Estreado em 4 de Outubro, é um filme que não reúne consensos de apreciação.
Vejamos duas opiniões que encontrámos na imprensa nacional:
(…)
"Linhas de
Wellington" é um filme que decorre no período de cerca de três semanas que
medeia entre a batalha do Buçaco e o momento em que Massena inspeciona
pessoalmente as Linhas de Torres e verifica a sua inexpugnabilidade com os
meios de que dispunha. A iniciativa de o fazer coube ao produtor Paulo Branco,
que comanditou o argumento a Carlos Saboga, passou por dois realizadores
indigitados (Luís Filipe Rocha e Raul Ruiz)
— que não chegaram à fase de rodagem — e acabou materializada por Valeria Sarmiento,
viúva de Ruiz, montadora fiel dos filmes do marido e ela mesma realizadora por
direito próprio. Tem uma construção coral, uma multiplicidade de personagens
cujas histórias se vão desenvolvendo e engrenando no turbilhão de uma retirada
como nunca ocorrerá, gentes do povo, marginais, soldados e vivandeiras, gente
que se perdeu dos seus e bandos à solta que combatem por conta própria. Há quem
esteja ancorado no real histórico e há liberdades poéticas (como a amável
caricatura da deliciosa cena das vedetas — Micheí Piccoli, Isabelle Huppert,
Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve, a quem Saboga faz o clin d'oeil
de chamar Severina, como no "Belle de Jour").
Há quem ame, quem se enforque, quem se venda, quem enlouqueça e quem mude de vida
— tudo contado numa narrativa de evidente competência, a todos os níveis. É
uma magnífica produção, muito difícil porque quase sempre em exteriores,
artilhada por uma impecabilíssima direção de arte assinada por Isabel Branco e
sustentada no trabalho dos intérpretes, vasta galeria onde faço questão de
destacar Nuno Lopes, que volta a mostrar ser um dos maiores atores portugueses
deste tempo.
ATUAL – Jorge
Leitão Ramos
Jornal Expresso | 5
Outubro 2012
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O filme
O épico errante
E erra tanto, como
as personagens e os figurantes. Multidão desvalida, errante, que caminha à
frente das tropas francesas que lhes desalojavam as casas e pilhavam os
celeiros, no encalço da proteção anglo-portuguesa. A política da terra queimada
era fogo amigo. Portanto, o épico português que tanto se anunciava, presente na
competição oficial em Veneza, não obstante a morte do seu realizador Raul Ruiz
(e herdado pela viúva Valeria Sarmiento), é uma história de caminhantes, tão fandangos,
quanto a sua tropa. Mas depois também há sitiantes, permanecentes, perdidos e
achados, estrangeiros, sargentos, estropiados, cavalos, prostitutas, viúvas,
mendicantes, desertores, padres demenciais, negociantes, loucas, meninos sem
sapatos... Tudo «passa». Só não se «passa» o que normalmente se «passa» em
filmes de guerra: não há uma batalha que seja. O filme começa no campo
fumegante do Buçaco, com cadáveres e feridos a serem espoliados, e depois é só
andanças, «faianças», alguma escaramuça e uns quantos tiros de canhão. Outro
aspeto bizarro é a personagem que dá título ao filme (e à façanha da construção
das linhas fortificadas que travaram os franceses) desaparecer a meio do filme
- além do facto de ser interpretado por um ator - John Malkovich -com quase 60
anos, quando o real protagonista teria menos 20. Tudo é barafunda, caos, e as
personagens perdem-se, e nós próprios, quando as reencontarmos, lá mais
adiante, já pouco nos lembramos ao que elas iam. E se era relevante a sua ida.
Como «patada no formigueiro» não está nada mal. Mas depois esperava-se que as
formigas-povo e as formigas-soldado retomassem algum rumo no argumento. O filme
tem bons momentos, sem dúvida, mas o resultado não corresponde à real
quantificação da sua soma. Quem vai à guerra dá e leva, e apesar de não a
vermos, esta foi uma batalha vencida.
Ana Margarida de
Carvalho
VISÃO, 4 de Outubro
de 2012
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