23/03/09

Texto nº 28 (Jornal BADALADAS, 20 / 03 / 2009)


SIMÃO JOSÉ DA LUZ SORIANO,

HISTORIADOR DAS INVASÕES FRANCESAS (2)

JOSÉ NR ERMITÃO

1.
No anterior artigo referi que dos 19 volumes que compõem a História da Guerra Civil... sete (do 4.º ao 10.º volumes) são dedicados às invasões francesas e guerra pe-ninsular. No entanto, os 3 primeiros são também importantes pois neles são descritas as movimentações diplomáticas e militares do país no quadro da situação político-militar eu-ropeia resultante da Revolução Francesa e que desembocaram na 1.ª invasão.
Neles critica quer o oportunismo da Inglaterra, que tanto invoca a aliança com Portugal como a seguir o despreza, segundo os seus interesses, quer a incapacidade do regime absolutista e a sua subserviência para com aquele país. Sobre o governo diz «(os povos estavam) magoados de verem conduzir a nação de ruína em ruína, sacrificada aos caprichos de um governo despótico, ordinariamente inepto e corrupto»; sobre o príncipe regente, futuro João VI, chama-lhe «frouxo e irresoluto», «inexperiente e incapaz de to-mar por si uma resolução... a sua natural irresolução era acompanhada de muita dissimulação... bem longe de promover a união ministerial o regente adoptou o sistema oposto».
As relações com os ingleses e os seus actos são em geral assim referidos: «... sua subserviência (do governo português) para com o inglês e humilhações e vexames por que este o fez passar»; «...má disposição do governo inglês em nos auxiliar»; «duro abandono em que a Inglaterra deixou ficar este reino em tão triste conjuntura...» Enfim, se os franceses eram rapaces, a perfídia inglesa não lhes era inferior, nem a rapacidade britânica sobre a Madeira e a Índia portuguesa foi menor...
Sobre a ida para o Brasil da família real e governo tem uma posição muito crítica: «A família real..., desejando evitar o golpe que tão seriamente a ameaçava, procurou precipitada abandonar a foz do Tejo; e como porta que abriu para novas, mais pesadas e duradouras desgraças, a nação viu... que o governo, em vez de se abrigar a qualquer ilha do Atlântico, se tinha deixado arrastar pelos insidiosos conselhos ingleses, indo transformar os sertões do Brasil em largos campos de ruína para este reino...». Note-se o anti-inglesismo do autor, que não perde uma oportunidade para o afirmar.
2.
O 4.º, 5.º e 6.º volumes incidem sobre as Invasões e os acontecimentos que lhes são consequentes ou coetâneos; o 7.º e 8.º volumes referem a continuação da guerra mas no quadro hispânico; o 9.º e 10.º contêm o conjunto de documentos de suporte dos volumes anteriores.
Apesar de caracterizar a presença francesa em termos de violência, pilhagem, roubo, tirania e perda da independência nacional e de assinalar bem a revolta popular contra ela, vê também as consequências positivas da sua presença, na perspectiva da afirmação das ideias liberais: «Foi então que as armas do imperador dos franceses nos trouxeram os verdadeiros e mais profundos germens das novas e liberais doutrinas, li-gando os naturais do país em associações secretas e políticas, que pouco a pouco se foram ramificando e estendendo entre as pessoas de maior reputação e mérito nas superiores classes da sociedade, particularmente entre militares».
3.
Os movimentos de sublevação popular, que formam juntas governativas locais e restauram a soberania nacional por todo o Norte e Sul do país, são descritos com pormenor, como também as suas debilidades: a desunião entre as diferentes juntas, a falta de comunicação entre elas, a sua fraqueza militar e os tumultos populares, sobretudo no Norte, que num caso ou outro põem em causa a estrutura socio-política vigente. A par da violência repressiva de Loison refere também a capacidade da guerrilha, em Mesão Frio, que o acossa e obriga a retroceder. Escreve: «... a nação portuguesa... não hesitou em prontamente se levantar contra o jugo estrangeiro com tal união e força... e tão feliz êxito que restituiu Portugal à sua antiga independência... (mas) não seria fácil alcançá-lo... se não tivesse sido precedida da insurreição espanhola e sobretudo apoiada pelos ingleses... vindo (estes) a identificar com a nossa, a defesa da sua mesma causa».

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