09/12/09

BADALADAS - TEXTO Nº 43 - 11 DEZEMBRO 2009





MIGUEL PEREIRA FORJAZ



José NR Ermitão


Quando falamos das Invasões Francesas de que personagens nos lembramos?

Lembramo-nos dos franceses, Napoleão e os generais invasores (Junot, Soult e Massena). Lembramo-nos dos ingleses, Wellington que os derrotou e Beresford que comandou o exército português.

E de que portugueses nos lembramos? Praticamente de nenhum! Não fomos só invadidos pelos franceses e depois dominados pelos ingleses: fomos também esquecidos dos portugueses que tiveram uma acção política e/ou militar preponderante durante esse período. No entanto, a verdade histórica exige que alguns deles sejam retirados do esquecimento; por exemplo, o estadista Miguel Pereira Forjaz (1769-1827).


Militar de carreira, Miguel Pereira Forjaz foi nomeado por D. João em 1807 para a Regência do Reino, cargo de que se demitiu por se recusar a colaborar com Junot. Expulsos os franceses, integrou de novo a Regência do Reino como Secretário dos Negócios Estrangeiros e Guerra – tendo sido no exercício destas funções que se distinguiu, ao proceder à reforma e reorganização do exército português e ao assumir o papel de ligação com os ingleses.

 De imediato há um equívoco a desfazer: costuma atribuir-se a reorganização do exército a Beresford, que assumiu as funções de Comandante em Março de 1809. Beresford foi disciplinador, implantou novas tácticas, reforçou o treino militar, nomeou oficiais eficientes, sugeriu reformas – foi o operacional necessário no momento adequado. Mas já antes, em finais de 1808, Miguel Forjaz tinha iniciado todo o processo de reorganização e reconstrução do exército.

Para isso, ordenou que os militares desmobilizados pelos franceses se apresentassem nos seus quartéis, concedeu perdão aos desertores e chamou às armas os soldados desmobilizados desde 1801. No início de 1809, em resultado de sucessiva legislação da sua autoria:

- estavam definidas as regiões militares do país e nomeados os seus comandantes;

- estavam criados 6 Batalhões de Caçadores; 24 Regimentos de Infantaria; 12 Regimentos de Cavalaria; 4 Regimentos de Artilharia; Corpos de Voluntários em Lisboa, Porto e Coimbra (o Batalhão Académico);

- estavam organizados corpos especiais como o de Engenheiros, o Arsenal Real (produção de armas), o Corpo Telegráfico, a Academia de Fortificações, os Guias do Exército e o Corpo de Informações (com uma bem montada rede de espionagem em Espanha);

- estavam restabelecidos os Regimentos de Milícias (tropa de 2ª linha) e os de Ordenanças (tropa de 3ª linha).

               Como um exército não se improvisa em três meses, havia problemas a nível de oficiais, fornecimentos, armamento, fardamento, disciplina, etc. Mas foi com este exército, entre o apressado e o organizado, que os generais Bernardim Freire e Francisco da Silveira inviabilizaram e derrotaram os planos de Soult (2ª invasão) – antes de qualquer intervenção de Beresford e Wellington.

É este exército, assim estruturado por Miguel Forjaz, que Beresford – ambos sempre em estreita colaboração – vai transformar numa máquina bélica que merecerá todos os elogios de Wellington (que chama aos militares portugueses os “galos de combate” do exército aliado).


Outra das importantes funções de Forjaz - estadista dotado de uma excepcional capacidade de trabalho, determinação e organização - foi a de ser o elemento de ligação entre o comando militar britânico e o governo.

Durante a 3ª invasão apoiou o plano defensivo de Wellington, contra os restantes governadores que preferiam uma acção ofensiva contra Massena. Aliás, Wellington considerou-o como «o único homem em Portugal adequado à função que ocupa» e «como o mais hábil estadista da Península».

Contudo, depois de 1813, com a expulsão dos franceses da Península e o fim de Napoleão, Miguel Forjaz entra em ruptura total com Beresford e os seus planos de reforço militar, que considera desnecessários em tempo de paz. Beresford só permanece porque tem o apoio político da Corte do Rio de Janeiro.

Miguel Forjaz continua no governo até à Revolução Liberal de 1820. Depois disso desaparece da cena política, da história e da memória – até quando?


                                                                                                                                                                                                                      

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