do inimigo e, ao longe, já se conseguia ouvir o troar dos canhões. Robinson foi imediatamente para as alturas que rodeiam a cidade, embora ainda longe da acção, assistiu ao desenrolar da batalha, observando compatriotas seus a serem feridos e mesmo mortos, reportando ainda sobre os prisioneiros franceses que eram escoltados para a zona do porto.
Foram umas horas únicas e que não mais repetiu, dado que ainda no final do referido dia 15 embarca de volta a Inglaterra e não mais escreve sobre a guerra, até porque no “Times” não se lhe reconheceram grandes dotes para a escrita e como a campanha terminara após o embarque da tropa inglesa, não lhe fazem nova proposta de trabalho.
Notas Finais: Henry Crabb Robinson não mais vai escrever para jornais, preferindo dedicar-se à advocacia até ao final da sua vida. O general Moore morre devido a ferimentos sofridos durante a batalha, deixando campo aberto ao regresso triunfal de Wellesley.
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