01/03/09

Texto nº 27 ( Jornal BADALADAS, 26 / 02 / 2009 )

SIMÃO JOSÉ DA LUZ SORIANO,
HISTORIADOR DAS INVASÕES FRANCESAS (1)

José NR Ermitão

Há duas obras de importância capital para o estudo das Invasões Francesas: uma delas já foi objecto de artigos anteriores – a História Geral da Invasão dos Franceses... da autoria de José Acúrsio das Neves; a outra é a História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal, da autoria de Simão José da Luz Soriano. Em qualquer estudo sobre o período em questão, são sempre utilizadas e referenciadas pela extensão informativa e documental que veiculam.

O AUTOR
S. J. Luz Soriano (1802-1891) foi educado na Casa Pia que, devido às suas capacidades intelectuais, lhe custeou a frequência da Universidade de Coimbra. Liberal convicto, Soriano exilou-se em 1828, depois do malogro do liberalismo. Fez parte do exército liberal que, primeiro, se apoderou da ilha Terceira, depois desembarcou no Mindelo em 1832, combateu e derrotou o miguelismo e instaurou o regime liberal no país em 1834.
Voltou à universidade, formando-se em Medicina, e iniciou a actividade política co-mo colaborador de Sá da Bandeira (uma das mais prestigiadas figuras do liberalismo) na Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar. Foi defensor da colonização de Angola, província de que foi deputado, e membro do Conselho Ultramarino.
Como historiador, para além da obra mencionada, escreveu entre outras a História do Cerco do Porto (1849), a História do Reinado de D. José e da Administração do Marquês de Pombal (1867) e a Vida do Marquês Sá da Bandeira (1888); publicou ainda uma autobiografia, Revelações da minha vida…, em 1860.

A HISTÓRIA DA GUERRA CIVIL...
O título da obra é tão extenso quanto a própria obra, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal compreendendo a história diplomática, militar e política deste reino desde 1777 até 1834. É constituída por 19 volumes, sendo 7 deles, do 4.º ao 10.º (cerca de 5000 páginas!), directamente dedicados às invasões francesas e guerra peninsular. A monumentalidade e a exaustividade, juntamente com uma exposição pouco metódica, uma escrita seca e longos excursos introdutórios, são as suas características externas mais evidentes.
Embora indique o ano de 1777 (subida de D. Maria I ao trono) como início da obra, antecede-o de uma vasta introdução de 200 páginas com uma síntese da história de Portugal, e refere aspectos do reinado de D. José e da actuação do Marquês de Pombal, pois «o reinado de D. José foi seguramente o do primeiro germen das referidas ideias (liberais) entre nós, pois que as reformas ou medidas decretadas pelo... ministro (Marquês de Pombal)... foram... do mais alto e rasgado progresso social...»; ou, como diz de outro modo, «O Marquês de Pombal abate com a clava da sua omnipotência as classes da nobreza e do clero, dando consideração às mais inferiores e desprezadas, medidas estas que o apresentam como altamente revolucionário, com relação ao tempo em que viveu».
A obra resultou de uma encomenda estatal e teve como objectivo concreto a elaboração de um panorama global e unitário da história do período em questão, até ai divulgada em obras mais ou menos parcelares. Esta necessidade de uma obra unitária entrosa-se quer com o papel que era atribuído à história na formação do homem liberal, quer com a necessidade de justificar e defender historicamente a inevitabilidade do próprio movimento liberal – tem pois uma evidente função ideológica.
Luz Soriano, para a sua elaboração, consultou não só as obras publicadas no seu tempo sobre os temas tratados, como teve acesso livre aos arquivos dos diversos ministérios. Reuniu assim uma massa de dados, informações, interpretações e documentos absolutamente inultrapassável e que faz dela uma obra de consulta obrigatória para o estudo do período que vai do reinado de D. José até ao estabelecimento do liberalismo, «seguramente a época mais importante da nossa história pátria, por ser o da maior ilustração e civilização, a da nossa diplomacia moderna, e a das nossas guerras externas e civis, a par da do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal».

(Continua em próximo artigo)




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