06/10/12

LINHAS DE WELLINGTON






Estreado em 4 de Outubro, é um filme que não reúne consensos de apreciação.
Vejamos duas opiniões que encontrámos na imprensa nacional:



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"Linhas de Wellington" é um filme que decorre no período de cerca de três semanas que medeia entre a bata­lha do Buçaco e o momento em que Massena inspeciona pessoalmente as Linhas de Torres e verifica a sua inexpugnabilidade com os meios de que dispunha. A iniciativa de o fazer coube ao produtor Paulo Branco, que coman­ditou o argumento a Carlos Saboga, passou por dois realizadores indigita­dos (Luís Filipe Rocha e Raul Ruiz) — que não chegaram à fase de rodagem — e acabou materializada por Valeria Sarmiento, viúva de Ruiz, montadora fiel dos filmes do marido e ela mesma realizadora por direito próprio. Tem uma construção coral, uma multiplici­dade de personagens cujas histórias se vão desenvolvendo e engrenando no turbilhão de uma retirada como nunca ocorrerá, gentes do povo, marginais, soldados e vivandeiras, gente que se perdeu dos seus e bandos à solta que combatem por conta própria. Há quem esteja ancorado no real históri­co e há liberdades poéticas (como a amável caricatura da deliciosa cena das vedetas — Micheí Piccoli, Isabelle Huppert, Chiara Mastroianni e Cathe­rine Deneuve, a quem Saboga faz o clin d'oeil de chamar Severina, como no "Belle de Jour"). Há quem ame, quem se enforque, quem se venda, quem enlouqueça e quem mude de vi­da — tudo contado numa narrativa de evidente competência, a todos os ní­veis. É uma magnífica produção, mui­to difícil porque quase sempre em exte­riores, artilhada por uma impecabilíssima direção de arte assinada por Isabel Branco e sustentada no trabalho dos intérpretes, vasta galeria onde faço questão de destacar Nuno Lopes, que volta a mostrar ser um dos maiores atores portugueses deste tempo.

ATUAL – Jorge Leitão Ramos
Jornal Expresso | 5 Outubro 2012


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O filme
O épico errante

E erra tanto, como as personagens e os figurantes. Multidão desvalida, erran­te, que caminha à frente das tropas francesas que lhes desalojavam as casas e pilhavam os celeiros, no encalço da proteção anglo-portuguesa. A política da terra queimada era fogo amigo. Portanto, o épico português que tanto se anunciava, presente na competição oficial em Veneza, não obstante a morte do seu realizador Raul Ruiz (e herdado pela viúva Valeria Sarmiento), é uma história de caminhantes, tão fandangos, quanto a sua tropa. Mas depois também há sitiantes, permanecentes, perdidos e achados, estrangeiros, sargentos, estro­piados, cavalos, prostitutas, viúvas, men­dicantes, desertores, padres demenciais, negociantes, loucas, meninos sem sapa­tos... Tudo «passa». Só não se «passa» o que normalmente se «passa» em filmes de guerra: não há uma batalha que seja. O filme começa no campo fumegante do Buçaco, com cadáveres e feridos a se­rem espoliados, e depois é só andanças, «faianças», alguma escaramuça e uns quantos tiros de canhão. Outro aspeto bizarro é a personagem que dá título ao filme (e à façanha da construção das linhas fortificadas que travaram os franceses) desaparecer a meio do filme - além do facto de ser interpretado por um ator - John Malkovich -com quase 60 anos, quando o real protagonista teria menos 20. Tudo é barafunda, caos, e as personagens perdem-se, e nós pró­prios, quando as reencontarmos, lá mais adiante, já pouco nos lembramos ao que elas iam. E se era relevante a sua ida. Como «patada no formigueiro» não está nada mal. Mas depois esperava-se que as formigas-povo e as formigas-soldado retomassem algum rumo no argumento. O filme tem bons momentos, sem dúvi­da, mas o resultado não corresponde à real quantificação da sua soma. Quem vai à guerra dá e leva, e apesar de não a vermos, esta foi uma batalha vencida.

Ana Margarida de Carvalho
VISÃO, 4 de Outubro de 2012



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