12/11/10


RESPOSTA A UM LEITOR



Respondemos ao Pedro que nos deixou um comentário com algumas perguntas (não temos o seu mail para contacto mais personalizado).
Resposta breve e sucinta, ao correr da pena, ao mesmo tempo que lhe agradecemos o interesse e as palavras amáveis.

1.      O que o povo comia por trás das Linhas:

Não há uma gastronomia especial das invasões francesas. O povo comia o que sempre comeu: mal!
E comia o que era mais fácil de arranjar: pão e alguma pouca carne ( aves de capoeira, pombos, mais raramente o porco, a ovelha...). O feijão, quando havia, ou o chícharo, uma espécie de leguminosa que se dá nas terras mais pobres das serras. Fruta, era a que apanhava aqui ou ali. Voltou-se a comer o biscoito, que era um pão cozido duas vezes, o que permitia a sua conservação por mais tempo. Ficava rijo como pedra, mas amolecia-se com água ou vinho.
Muita gente morreu de fome nesta época.
O problema das subsistências é tratado em diversa bibliografia que pode encontrar na coluna esquerda deste blogue. Nomeadamente o recentemente publicado livro de Cristina Clímaco, assim como o de André Milícias, "As Linhas de Torres Vedras - Construção e impactos locais".
Mas sublinhamos: tal problema deve ser analisado na globalidade, não há uma “gastronomia por trás das Linhas de Torres Vedras". A subsistência era uma questão que dizia respeito aos exércitos em presença e às populações, era um problema transversal.

(Observação: alguns concelhos da nossa região lançaram a ideia de uma gastronomia das invasões, inventando pratos com nomes um pouco ridículos até. Que nós conheçamos, não há suporte documental para estas invenções, que tiveram sobretudo uma inocente motivação turística...)

2.      Quanto à relação entre a terceira invasão e a queda de Napoleão:

As coisas têm de ser vistas numa perspectiva europeia. E nessa perspectiva, a terceira invasão não teve a projecção que nós, portugueses, lhe damos. Ela foi determinante para nós e para o resto da Península mas não para Napoleão. Para este, a terceira invasão foi um episódio dentro de um mais vasto teatro de guerra que ficou conhecido para os franceses como "Guerra de Espanha". Napoleão nunca percebeu a especificidade do terreno português. Para ele era apenas uma questão de competência dos seus generais para dominarem o cais marítimo que era Portugal, de grande importância estratégica para os ingleses. E ele censurou-os pela sua inabilidade em resolverem o problema português…

A queda de Napoleão em 1815 tem de ser vista à luz da evolução da situação política em França durante os anos do Império e dentro do contexto de alianças entre os diversos países europeus. A terceira invasão de Portugal foi um insucesso importante, sem dúvida, mas não determinante. A invasão da Rússia em 1812 e a desastrosa retirada durante o temível inverno, fugindo à perseguição de uma nação desesperada ( retratada no grande livro de Tolstoi, "Guerra e Paz"), essa sim, terá sido decisiva para o que se seguiu.
São contos largos que nos levariam muito longe…

1 comentário:

Anónimo disse...

hersentembora não responda exactamente à pergunta a leitura de:A Administração Na Guerra Peninsular de Jose Manuel Alves dos Santos (ed: Caleidoscopio) ...irá ajudar a perceber a alimentação na epoca.